O Projeto Sanear Amazônia, coordenado pelo Memorial Chico Mendes e executado em parceria com a Associação dos Produtores Rurais de Carauari (ASPROC), realizou recentemente uma importante ação de apoio às comunidades ribeirinhas do município de Manicoré, no Amazonas. Entre os dias 15 e 17 de outubro, foram entregues mais de 25 tecnologias sociais para as famílias locais a enfrentarem os desafios da seca histórica que atinge a região.
As comunidades contempladas incluem São Raimundo, que recebeu um sistema de abastecimento comunitário de água para a várzea, e a comunidade Igarapé Grande, que recebeu os sistemas autônomos e comunitário de Terra firme.
“Íamos buscar de noite lá no rio. Era perigoso. Teve uma vez aqui em casa que eu ri, mas depois chorei, porque a água só pingava na caixa. Dormíamos sem tomar banho e só tínhamos um pouquinho para beber. Já pensou? Pouca água para tanta gente. A gente ficou feliz, trabalhamos muito, mas valeu a pena”, declarou Suely de Oliveira Trindade, moradora da comunidade Igarapé Grande.
Tecnologia social refere-se ao conjunto de técnicas e metodologias transformadoras desenvolvidas em interação com a população e apropriadas por ela, oferecendo soluções para inclusão social e melhoria das condições de vida. O conceito abrange uma variedade de práticas e inovações acessíveis e sustentáveis, especialmente focadas em áreas com dificuldades de acesso a recursos essenciais, como água potável.
“O projeto Sanear transforma a vida da população de diversas maneiras, como na saúde e no bem-estar, promovendo qualidade de vida e empoderando a comunidade. Os membros da comunidade são capacitados na gestão de sistemas, o que cria um senso de pertencimento e responsabilidade, fortalecendo os laços sociais e o engajamento cívico naquele ambiente”, afirmou o engenheiro civil da MCM e coordenador do projeto, Willians Santos.
Esta iniciativa tem a gestão do Memorial Chico Mendes, a articulação do CNS, a execução da
Associação dos Produtores Rurais de Carauari (Asproc) e financiamento do Governo Federal/MDS.
Sobre a tecnologia e seus sistemas
A tecnologia social capta água da chuva, de rios ou de poços artesianos, realiza seu tratamento e a distribui para o consumo humano. O objetivo é garantir água em quantidade e qualidade para as famílias, promovendo saúde, saneamento, bem-estar e privacidade.
“A tecnologia contribui muito, oferecendo a comodidade de utilizá-la em casa, o que beneficia o bem-estar e a saúde“, compartilhou Sônia Santos, beneficiária da comunidade São Raimundo.
Para isso, cada instalação conta com banheiro equipado (fossa, chuveiro, lavatório, vaso sanitário) e uma pia de cozinha para higienização e preparo de alimentos. Há dois modelos principais para esses sistemas:
Sistema Familiar Autônomo: Neste sistema, cada família tem um reservatório individual elevado de 1.000 litros, além de um reservatório adicional de 5.000 litros. A água é captada do telhado e passa por um dispositivo de descarte da primeira água da chuva. Este sistema fornece três pontos de água no banheiro e uma pia de cozinha externa, beneficiando diretamente cada lar.
Sistema Comunitário: Este modelo usa fontes de água adicionais, como rios ou poços artesianos, com tratamento simplificado e um reservatório comunitário de 15.000 litros, além de reservatórios familiares de 1.000 litros que captam água da chuva. A rede de distribuição leva água às residências, que também recebem pontos de uso no banheiro e na cozinha.
Esses sistemas são especialmente adaptados para atender à realidade das várzeas e das terras firmes da região. As várzeas são áreas alagadas sazonalmente, enquanto as terras firmes permanecem secas o ano todo, exigindo tecnologias adaptadas a essas diferenças ambientais. Com essas ações, o Projeto Sanear Amazônia fortalece a resiliência e melhora as condições de vida das comunidades.
“Esse sistema é composto por várias partes interconectadas que trabalham em conjunto para garantir que o saneamento eficiente e sustentável chegue à população, incluindo a implementação de infraestrutura de saneamento básico com fossas sépticas e tratamentos adaptados às condições locais. Além disso, são realizados programas de educação e capacitação para a comunidade, abordando temas como higiene, manejo de resíduos e a importância do saneamento, visando promover uma mudança de comportamento sustentável na população”, detalhou Willians.
Essas iniciativas representam um passo importante na construção de infraestrutura adaptada às realidades locais, reforçando a resiliência das comunidades de Manicoré frente aos desafios ambientais e promovendo acesso à água de forma sustentável.
O Sanear Amazônia
O programa tem o objetivo de promover acesso a água para o consumo humano em comunidades extrativistas da Amazônia, por meio da disponibilidade das tecnologias sociais Sistema de Acesso à Água Pluvial Multiuso Comunitário e Sistema de Acesso à Água Pluvial Multiuso Autônomo.
É uma proposta que assegura o abastecimento de água potável para famílias extrativistas de forma direta. O impacto indireto é reverberado por meio da replicação das melhores práticas adotadas para a totalidade da população nas áreas consideradas.
A implantação da tecnologia social no Projeto Sanear Amazônia segue um processo estruturado que envolve diversas etapas. A primeira fase é de mobilização, seleção e cadastramento das famílias beneficiadas, feita por meio de assembleias, reuniões e visitas.
Em seguida, os beneficiários passam por uma etapa de capacitação em duas áreas fundamentais. Na área de saneamento e saúde ambiental, eles aprendem sobre o uso adequado da tecnologia social, a gestão da água, cuidados com o meio ambiente e práticas de saúde que serão impactadas positivamente pelo novo sistema. Já na área de construção dos componentes físicos da tecnologia social, as equipes responsáveis pelas obras recebem instruções sobre a construção de placas e pilares pré-moldados, montagem de banheiros, fossas e a instalação do sistema hidráulico, além de orientações sobre a manutenção da tecnologia para garantir sua durabilidade.
A última etapa envolve a construção dos componentes físicos e a instalação do sistema. Nesse momento, é feita a instalação da caixa d’água sobre um tablado de madeira elevado, a construção do banheiro e seus acessórios, e a construção da fossa sanitária e dos sistemas de distribuição de água.
Sobre o Memorial Chico Mendes
O Memorial Chico Mendes, fundado em 1996 pelo CNS (Conselho Nacional das Populações Extrativistas), é uma organização sem fins lucrativos dedicada à preservação do legado do ativista ambiental Chico Mendes e à promoção de projetos sociais e ambientais na Amazônia. Através de diversas iniciativas, buscamos contribuir para o desenvolvimento sustentável e a melhoria da qualidade de vida das comunidades extrativistas.