Sistema de Acesso à Água potável na Amazônia recebe prêmio da Fundação Banco do Brasil

Asproc recebe o Prêmio Fundação Banco do Brasil de Tecnologia Social 2015

Asproc recebe o Prêmio Fundação Banco do Brasil de Tecnologia Social 2015

O Sistema de Acesso à Água Pluvial para Consumo das Comunidades Extrativistas foi o vencedor do Prêmio Fundação Banco do Brasil de Tecnologia Social 2015, realizado na última terça (10) em Brasília.  Foram 866 inscrições, desse total, 154 práticas foram certificadas e 18 disputaram o título em seis categorias. A tecnologia social desenvolvida pela Associação do Produtores Rurais de Carauari – Asproc em parceria com o Conselho Nacional das Populações Extrativistas – CNS e apoio técnico da Universidade de Brasília – UNB foi a iniciativa vencedora entre três finalistas na categoria Comunidades Tradicionais, Agricultores Familiares e Assentados da Reforma Agrária.

O objetivo da premiação, realizada a cada dois anos pela Fundação Banco do Brasil, é identificar, certificar, premiar e difundir tecnologias sociais já aplicadas, implementadas em âmbito local, regional ou nacional, que sejam efetivas na solução de questões relativas a alimentação, educação, energia, habitação, meio ambiente, recursos hídricos, renda e saúde. O prêmio é um reconhecimento pelo trabalho desenvolvido na Amazônia para comunidades extrativistas que sofrem com a falta de políticas públicas que atendam suas demandas.

Tecnologia Social construída em reserva extrativista no Acre

Tecnologia Social construída em reserva extrativista no Acre

A tecnologia social de acesso à água é, atualmente, implementada pelo Memorial Chico Mendes em quatro estados da Região Norte através do projeto Sanear Amazônia, com financiamento do Ministério de Desenvolvimento Social e Combate à Fome – MDS. Serão 2.800 famílias extrativistas beneficiadas diretamente com a construção do sistema e mais de 8.000 famílias impactadas indiretamente por meio da replicação das melhores práticas de higiene e cuidado com a água adotadas ao longo do desenvolvimento do projeto. Para o presidente da Asproc, Flávio do Carmo, “estar entre as finalistas é uma vitória. Saber que um projeto que foi implementado em uma região tão isolada como a nossa, com a participação dos ribeirinhos, deu certo e foi reconhecido em nível nacional nos motiva ainda mais”.

Os benefícios extrapolam o acesso à água. Em muitas comunidades, por exemplo, a evasão escolar apresenta altos índices devido às doenças contraídas por verminoses que atingem principalmente as crianças. Para Maria Cléia, moradora da Reserva Extrativista Terra Grande, localizada no município paraense de Curralinho, os ganhos com o tecnologia social representam também um alívio: “quando estiver tudo pronto, eu vou ter a comodidade de ter água, banheiro, encanamento e uma fossa na minha casa. Não vou precisar levar as crianças para banhar no rio, ou carregar baldes de lá até minha casa, porque já vai ter tudo aqui”.

O Sanear Amazônia é articulado e executado em parceria com entidades locais, observando as peculiaridades de cada comunidade, estimulando a participação social ativa dos comunitários na apresentação e resolução dos problemas causados pela falta de água e saneamento básico. Além da construção do sistema que garante acesso, reserva e distribuição de água potável às famílias, o projeto prevê também oficinas sobre Gestão da Tecnologia Social e Gestão Responsável da Água.

Prêmio e Banco de TS

Realizado a cada dois anos, o Prêmio tem como objetivo certificar e difundir tecnologias sociais já aplicadas e ainda em atividade, em âmbito regional ou nacional, que se constituam em efetivas soluções para questões relativas à água, alimentação, educação, energia, geração de renda, habitação, meio ambiente e saúde.

As certificadas passam a integrar o Banco de Tecnologias Sociais (BTS) da Fundação BB, que soma agora um total de 850 iniciativas. O BTS é uma base de dados online que reúne metodologias reconhecidas por promoverem a resolução de problemas comuns às diversas comunidades brasileiras. No BTS, as Tecnologias Sociais desenvolvidas por instituições de todo o País podem ser consultadas por tema, entidade executora, público-alvo, região, UF, dentre outros parâmetros de pesquisa

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Representantes da Asproc e professor Ricardo Silveira, da UNB na premiação

Os critérios observados  para a classificação são nível de envolvimento da comunidade; transformação social proporcionada; potencial de reaplicação e inovação social, de acordo com o regulamento. A pontuação atribuída pelos membros da Comissão Julgadora é conferida por auditores independentes. Os recursos deverão ser destinados a atividades de expansão, aperfeiçoamento ou reaplicação da tecnologia social premiada.

 

Tecnologia Social de Acesso à Água concorre a prêmio da FBB

Entre 18 finalistas, divididos em seis categorias, o  Sistema de Acesso à Água Pluvial para Consumo das Comunidades Extrativistas disputa com um projeto do Instituto de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá (IDSM), também do Amazonas, e outro de São Paulo o prêmio na categoria Comunidades Tradicionais, Agricultores Familiares e Assentados da Reforma Agrária no Prêmio Fundação Banco do Brasil de Tecnologia Social 2015.

O Sistema de Acesso à Água está sendo implementado pelo Memorial Chico Mendes, através do projeto Sanear Amazônia, em quatro estados da região Norte. Além de Carauari, no Amazonas, onde começou a ser desenvolvido, a tecnologia social está em construção em comunidades do Pará (na região do Marajó), Amapá e Acre, beneficiando milhares de famílias extrativistas. A tecnologia social foi elaborada pela Associação dos Produtores Rurais de Carauari – Asproc com apoio técnico da Universidade de Brasília – UNB.

Seu Ronilson, morador da Comunidade São Pedro na Resex Tapajós-Arapiuns, foi sorteado e ganhou um Sistema de Acesso à Água em sua casa

Seu Ronilson, morador da Comunidade São Pedro na Resex Tapajós-Arapiuns, foi sorteado durante o II CHamado da Floresta e ganhou um Sistema de Acesso à Água em sua casa

Os ganhos em saúde, qualidade de vida, segurança alimentar e educação são os principais indicativos de que o projeto está mudando vidas na Amazônia. A intenção é de expandir o projeto para mais reservas na região nos próximos anos em parceria com o Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome – MDS firmada durante o III Chamado da Floresta, promovido pelo Conselho Nacional das Populações Extrativistas – CNS e realizado no final de outubro em Santarém.

Para Adevaldo Dias, presidente do Memorial Chico Mendes, “a oportunidade é um reconhecimento do esforço realizado com a participação social direta das comunidades, mas também um incentivo para continuar o trabalho”. A cerimônia de premiação da Fundação Banco do Brasil ocorre hoje (10) em Brasília.

Assista ao vídeo produzido pela Fundação Banco do Brasil sobre, CLIQUE AQUI.

“Vamos tomar água boa e poder tomar banho dentro de casa”

ACESSO À ÁGUA

Graças ao projeto Sanear Amazônia, o sonho da família Silva de ter água de qualidade e saneamento básico se realizou

Publicado 09/11/2015 17h33

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Maria das Dores e João Jorge agora têm água limpa em casa. Foto: Ubirajara Machado/MDS

Brasília – O dia de Maria das Dores Salustiano da Silva, 36 anos, é cheio. Limpa a casa, lava a roupa, planta milho, arroz, faz almoço e cuida dos filhos. Da terra conquistada na Reserva Extrativista Chico Mendes, no seringal Filipino, em Brasiléia (AC), o marido João Jorge Melo Souza, 53, tira a castanha do Pará, planta grãos e hortaliças e cria galinhas e algumas cabeças de gado para leite e corte. Como dona Maria gosta de dizer: a vida é boa.

E agora, ficou ainda melhor, com um sonho realizado. Há 20 anos morando na região, os Silva finalmente tem a oportunidade de ter um banheiro completo e água limpa para beber. A dona de casa conta que não via a hora de usar o banheiro de alvenaria e o chuveiro. “Agora vai melhorar. Vamos tomar água boa e poder tomar banho dentro de casa”, conta com brilho nos olhos e sorriso largo. Até então, a família Silva usava o banheiro de fossa e tomava banho de balde.

A família foi beneficiada com a tecnologia de captação de água da chuva do Sanear Amazônia, um projeto que está levando água de qualidade e saneamento básico para 2,8 mil famílias de oito reservas extrativistas da região. Ao todo, o Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome (MDS) está investindo R$ 35 milhões em tecnologias sociais para captação, tratamento e uso da água da chuva no Norte do país.

Apesar da abundância de água na região Amazônica, a população de baixa renda não tem acesso à água potável. Como a regularidade da chuva lá é grande, os sistemas implantados pelo projeto permitem melhor aproveitamento da água pluvial, que reservada e tratada de forma adequada é própria para o consumo e outros usos domésticos.

Maria das Dores é beneficiária do Bolsa Família e recebe R$ 240 por mês. O dinheiro é usado para comprar roupas e sapatos para os dois filhos –de 11 e 14 anos – e completar a alimentação com verduras. “Tudo que a gente planta aqui é para nosso consumo. Às vezes a gente vende uma criação para conseguir um dinheiro a mais. Se não fosse esse dinheiro a gente passaria dificuldade.”

Com tantos sonhos se realizando, ela vê sua vida na reserva melhorando a cada dia. “Temos tudo. Eu gosto daqui e não tenho vontade de mudar para lugar nenhum”. E, como toda mãe, ela não se esquece dos filhos. “Quero que eles estudem e tenham uma vida feliz.”

Informações sobre os programas do MDS:
0800-707-2003
mdspravoce.mds.gov.br

Informações para a imprensa:
Ascom/MDS
(61) 2030-1021
www.mds.gov.br/area-de-imprensa

 

Organização social mantém conservação do pirarucu no Amazonas

De carne saborosa e muito apreciada, o pirarucu é um peixe nativo da Amazônia e um dos símbolos de alimentação na região O Arapaima gigas (nome científico da espécie) é também um dos maiores peixes de água doce do planeta. O nome popular, oriundo de termos indígenas, foi dado devido à cor de sua cauda: pira, “peixe”, e urucum, “vermelho”. Mas a história do pirarucu esteve perto do seu fim. Por causa da pesca desordenada (sobrepesca), a espécie entrou em risco de extinção. Hoje, diversos órgãos ambientais, pesquisadores e pescadores socialmente organizados trabalham o manejo sustentável da espécie, garantindo não apenas a conservação do pirarucu, mas também o ganho econômico de milhares de famílias que comercializam o pescado no Amazonas.

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Foto: Suzy Barros

A espécie vive em lagos e rios afluentes de toda bacia Amazônica, podendo ser encontrado, preferencialmente, em ambientes de florestas alagadas, tanto várzeas quanto igapós. Por isso, para o manejo, é necessário classificar os lagos. Através de um zoneamento participativo, os pescadores falam sobre suas áreas de uso e, com o auxílio dos técnicos, dividem em três categorias: lagos de preservação (específicos para reprodução, manutenção e crescimento das espécies de peixes, onde a pesca é proibida por tempo indeterminado, exceto para pesquisas); lagos de manutenção (uso das comunidades para subsistência); lagos de comercialização (destinados a pesca comercial do pirarucu e demais espécies, respeitado o tamanho mínimo).

Após a delimitação da área de manejo e classificação dos lagos de acordo com o uso, os pescadores experientes e qualificados realizam a contagem do pirarucu. O método de contagem foi desenvolvido por Leandro Castello, em 2002, devido a adaptação do pirarucu para habitar áreas de floresta alagada e por conta de sua estrutura física “A espécie possui uma bexiga natatória modificada que permite a respiração aérea, para isso o pirarucu vai até a superfície da água para armazenar ar, possibilitando ao pescador a realização da contagem de indivíduos existentes no lago em questão”, explica Monique Brasil, bióloga da Secretaria Executiva de Pesca e Aquicultura do Amazonas (Sepa).

 

Foto: Suzy Barros

Foto: Suzy Barros

A partir dessa contagem, é liberada, pelo Ibama, a cota de captura que não pode exceder 30% dos indivíduos adultos contados: “Em um cenário de sobrepesca da espécie, e com grande volume de pescas clandestinas que não respeitam o período de reprodução da espécie e o tamanho mínimo, o manejo é de fundamental importância para a conservação do pirarucu. Essa estratégia, tem seu início com a vigilância de lagos contra invasores e suspensão da pesca do pirarucu durante alguns anos para a recuperação do estoque”, comenta a bióloga.

Organização social

Reunião com os chefes de família da comunidade para definir os últimos encaminhamentos acertos antes da pesca. Foto: Suzy Barros

Reunião com os chefes de família da comunidade para definir os últimos encaminhamentos acertos antes da pesca. Foto: Suzy Barros

O manejo sustentável do pirarucu é possível, hoje, graças ao trabalho em conjunto dos órgãos ambientais que regulamentam a atividade, pesquisadores e associações, cooperativas e diversas organizações de pescadores. Cursos e oficinas de capacitação integram o processo de manejo sustentável para que a comunidade esteja consciente da importância da conservação da espécie e das domine as técnicas adequadas para o manejo. Segundo Brasil, “na RDS Mamirauá, por exemplo, são oferecidas capacitações de agentes ambientais voluntários, cursos de contadores, oficinas de monitoramento, oficinas de comercialização, oficinas de qualidade do pescado, entre outras”.

Em Carauari, cidade localizada no Médio Juruá, a Associação dos Produtores Rurais de Carauari – Asproc é que organiza o manejo sustentável de pescados. As comunidades ribeirinhas envolvidas com a preservação dos ambientes aquáticos e combate à pesca predatória, na região, já comercializaram parte do resultado no manejo no município em outubro: foram 7 toneladas de peixe, sendo 3,5 toneladas de tambaqui, 2,5 de pirapitinga e 1,1 de pirarucu. Em 2015, a pesca manejada será realizada em apenas 7 comunidades, beneficiando moradores da RDS Uacari e RESEX do Médio Juruá que participaram da preservação. A cota, estabelecida pelo Ibama, é de aproximadamente 72 toneladas de pirarucu, cerca de 20% a mais que 2014.

A produção é principalmente voltada para abastecer a região metropolitana de Manaus e cidades mais próximas às áreas manejadas, mas uma parte dela também é consumida em outras regiões do Brasil e até no exterior. ”Além disso, todas as partes do pirarucu são aproveitadas, hoje em dia já existe mercado para o comércio da língua e da pele”, comenta Monique.

Uma das etapas do processo de manejo do pescado, coordenado pela associação, é a comercialização do peixe após a captura. Para Adevaldo Dias, coordenador de projetos da Asproc, como ainda não existe a estrutura necessária para garantir o processamento e armazenamento adequado do pescado, apenas cerca de 8% são comercializados com os consumidores locais de Carauari: “O volume restante é vendido em Manaus, ou para comerciantes do município que mandam o peixe para a capital”.

Histórico

Na década de 1990, os órgãos ambientais se depararam com um cenário de sobrepesca (pesca desordenada) da espécie, Foi, então, criada a legislação que determinava o tamanho mínimo do pescado para captura. Segundo a bióloga, a fiscalização insuficiente permitiu que o cenário permanecesse o mesmo. Posteriormente, o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente (Ibama) estabeleceu o defeso da espécie, suspendendo a pesca durante quatro meses do ano, pelo mesmo motivo não foi uma medida satisfatória. Diante disso, em 2005 a pesca do pirarucu foi proibida no estado do Amazonas.

Paralelamente à criação de legislações que protegessem a espécie, um grupo de pesquisa que estudava uma reserva biológica muito rica em biodiversidade no Médio Solimões, passou a desenvolver estudos visando compreender melhor a biologia e ecologia do pirarucu. Em 1999, a reserva biológica Mamirauá, se tornou a primeira Reserva de Desenvolvimento Sustentável (RDS) estadual e pediu ao Ibama que liberassem a pesca do pirarucu na área para uma experiência de manejo na região.

 

Encontro na UnB marca 30 anos de luta do CNS

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CONVITE

Neste ano de 2015 o I Encontro Nacional de Seringueiros da Amazônia, que teve Chico Mendes   como   um   dos   protagonistas,   completa   30   anos   e  o   NEAz  quer  marcar esse acontecimento com uma atividade que resgate a história, realize o debate, ainda atual, sobre a defesa da floresta e das águas e apresente os desafios e perspectivas dos povos e populações da Amazônia.

O  I  Encontro  Nacional  de  Seringueiros  da  Amazônia  foi  realizado  na  Universidade de Brasília, de 11 a 17 de outubro de 1985. Este Encontro foi palco da criação do Conselho Nacional dos Seringueiros (CNS), resultado da incansável luta em defesa dos direitos dos trabalhadores e trabalhadoras liderada por Chico Mendes e outros seringueiros e povos da floresta, do campo e das águas.

A atividade denominada Encontro Nacional de Seringueiros da Amazônia: 30 anos de organização e luta será composta por um ato às 9:30 horas do dia 15 de outubro de 2015.  Este ato  pretende  reunir  atores  que  contribuíram  para  a  construção  do  I  Encontro  e  do CNS, resgatando a história e apontando desafios atuais e perspectivas para a região. Às 14 horas será realizada uma roda de conversa cujo objetivo é contribuir na construção de uma agenda de ensino, pesquisa e extensão para a Amazônia, com a participação de membros da comunidade acadêmica e de movimentos e entidades sociais.

Gostaríamos de convidar todas e todos para participarem dessa atividade que homenageia os 30 anos de organização e luta dos Extrativistas.

Atenciosamente,

Prof. Manoel Pereira de Andrade

Faculdade de Agronomia e Medicina Veterinária

Coordenação do NEAz

Programação:

Hora Atividade
8h00 Recepção e café da manhã
9h00 Exposição Populações Tradicionais e a Biodiversidade / Vídeo sobre o 1º Encontro Nacional dos Seringueiros
9h30 Ato dos 30 anos do I Encontro Nacional dos Seringueiros
12h00 Almoço
 14h00 Contribuições para a construção de uma agenda de ensino, pesquisa e extensão da Amazônia.

 

Povos da floresta se reúnem pela terceira vez na Amazônia para discutir agenda de desenvolvimento

  
Articulado pelo Conselho Nacional das  Populações Extrativistas – CNS, encontro coloca a  população da floresta como protagonista na luta    pela conservação e sustentabilidade
Banner Chamado da Floresta
Nos dias 28 e 29 de outubro, o CNS realiza o  III Chamado da Floresta, encontro que reivindica a pauta extrativista. O Chamado dá continuidade ao movimento que completa 30 anos e  foi iniciado por Chico Mendes quando lutou pela defesa da floresta para os seringueiros no Acre e se espalhou para toda a Amazônia.  A história da entidade se funde com a da Amazônia que, marcada por conflitos entre latifundiários e trabalhadores rurais, ainda hoje testemunha a morte de lideranças e comunitários. Enquanto, por outro lado, estimula a produção que garante ganhos econômicos e possibilita a sustentabilidade das famílias extrativistas.
A partir dessa perspectiva histórica, é que o CNS coordena a realização do Chamado da Floresta. O local escolhido para receber o encontro, como nas edições passadas, é também proposital. A Reserva Extrativista Tapajós-Arapiuns fica a 8 horas de barco e a 45 minutos de transporte aéreo a partir de Santarém, no Pará. “Atar” a rede no barco e se deslocar até a reserva é, sobretudo, para possibilitar aos participantes a oportunidade de conhecer a realidade de quem habita as florestas brasileiras. “Ao invés de levar toda a floresta até eles, por que eles não vem até nós para conhecer a nossa vida? É bem mais produtivo quando você tem contato com a realidade e discute, ali, o que pode ser feito para as pessoas que habitam a floresta”, destaca Manoel Cunha, articulador político do CNS.
Estão inscritas cerca de 3 mil pessoas, 40 entidades parceiras do movimentos social, além de convidados internacionais e da Panamazônia. A disposição dos participantes é que o governo federal atenda as proposições dos extrativistas, como forma de recuperar a dívida social no desenvolvimento de  politicas publicas para a Amazônia e suas populações. A estratégia é chamar a atenção dos mais jovens para a discussão dos pontos prioritários que serão debatidos e discutidos na pauta que será negociada com o governo federal, que são política da Reforma Agrária, produção e geração de renda, infraestrutura básica, saúde e educação.
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Joaquim Belo, presidente do CNS

Através de grupos de trabalho e plenárias, a discussão no Chamado da Floresta gira em torno das propostas de políticas públicas que promovam a inclusão social das populações extrativistas, no mundo dos direitos sociais – a grande maioria vive desprovida dos serviços essenciais do Estado – no direito à saúde, à educação, à segurança, à formalização da produção extrativista. Para Joaquim Belo, presidente do Conselho,  “o Estado brasileiro não pode continuar pensando o desenvolvimento a partir da lógica da produção agrícola, é preciso desenvolver o País a partir do potencial da floresta. E  também pensar em formas de oferecer os serviços de captação e distribuição da água potável, o fornecimento de energia elétrica; habitação rural; entre outros”.

O III Chamado da Floresta ocorre nos dias 28 e 29 de outubro na Comunidade São Pedro, localizada na Reserva Extrativista Tapajós-Arapuins, em Santarém, no estado do Pará. Participam do encontro entidades nacionais, internacionais e  do movimento social brasileiro do segmento extrativista.

Sanear Amazônia debate acesso a água e soberania alimentar

Sanear Amazônia é apresentado durante o ‘3º Encontro Temático: Água e Soberania e Segurança Alimentar e Nutricional’, em São Paulo

Na última quarta (23), o Memorial Chico Mendes participou de encontro entre representantes da sociedade civil e do Governo Federal, em São Paulo, para discutir a água no contexto de segurança e soberania alimentar.  Segundo o conselheiro do Conselho Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional (Consea), Naidison Baptista, entre os assuntos discutidos, estiveram o fortalecimento dos comitês de bacias, a falta d’água pras comunidades tradicionais da Amazônia e a contaminação dos rios com agrotóxicos. Na ocasião, Adevaldo Dias, presidente do Memorial, apresentou o projeto Sanear Amazônia no intuito de  sensibilizar  a sociedade e o governo brasileiro quanto a importância de saneamento e água potável para as famílias extrativistas da Amazônia.

Com a crise da água que atingiu o Centro Oeste recentemente, principalmente São Paulo, a discussão sobre a água torna-se a questão central para a segurança alimentar e nutricional. “O momento é oportuno para pegarmos carona e demonstrar que muitas famílias extrativistas da Amazônia também sofrem por falta de água potável e saneamento” destaca Adevaldo.  Incluir o tema na agenda do governo é fundamental para que, nos próximos anos, a demanda atendida seja superior do que as 2.800 famílias que já estão sendo beneficiadas com o Sanear Amazônia.

“O encontro é entendido como parte de um processo que poderá gerar resultado efetivos futuros. Mas no mínimo já podemos contabilizar como resultado o fato de demonstrar ao governo e a sociedade que temos uma demanda de água de água e saneamento na Amazônia e que existe solução exequível como a que já estamos desenvolvendo” comenta Dias sobre o Sanear Amazônia.

O 3º Encontro Temático: Água e Soberania e Segurança Alimentar e Nutricional é um dos quatro encontros preparatórios para a 5ª Conferência Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional, marcada para novembro, que tem como tema “Comida de verdade no campo e na cidade: por direitos e soberania alimentar”. O último encontro deve ocorrer  no começo do próximo mês, no Maranhão.

 

“É água limpinha da chuva do lado de casa”

Projeto Sanear Amazônia leva água de qualidade e saneamento básico para 2,8 mil famílias de reservas extrativistas da Amazônia

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Fotos: Ubirajara Machado/MDS

Brasília – De longe, na estrada que vai até a Reserva Extrativista Chico Mendes no seringal Porongaba, região de Brasiléia, no Acre, a paisagem da casa do extrativista Francisco Soares de Melo, 51 anos, chama a atenção: duas caixas d’água e o banheiro colorido em laranja e verde. Com um sorriso tímido e olhos de admiração, ele mostra cada canto da nova tecnologia construída pelo Projeto Sanear Amazônia, parceria entre o Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome (MDS) e o Memorial Chico Mendes. “Essa tecnologia chegou em boa hora. É água limpinha da chuva do lado de casa”, comemora seu Francisco.

Duas caixas d’água vão armazenar um total de seis mil litros de água, captada da chuva pelo telhado da residência. Seu Francisco lembra que, por anos, toda a família tomava a água do igarapé, sem nenhum tratamento – situação comum para a população mais pobre da região amazônica. “Os meninos tinham muita dor de barriga quando pequenos. Deve ter sido por causa da água que a gente tomava.” Em 2005, com uma situação financeira melhor, a família conseguiu comprar uma bomba e levar água da fonte até um reservatório.

Além da água de qualidade, o Sanear Amazônia vai garantir saneamento básico às famílias, outro problema na Amazônia. Pequenas casas, afastadas da residência principal, onde ficam as fossas, podem ser vistas na reserva. As famílias convivem com a contaminação do solo e as doenças decorrentes da falta de tratamento do esgoto. Os novos banheiros terão fossa séptica, vaso sanitário e chuveiro. “Vamos deixar de levantar à noite, no sereno, na chuva e até mesmo no meio do sol quente para fazer as necessidades”, conta o extrativista.

Na propriedade, moram Francisco, a esposa Cleonice e uma filha de 7 anos. Os outros três filhos – entre 23 e 25 anos –“já se arrumaram”. “Duas já casaram, o menino foi para o Exército, lá em Rio Branco”, detalha seu Francisco.

A família colhe a castanha-do-Brasil, produto vendido por cerca de R$ 30, a lata, para a Cooperativa Central de Comercialização Extrativista do Acre (Cooperacre). “Depende muito da colheita, mas conseguimos umas 30 latas por mês.” Cleonice complementa a renda com um salário mínimo que ganha como agente comunitário de saúde de Brasiléia. Com carinho, seu Francisco fala sobre a importância do trabalho da esposa. “Ela me ensinou a tratar a água para beber. Colocar o hipoclorito de sódio, por exemplo.”

Para consumo da casa, eles plantam milho, feijão, frutas regionais, e têm algumas ovelhas e cabeças de gado de leite e de corte. “Eu quero aumentar a produção de mandioca e comercializar. Estou planejando isso, o comércio aqui é bom.” Com a vida melhorando, Francisco e Cleonice não escondem o grande sonho. “Meu sonho é ter uma casa boa e um transporte melhor; um carro bom”, diz ele, com as bochechas coradas pela timidez.

Projeto – O Sanear Amazônia vai beneficiar 2,8 mil famílias de oito reservas extrativistas distribuídas em 14 municípios do Acre, Amazonas, Amapá e Pará. As famílias terão acesso à água por meio das tecnologias sociais Sistema de Acesso à Água Pluvial Multiuso Comunitário e Sistema de Acesso à Água Pluvial Multiuso Autônomo. Indiretamente, o projeto deve atingir oito mil famílias.  Ao todo, o governo federal está investindo R$ 35 milhões na ação.

Mais que uma comodidade, o banheiro terá um papel importante na conservação das áreas de floresta das reservas extrativistas. “Com os banheiros de alvenaria, teremos a destinação correta dos dejetos. Essa é a grande importância que esse projeto traz para as 2,8 mil famílias”, ressalta o presidente do Memorial Chico Mendes, Antônio Adevaldo Dias.

Publicado em: http://mds.gov.br/  22/09/2015

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