CNS é convidado para participação em curso de formação para juízes no Amazonas

No total, 47 juízes estiveram presentes no evento / Foto: Maysa Leão

Manaus – No último dia 22 de março,  o Conselho Nacional das Populações Extrativistas (CNS) foi representado através do Secretário de articulação da juventude extrativista Dione Torquato, durante um curso de formação para juízes do estado do Amazonas. A palestra foi organizada pelo procurador da república Fernando Merloto e promoveu a aproximação entre o Ministério Público Federal (MPF), o Tribunal de Justiça e algumas das demandas apresentadas pelo representante do CNS e por Renato Tukano, liderança indígena da Federação dos Organizações indígenas do Rio Negro (Foirn).

O objetivo do encontro foi promover a visibilidade política de grupos sociais de identidade étnica e coletiva. Os saberes tradicionais, expressos, entre outras formas, pelo manejo de recursos naturais dos povos da floresta, são práticas históricas de adaptação que proporcionam níveis de sustentabilidade ecológica, sendo aspectos indispensáveis à conservação da floresta e ao desenvolvimento das populações ribeirinhas. No total, participaram do curso de formação 47 juízes, sendo 30% do total no Estado. “Provavelmente a partir de maio eles estarão efetivamente locados nos municípios do interior do Estado e já respondem por estes remotamente”, diz Merloto.

Renato Tikuna fez um relato sobre as vivências experimentadas pelo seu povo no município de São Gabriel da Cachoeira / Foto: Maysa Leão

Na oportunidade, Dione destacou a importância das florestas para a estabilidade do clima, o papel das populações tradicionais e suas reivindicações pelo território e pelo fim da violência contra seus líderes, tendo em vista que a ação dos governos nem sempre corresponde ao seu discurso no âmbito internacional sobre o papel dos povos na conservação da floresta. “Para mim foi uma honra participar desse evento, eu nunca havia visto um juiz antes e eu fui muito bem recebido. O Dr. Fernando é um grande apoiador das causas pelas quais lutamos através do MPF e eu não poderia deixar receber o convite com alegria”, comentou Torquato.

Dione Torquato destacou as ações do CNS e os enfrentamentos dos povos pelo direito à terra / Foto: Maysa Leão

O ativista destacou também o papel da justiça durante o processo de enfrentamento das demandas locais, no reconhecimento, fortalecimento e garantia dos seus direitos territoriais, sociais, ambientais, econômicos e culturais, com respeito e valorização à sua identidade, suas formas de organização e suas instituições.

Para Fernando Merloto, a participação do membro do CNS levou um pouco da realidade para o tribunal de justiça. “Dione apresentou um pouco do que esses juízes irão enfrentar no interior do Amazonas. Muitos deles chegaram no Amazonas sem conhecimento sobre o contexto social porque a maioria vem de outros estados e isso é um choque que vai gerar respostas diversas. Então esse momento foi muito importante e pode gerar resultados positivos na atuação desses juízes, e essa é a nossa intenção”, Disse Fernando.

De acordo com o procurador, algumas demandas  como reintegrações de posse exigem um conhecimento técnico para análise. “Passamos  por reintegrações de posse em áreas indígenas sem os mecanismos adequados, sem ouvir o manual da ouvidoria agrária nacional que as vezes acontece por desconhecimento e essa proximidade vai permitir que eles nos procurem também”, contou Merloto.

Magistrados cumprimentam o ativista após o evento / Foto: Maysa Leão

O Juiz Marco Aurélio, que responde pela 2ª Vara de Manicoré, relata que as demandas apresentadas por Dione transcendem a questão agrária, fundiária e humana. “Ele trouxe pra nós a realidade local, fazendo com que nós saiamos dos nossos gabinetes e julguemos com mais sensibilidade com mais amor à causa. A presença dele veio nos alertar dessa necessidade de conhecermos o local e as demandas. A fala que me ficou gravada foi ‘antes de dar uma liminar, vá conhecer o local a disputa que pode ser deturpada pelos grandes interesses'”, afirmou o juiz.

“Fiquei fã do Dione, é uma missão muito nobre de levar essa causa com tanta apropriação e tanto comprometimento”, finalizou. O evento marcado para durar até as 18h se estendeu até as 19h e foi comemorado pelos participantes e organizadores.

Por: Maysa Leão

Entidade norueguesa se reúne com CNS e Memorial Chico Mendes para proposta de parceria

O evento teve duração de dois dias buscando uma parceria estratégica para assegurar os direitos territoriais dos povos e populações extrativistas

Manaus – Nesta segunda (26) representantes do Memorial Chico Mendes se reuniram com membros do Conselho Nacional das Populações Extrativistas (CNS) e da entidade norueguesa Rain Forest para um seminário que dará início à articulação de uma parceria entre as três entidades. O projeto que esta em fase de elaboração terá duração de 1 ano, podendo se estender para outros 5 e chegar até 20 anos de parceria.

Inês Luna, assessora da Rain Forest Foundation durante sua exposição no evento / Foto: Maysa Leão

Inês Luna, assessora da Rain Forest Foundation, falou sobre o evento que iniciou com um seminário de apresentação das propostas de gestão e principais problemáticas a serem enfrentadas. Para Inês, o seminário é o começo da colaboração entre a Rain Forest, o Memorial Chico Mendes e o CNS para uma parceria de cinco anos.  “Estamos fazendo uma parceria estratégica, já que as três organizações tem objetivos similares, queremos assegurar os direitos dos povos, especialmente os direitos territoriais pois trabalhamos com a preservação da floresta. Acreditamos em uma gestão sustentável das florestas. A parceria tem esse escopo e financiar políticas nacionais, promovendo uma política pública integrada em relação à população tradicional extrativista que incorpore essa visão da ‘floresta em pé’ mas também de uma floresta produtiva que da conta de melhorar as condições de vida das populações que moram nela. Estamos começando um novo programa no Brasil e achamos importante incluir o CNS”, contou Inês.

A Rain Forest Foundation tem parceiros em várias regiões do mundo como na indonésia, Congo e outros países amazônicos como a Colômbia e o Peru e a parceria com o Memorial Chico Mendes é inédita no Brasil.

Joaquim Belo, presidente do CNS falou do evento como uma construção coletiva. “Vamos estabelecer metas e indicadores, sairemos daqui com com essas projeções. O objetivo central é apoiar o CNS e discutir as políticas públicas junto aos governos, seja federal, estadual ou municipal. Esse apoio nos dá condições de nos articularmos para isso. Temos necessidades de uma assessoria jurídica por exemplo, para que tenhamos condições de de enfrentar juridicamente algumas amarras em certas leis que prejudicam a nossa comunidade”, explicou Joaquim.

Ângela Mendes apontando as particularidades da luta das mulheres extrativistas durante a reunião / Foto: Maysa Leão

Ângela Mendes, atuante na luta da mulher amazônica e membro do CNS, também esteve presente no evento reafirmando a defesa dos direitos das mulheres. “Como o evento é uma construção, é indispensável que as problemáticas entorno das questões de gênero sejam pontuadas, essa é a minha principal contribuição para o evento de hoje”, revelou.

De acordo com Adevaldo Dias, presidente do Memorial Chico Mendes, a reunião traz uma reflexão sobre a situação dos extrativistas, avaliando se o as problemáticas apresentadas em 2017 seguem atuais.

“Um ano e meio atrás foram propostas ações e uma parceria que pudesse melhorar a vida dos extrativistas. Tanto no processo de criação de unidades sustentáveis e territórios de uso coletivo como com a gestão promovida pela comunidade não só participando, mas tomando a frente dessa gestão. O CNS buscou a Rain Forest Foundation e fez a proposta. A parceria com a fundação é a nossa primeira experiência, ficaremos em teste no primeiros ano podendo ser estendido por 5 anos e no total podendo chegar a 20 anos”, disse Adevaldo.

No total, foram dois dias de evento que foi apenas o ponto inicial de uma parceria que trará mais participação dos extrativistas nas ações e melhorias nas condições de vida dessas populações.

Fundação Banco do Brasil e Memorial Chico Mendes articulam novas propostas de ação

Manaus – Nesta terça (20) o Memorial Chico Mendes recebeu a visita dos assessores da Fundação Banco do Brasil (FBB) Fabrício Araújo e Marco Aurélio Lemos. O encontro teve o intuito de discutir novas perspectivas de apoio e investimento em tecnologias sociais fortalecendo a parceria entre as instituições e pensando no futuro.

Clodoaldo Pontes, assessor do Memorial Chico Mendes, ressalta que a parceria tem gerado bons resultados e garante que a área de produção está no foco das atenções. “A Fundação Banco do Brasil já investe e apoia tecnologias sociais de acesso à água, mas haverão novos editais de tecnologias para a área de produção”, revelou.

A parceria de longa data entre a FBB e o Memoria Chico Mendes irá continuar trazendo benefícios para as populações da floresta.

Comunidades de Fonte Boa serão beneficiadas com 99 tecnologias sociais do Sanear Amazônia

Tecnologia social instalada pelo Sanear Amazônia , que capta água de chuva e trata água do rio para distribuir em comunidades de reservas extrativistas irá beneficiar 99 famílias

O Programa Sanear Amazônia irá beneficiar 99 famílias comunitárias de Fonte Boa, a 887 quilômetros de Manaus, através de uma tecnologia social de acesso à água das chuvas. Dia 10 de fevereiro iniciaram as reuniões de mobilização das comunidades através da reunião dos diretores da Associação Agroextrativista de Auati Paraná (AAPA) com os representantes do Memorial Chico Mendes, do Conselho Nacional das Populações Extrativistas (CNS) e da Associação de Produtores Rurais de Carauari (Asproc). A previsão para as obras iniciarem é para o fim do mês de abril.

Durante o encontro, diretores da reserva extrativista Auati Paraná (AAPA) receberam os representantes para discutir as principais questões do processo de implementação das tecnologias sociais de acesso à água potável às famílias extrativistas que serão beneficiadas nas comunidades da reserva extrativista Auati Paraná.

As dúvidas sobre a tecnologia social foram debatidas durante os diálogos durante reunião. As mulheres foram as que mais participaram e confirmaram a importância da tecnologia social para a família viver melhor, com mais asseio e saúde para as crianças.

“A gente não tinha privacidade para tomar banho, então o nosso banho era de roupa mesmo. Pra gente que é mulher é até mais complicada essa situação. Como estou grávida, o trabalho de ir até a beira do rio tomar banho ou buscar a água depois do trabalho é difícil”, contou Fabíola Silva, extrativista e comunitária.

Durante o evento, foi destacada a importância das parcerias locais com o Instituto Chico Mendes de Biodiversidade (ICMBio) para apoiar o uso da madeira da reserva para a construção da tecnologia social e com a prefeitura do município no tratamento e controle de parasitoses de crianças de 0 a 12 anos, filhos dos participantes do Sanear e assim como a atuação da Secretaria da Assistência Social em agilizar o cadastramento e atualização do NIS das famílias que serão contempladas.

O coordenador técnico Clodoaldo Pontes reforçou junto aos comunitários a necessidade do compromisso em fazer a gestão e a manutenção da tecnologia social, como forma de garantir que o equipamento prolongue sua utilização. Por isso, todas as comunidades irão assinar um termo de compromisso se responsabilizando com o uso e a manutenção da tecnologia social construída e entregue as famílias extrativistas.

Dione Torquato, representante do CNS, resgatou a história do movimento extrativista brasileiro nos últimos 30 anos que resultou em um conjunto de conquistas. “Água e saneamento é resposta da luta dos extrativistas, hoje transformada em politicas públicas”, disse Dione.

Durante as visitas e reuniões nas comunidades foi constatado que há uma necessidade de água de qualidade e saneamento básico nessas comunidades. A tecnologia social Sanear Amazônia foi bem aceita pelas famílias extrativistas, sobretudo, por vir atender de forma imediata uma questão básica das comunidades: água e saneamento.

Para o coordenador do projeto, Clodoaldo Pontes o resultado das visitas e reuniões demonsrtra que as famílias precisam acessar a tecnologia social, como necessidade imediata. “Nenhuma comunidade tem água de qualidade e saneamento. A tecnologia social em menor ou maior escala é o irá possibilitar essas comunidades a vivenciarem a cidadania”, disse.

Programa Sanear Amazônia

O programa ficou em primeiro lugar no Prêmio Fundação Banco do Brasil de Tecnologia Social, na categoria Comunidades Tradicionais, Agricultores Familiares e Assentados da Reforma Agrária, em 2015, onde concorreu com outras 154 práticas em seis categorias. O programa é parte de uma parceria entre o Ministério do Desenvolvimento Social (MDS) e o Memorial Chico Mendes.

Conselho Nacional das Populações Extrativistas realiza reunião em Tefé para mobilização da categoria

A reunião é parte da programação para o Chamado da Floresta Amazonas, que ocorrerá em junho deste ano

Encontro em Tefé reúne entidades para a construção do Chamado da Floresta Amazonas

Manaus – No último dia 9 de fevereiro, aconteceu a reunião do Conselho Nacional das Populações Extrativistas (CNS) em Tefé. O evento foi uma reafirmação do compromisso dos parceiros sociais locais com a realização do “Chamado da Floresta Amazonas”, previsto para acontecer de 22 a 24 de junho em Tefé (AM). Participaram da reunião a Asproc, Memorial Chico Mendes, ICMBio, Apafe, Ifam, Sedempa – Juruá, Flona – Apafe, Flona – Tefé, Colônia Z4, IDSM, Sebrae – Tefé, Sema/Demuc, Sedempa, Sepror e Prefeitura de Juruá e Prefeitura do Juruá.
O representante do CNS Dione Torquato apresentou a metodologia e a estratégia para realização do Chamado da Floresta Amazonas. O Encontro com os extrativistas do Amazonas tem como objetivo central aprofundar a discussões sobre a atual política de Reforma Agraria do Estado do Amazonas, discutir os desafios da regularização fundiária, construir estratégia para o fortalecimento da produção extrativista e da organização comunitária, pautas históricas do movimento no Estado que precisam ser fortalecidas junto às comunidades.
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Dione esclareceu que o “Chamado das Populações Extrativistas no Amazonas” terá o formato de Encontro de mobilização social e será realizado em 3 dias de atividades coletivas. As discussões acontecerão por meio de mesas temáticas, rodas de conversas,  grupos de trabalhos e planárias com base na programação do Encontro.
Um dos temas levantados por Torquato, foi sobre os custos para realização do Chamado assim como as estratégias de mobilização que cada organização irá buscar para garantir a participação das comunidades extrativistas no Chamado da Floresta Amazonas. Todas as entidades presentes reafirmaram o compromisso de mobilização para trazer os extrativistas.
O CNS buscará apoio para trazer representantes de 25 territórios  extrativistas  do Amazonas ( RESEX/RDS/FLONA) 3 por Unidade de Conservação, que somados com o público local a previsão são de 200 pessoas.
Na ocasião, foi decidida uma nova reunião para o dia 17 de abril em Téfé, onde será definido:
1) A quantidade de pessoas que as instituições parceiras irão trazer ao evento;
2) O local para realizar o  Chamado da Floresta Amazonas (CETAM e Centro Irmão Falco são as possibilidades) e;
3) Os apoios dos gestores públicos através das Prefeituras Municipais na logística de transporte dos participantes da comunidades e os custos com alimentação.
Em relação ao conteúdo politico das discussões previstas pelo CNS, os participantes presentes afirmaram que os temas são pertinentes para o debate atual no país, um cenário de retrocessos na políticas sociais socioambientais, e que esta conjuntura politica exige um posicionamento das populações extrativistas da Amazonas para ampliar e fortalecer a luta nacional dos movimentos sociais ligados ao CNS, por isso a importância de realizar o  Chamado da Floresta Amazonas em junho de 2018, que será a base das discussões para IV Chamado da Floresta que acontecerá de 13 a 15 de dezembro de 2018 em Xapuri (AC).

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CONAB divulga preço mínimo do açaí para 2018 com aumento de 24%

A Companhia Nacional de Abastecimento (CONAB), publicou na última sexta (12) os preços mínimos para os produtos extrativos da safra 2018 com um ajuste de 24% no valor do açaí. Estudo recente realizado pela Universidade Federal do Amazonas (Ufam) em parceria com o Memorial  Chico Mendes foi apresentado no Fórum de Desenvolvimento Territorial do Médio Juruá, demonstrou que o valor pago ao extrativista era insuficiente para cobrir os custos variáveis dos trabalhadores.

Veja a tabela com os valores completos clicando aqui

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Relembre

Entre os dias 8 e 9 de novembro, aconteceu o encontro do Fórum de Desenvolvimento Territorial do Médio Juruá, onde foi apresentado um estudo técnico sobre a formação de preço de custo de produção do açaí, seguindo uma metodologia adotada pela CONAB.

Para o professor Henrique Pereira, coordenador do doutorado em ciências ambientais da Ufam, os resultados são importantes para manutenção do processo produtivo de forma sustentável.

“Os resultados foram preocupantes, pois demonstraram que, para a safra de 2016, mais da metade das expedições de coleta com os preços praticados na safra, não remuneraram sequer os custos variáveis dos extrativistas, que é a mão de obra. É um resultado que preocupa porque pode dificultar a sobrevivência dessas famílias que estão sendo remuneradas abaixo do que deveriam”.

Para o pesquisador, o melhor caminho é estabelecer uma melhor relação entre custo de produção e venda. Dar eficiência para esse trabalho e discutir a formação do preço praticado no mercado local. “Hoje a agroindústria compra o açaí por R$ 1,30 o quilo, mas o valor ideal, para cobrir os custos variáveis deve ser R$ 1,89”.

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Por: Maysa Leão

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O Memorial Chico Mendes participou da reunião que tem como objetivo o fortalecimento das organizações comunitárias

Representantes de diversas entidades estiveram presentes na reunião / Foto: Acervo pessoal

No último dia 6 de janeiro, aconteceu em Tefé uma reunião com parceiros para organização do Encontro Estadual Extrativista que irá ocorrer de 22 a 24 de junho de 2018 no município. Cada entidade presente ficou responsável pela mobilização em seus espaços de atuação.

De acordo com Adevaldo Dias, presidente do Memorial Chico Mendes, a reunião é uma oportunidade de dividir tarefas para o sucesso do evento. “Entramos em um consenso de que cada entidade deverá buscar formas de apoiar a realização do evento com mobilização e transporte. Em março haverá nova reunião para análise do andamento dessas questões”.

O Encontro Estadual dos Extrativistas pretende contrubuir com a mobilização das lideranças locais para organização comunitária, além de discussões sobre cadeias produtivas e sociobiodiversidade, regularização fundiária e gestão participativa das Unidades de Conservação.

“O município de Tefé foi escolhido para realização do encontro em razão do histórico de luta, que refletiu nas primeiras unidades de conservação, além do conjunto de municípios próximos que facilitarão o deslocamento das lideranças até o local”, contou Adevaldo.

Esse encontro também é uma preparação para o IV Chamado da Floresta a ser realizado no Acre de 13 a 15 de dezembro de 2018 com a presença de lideranças de todo Brasil. Em sua 4ª edição, o Chamado da Floresta é maior encontro de extrativistas do país e é organizado pelo Conselho Nacional das Populações Extrativistas (CNS) para discutir a pauta de reivindicação do movimento extrativista brasileiro.

De acordo com Dione Torquato, coordenador regional do CNS, a reunião em Tefé teve como objetivo central discutir parcerias para o I Encontro Estadual dos Extrativistas. “Queremos atingir cerca de 40 municípios e representantes de 43 Unidades de Conservação (UC), com, no mínimo, dois representantes por cada UC. Nosso evento será histórico, pois da última vez que ocorreu uma mobilização de comunidades tradicionais foi em 2013”.

“Lideranças fortes devem estar presentes pois vivemos um retrocesso político e queremos propor estratégias para comunidades extrativistas, compartilhar experiências, saber os principais desafios e qualificar nossas demandas para levar ao IV Chamado da Floresta”, disse o coordenador.

De acordo com o Dione, o encontro é fundamental para discutir sobre gestão participativa e estratégias de fortalecimento das cadeia produtivas. “No Amazonas não temos uma política específica para a cadeia produtiva extrativista, queremos no fim desse encontro trazer sugestões e diretrizes para reivindicarmos junto ao governo a necessidade de formar um programa estadual de cadeia extrativista”, revelou.

“Pegamos os desafios de hoje para construir propostas de políticas públicas. Iremos também compartilhar experiências das ações das organizações comunitárias. Quais são os projetos que deram certo hoje dentro das UCs? No médio juruá temos a experiência do comercio ribeirinho que deu certo, onde mais isso pode ser feito?”, acrescentou.

A política de reforma agrária também será discutida no encontro. “As comunidades tradicionais precisam ter conhecimento sobre o que o governo está fazendo de retrocesso na política de reforma agrária e como isso reflete no Amazonas, na nossa realidade. Com a  questão da mineração por exemplo, discutiremos qual a intenção do governador. Socializar essas informações é importantíssimo. Iremos preparar a nossa articulação e fortalecer a incidência política da organização social que é o CNS”, finalizou

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Foto: Acervo pessoal

O Encontro Estadual dos Extrativistas é uma oportunidade de reanimar os espaços de discussão e a expectativa é que estejam presentes mais de 200 lideranças de Unidades de Conservação do Amazonas.

Estiveram presente representantes do CNS, Memorial Chico Mendes, Fundação Amazonas Sustentável, Associação de Produtores Agroextrativistas da FLONA de Tefé e Entorno-APAFE, Jovens Protagonistas, Prefeitura de Tefé, Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), Caritas de Tefé e Conselho Indigenista Missionário-CIMI.

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Há 29 anos, assassinos silenciavam a voz do ambientalista Chico Mendes

Filha de Chico Mendes, Ângela Mendes fala sobre o legado do seu pai, ideais deixados por ele e a continuidade do trabalho. “Chico Mendes vive!”

Se estivesse vivo, Chico estaria com 73 anos

Há 29 anos, em 1988, Francisco Alves Mendes Filho, o Chico Mendes, era assassinado em Xapuri (AC) nos fundos de sua casa com tiros disparados por fazendeiros da região inconformados com o ativismo e com a repercussão de suas denúncias. Seringueiro desde a infância, Chico foi líder dos trabalhadores rurais e dos seringueiros da Amazônia, além de ambientalista de repercussão internacional. Este ano, ele completaria 73 anos.

Nos anos 1970, o governo federal passou a priorizar a ocupação da Amazônia com grandes projetos de infraestrutura voltados para áreas como a agropecuária, exploração madeireira e a mineração. Assim, fazendeiros vindos do Sul e Sudeste compravam terras a preço baixo e se instalavam em locais já ocupadas por seringueiros. Com isso, os seringueiros começam a se organizar para evitar a derrubada da floresta.

A reserva extrativista foi uma forma que os seringueiros descobriram de fazer uso sustentável da terra. Os especuladores acreanos reagiram raivosos e fizeram ecoar nos meios de comunicação locais que o líder seringueiro era responsável pelo “atraso” na região. Sua imagem era construída como a de um inimigo público, sendo visto como um obstáculo para o progresso da região. E obstáculos, para alguns, não foram feitos para serem contornados, mas suprimidos.

As ideias de Chico transformaram o Acre em um lugar totalmente diferente do que era à época em que foi assassinado. E, embora sua causa esteja, essencialmente, ligada à questão ambiental, sua herança é bem mais ampla. Chico tinha um sonho muito maior.

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Ângela Mendes, filha do ambientalista e gestora ambiental, falou ao EMTEMPO que seu pai deixou uma carta antes de ser morto, pois acreditava que o futuro estava nas mãos das futuras gerações.

Com a data fictícia de 6 de setembro de 2120, ele imaginava uma futura revolução socialista mundial, que então completaria o seu primeiro centenário. E registrava: “Aqui fica somente a lembrança de um triste passado de dor, sofrimento e morte”. Esse passado ainda não está superado, mas o caminho hoje é trilhado graças, em grande parte, à vida e à luta de Chico Mendes.

Ângela fala um pouco sobre o pai que conheceu e sobre a continuidade do trabalho deixado por ele. De acordo com ela, o “Comitê Chico Mendes” foi criado no ano do seu assassinato com o objetivo de pressionar as autoridades a punir os assassinos. “Na época em que foi morto, as autoridades tinham relações com o agronegócio e ninguém punia assassino de seringueiro”, revelou.

O medo da impunidade fez com que os trabalhadores rurais se unissem para exigir justiça. “Seis meses antes do assassinato do meu pai, um jovem foi morto a mando da família Alves, mesma responsável pelo crime contra ele. O julgamento do caso desse jovem ocorreu em 2012, quando o crime já estava perto de prescrever. No caso do meu pai, em 1990, houve o julgamento e o Comitê passou a trabalhar divulgando a memória do Chico”, revelou Ângela.

Para Manoel Cunha, ex-seringueiro e ativista do Conselho Nacional das Populações Extrativistas (CNS), o legado de Chico Mendes ecoa nas lutas ainda muito atuais. “Costumamos dizer que, mesmo as lideranças que não conheceram Chico, conhecem as suas direções que persistem após esses 29 anos. O que ele dizia está vivo em nós. Tínhamos o mesmo desejo de defesa do meio ambiente e dos direitos dos povos da floresta”.

Sobre a situação antes das reservas extrativistas, Manoel relata a dura vida dos seringueiros. “A gente vivia insatisfeito com aquele sistema, porque eram os patrões que mandavam no preço da produção e na vida dos seringueiros. Eles decidiam até se a gente podia ou não plantar mandioca e fazer a nossa farinha, por exemplo. Quando vimos as lutas já travadas por outros companheiros, passamos a nos espelhar por essa iniciativa”, conta o ativista.

Todos os anos, ocorre em Rio Branco e Xapurí (AC), do dia 15 a 22 de dezembro, a “Semana Chico Mendes”. As datas foram assim escolhidas para relembrarem o nascimento (dia 15) e morte (dia 22) de Chico. “A nossa luta é pelo uso sustentável das florestas, que proporcione conciliação entre qualidade de vida e preservação, porque sempre foi isso que Chico defendeu”, lembrou a gestora ambiental.

“Se ele estivesse vivo, a gente teria o que tem hoje e muito mais. Para nós, que perdemos ele, a Justiça dos homens nunca vai ser suficiente. Meus irmãos não tiveram o prazer de conviver com o meu pai e eu só tinha 18 anos. Na época eu acompanhava pelos jornais o trabalho dele, mas nem sempre o mostravam de forma positiva, as ações dele também eram criminalizadas, isso só mudou com a repercussão internacional”, completou Ângela.

Ao centro da foto, Ângela Mendes

A gestora ambiental finaliza lembrando que sempre esteve isolada durante parte de sua vida. “Os amigos do meu pai me ensinaram muito sobre ele. Costumo dizer que conheci meu pai e a história dele por meio dos amigos. A história dele para mim é uma colcha de retalhos, colhi um pouco de um companheiro, um pouco de amigo, um pouco de afeto”, finalizou  a filha de um dos homens mais importantes para o Brasil e para o mundo.

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