Memorial Chico Mendes e a Associação dos Produtores Rurais de Carauari prestigiam lançamento da Plataforma Parceiros pela Amazônia (PPA)

Com o objetivo de criar uma rede de apoio com empresas com responsabilidade social para compartilhar experiências com projetos sociais e promover o desenvolvimento de parcerias, foi lançada no dia 6 de dezembro a Plataforma Parceiros pela Amazônia (PPA). O evento de lançamento foi realizado no auditório do Hotel Tropical, em Manaus e representantes da Associação dos Produtores Rurais de Carauari e do Memorial Chico Mendes estiveram presentes para ouvir as propostas.

A plataforma pretende ainda identificar soluções inovadoras para o desenvolvimento socioeconômico das populações amazônicas aliado à preservação da floresta.

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O evento contou com a presença de representantes de empresas, organizações não governamentais, associações de produtores rurais e de proteção ao meio ambiente, e foi organizado pelo Instituto de Conservação e Desenvolvimento Sustentável da Amazônia (Idesam), Agência dos Estados Unidos para o Desenvolvimento Internacional (USAID) e Centro Internacional de Agricultura Tropical (CIAT), com apoio do Centro da Indústria do Estado do Amazonas.

Para Clodoaldo Pontes, coordenador técnico do Memorial Chico Mendes, o evento é uma oportunidade de debater, de ouvir as propostas dos parceiros e participar das ações.

Segundo Talia Bonfante, representante da empresa Natura no evento, a proposta é de engajamento das empresas que poderão estar juntas compartilhando interesses, saberes e potencializando ações. “O PPA pretende ser mais uma fonte de atuação na Amazônia, a natura é só um dos atores dentro desse contexto e o nosso papel é fazer essa articulação pois sozinhos não conseguimos suprir toda a demanda. Para nós essa divisão de tarefas pode nos trazer resultados maiores onde haverá uma relação de ganho-a-ganho que é boa para todos”, disse.

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A balsa será capaz de transportar até 150 toneladas de produtos com mais segurança, agilidade e qualidade

Idelizada pela Associação dos Produtores Rurais de Carauari (Asproc), a balsa com capacidade de 150 toneladas foi inaugurada no dia 6 de dezembro. A embarcação faz parte do projeto “Comércio Ribeirinho da Cidadania e Solidário” implementado pela Asproc, que atua por meio de organização, gestão e comercialização da produção das comunidades ribeirinhas. O objetivo é facilitar o escoamento da mercadoria produzida pelos comunitários

O projeto recebeu investimento fruto de uma parceria da Fundação Banco do Brasil e Fundo Amazônia, no valor de R$ 500 mil. A construção da balsa tem como objetivo viabilizar o escoamento da produção, gerar renda e assim, melhorar a qualidade de vida dos comunitários.

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A balsa irá atender 53 comunidades num total de 450 famílias residentes da Unidade de Conservação Federal de Uso Sustentável – Resex Médio Juruá. A capacidade de escoamento da Asproc atualmente gira em torno de 500 toneladas ao ano. Com a parceria, a estimativa é que em 12 meses chegue a 900 toneladas de produtos.

Para Manuel Siqueira, presidente da Asproc, o isolamento das comunidades é um dos principais entraves para a comercialização dos produtos, mas com a balsa o volume das mercadorias transportadas em uma única viagem será maior, com mais segurança e menor custo com transportes que antes eram feitos por três embarcações simultaneamente.

“Antes o barco ASPROC II conseguia transportar no máximo 60 toneladas de produtos e dependia de mais duas embarcações menores para dar apoio, fora viagens extras que aconteciam esporadicamente para desabastecer as cantinas. Com a balsa a capacidade de transporte chega a 150 toneladas”, completou Manuel.

Segundo Roziane Moura, assistente social da Asproc, além do escoamento da produção a balsa irá abastecer as compras das cantinas, uma espécie de mercado local onde os comunitários têm acesso a gêneros alimentício diversos, como arros, feijão, açúcar e outros.

“Os principais itens produzidos pelos comunitários são a farinha de mandioca branca e amarela, açaí, pirarucu, cará roxo, abobora, mel de abelha, farinha de tapioca, borracha, oleaginosas”, disse Roziane.

Comércio Ribeirinho da Cidadania e Solidário

Certificada pelo Prêmio Fundação Banco do Brasil de Tecnologia Social, em 2011, como Tecnologia Social “Comércio Ribeirinho da Cidadania e Solidário” é uma das 986 inciativas que fazem parte do Banco de Tecnologias Sociais (BTS) – uma base de dados online que reúne metodologias reconhecidas por promoverem a resolução de problemas comuns às diversas comunidades brasileiras, aptas e disponíveis para reaplicação.

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De 15 a 22 de dezembro acontece em Xapuri – AC, a Semana Chico Mendes 2017

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O Comitê Chico Mendes organiza anualmente a “Semana Chico Mendes” cujas atividades acontecem no período de 15 a 22 de dezembro, que compreende as datas de nascimento (15) ao assassinato (22) do Líder Sindical.

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A III Feira Agroextrativista e Economia Solidária e a II Feira Natalina acontecem de 15 a 17/12, comercializando produtos de jardinagem, alimentação, artesanato, brinquedos, costura, agricultura familiar, produtos extrativistas, cerâmica, artes plásticas e movelaria. Ao todo, 56 empreendimentos solidários participam do evento. A abertura oficial acontece no dia 15/12, às 16h.

No dia 20/12 acontece o Seminário O desenvolvimento do extrativismo e economia solidária no Acre, que inclui três painéis: um panorama da Economia Solidária no Acre e no Brasil; experiência do extrativismo e cadeira produtiva; e o extrativismo como política de desenvolvimento sustentável.

Confira a programação:

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No último dia 1º de dezembro, a Voz do Brasil divulgou uma matéria sobre o Projeto Sanear. Famílias das reservas extrativistas são contempladas com as tecnologias sociais que promevem o controle de doenças e melhoria na qualidade de vida da população. Ouça a matéria aqui!

Preço do açaí no Médio Juruá não remunera o trabalho do extrativista, diz pesquisador

Foto: Divulgação

Pesquisador da UFAM revela que extrativistas de açaí estão ganhando menos da metade do valor ideal em reservas de Carauari

Na Reserva Extrativista do Médio Juruá, no Amazonas, a população tradicional desenvolve atividades de manejo do fruto açaí, do pirarucu, farinha de mandioca e oleaginosas. O açaí é abundante na região e o trabalho dos extrativistas se tornou um potencial econômico para as comunidades ribeirinhas locais, já que a condição de Unidade de Conservação proíbe a exploração de recursos naturais. Em virtude disto, as comunidades se sustentam através do extrativismo. Porém, estudo apresentado por um pesquisador da Universidade Federal do Amazonas (Ufam) demonstra que o valor que o açaí tem sido vendido é insuficiente até mesmo para cobrir os custos de produção dos extrativistas.

Unidade de Conservação (UC) é a denominação dada às áreas naturais protegidas da exploração do homem. Elas existem para proteger ecossistemas, preservando o patrimônio biológico da região. Elas também garantem às populações tradicionais o uso sustentável dos recursos naturais. O objetivo desse processo é promover o desenvolvimento de atividades econômicas sustentáveis às comunidades sem prejuízos ao meio ambiente.

Em Carauari, há duas unidades de conservação de uso sustentável: Resex do Médio Juruá, de gestão federal a partir do ICMBio e a RDS de Uacari. As comunidades extrativistas locais são as únicas que tem permissão para morar e usufruir dos recursos naturais das Unidades de Conservação, mas ainda assim é necessário ter plano de manejo autorizado por um órgão ambiental.

Para garantir a continuidade dessa cadeia sustentável é necessário que o extrativista consiga se sustentar com os frutos das atividades de manejo. Sem isso, é inevitável que as pessoas busquem outras formas de sobrevivência, que muitas vezes podem ser nocivas ao meio ambiente.

Segundo Natanael Gondin, extrativista residente em Carauari, a baixa remuneração faz com que as pessoas procurem outras formas de sustento. “Muita gente abandona a região em busca de outras oportunidades, pois a maioria de nós vive do extrativismo e quando a remuneração é menor que os nossos gastos é difícil”.

Nesse sentido, para assegurar o êxito desse processo – que equilibra preservação do meio ambiente e sobrevivência das comunidades ribeirinhas -, é necessário avaliar o custo de produção das atividades econômicas e seus ganhos.

Para o presidente do Memorial Chico Mendes, Adevaldo Dias, calcular este custo é fundamental para a manutenção das Unidades de Conservação e, em virtude disso, o Memorial juntamente com a Associação dos Produtores Rurais de Carauari (Asproc) solicitaram junto à Ufam este estudo.

“Entendemos que é necessário ter conhecimento se o trabalho dos extrativistas está sendo recompensado de forma adequada, para garantia da preservação da reserva e dos meios de vida dessas pessoas”, disse Adevaldo.

Foto: Divulgação

Estudo sobre custos de produção concluídos

Entre os dias 8 e 9 de novembro, aconteceu o encontro do Fórum de Desenvolvimento Territorial do Médio Juruá, onde foi apresentado um estudo técnico sobre a formação de preço de custo de produção do açaí, seguindo uma metodologia adotada pela Companhia Nacional de Abastecimento (CONAB). A pesquisa foi realizada pela Ufam em parceria com a Asproc e o Memorial Chico Mendes.

Para o professor Henrique Pereira, coordenador do doutorado em ciências ambientais da Ufam, os resultados são importantes para manutenção do processo produtivo de forma sustentável.

“De posse das informações de custos, é possível definir o preço para a venda do produto, o valor foi investido para sua obtenção, o lucro e até estimular a produção. Os resultados foram preocupantes, pois demonstraram que, para a safra de 2016, mais da metade das expedições de coleta com os preços praticados na safra, não remuneraram sequer os custos variáveis dos extrativistas, que é a mão de obra. É um resultado que preocupa porque pode dificultar a sobrevivência dessas famílias que estão sendo remuneradas abaixo do que deveriam”.

Para o pesquisador, o melhor caminho é estabelecer uma melhor relação entre custo de produção e venda. Dar eficiência para esse trabalho e discutir a formação do preço praticado no mercado local. “Hoje a agroindústria compra o açaí por R$ 1,30 o quilo, mas o valor ideal, para cobrir os custos variáveis deve ser R$ 1,89”.

Indústria artesanal remunera melhor

Conforme Henrique, outro resultado relevante é o preço praticado no mercado local, dos vendedores artesanais, pois remunera melhor o trabalhador e o produto é consumido no mercado local

“A solução para potencializar essa cadeia de valor não está apenas em estratégias de exportar a produção, pois já existe um mercado local que pelo volume de produção que absorve e pelo preço que pratica apresenta outra possibilidade, que é o fortalecimento da pequena agroindústria que está se estabelecendo no município”, alertou.

Sobre a metodologia usada no estudo, o pesquisador afirma ainda: “A nossa metodologia foi precisa, porque fez uma verificação da coleta nos locais, ou seja, usando dados primários. Acrescentamos uma componente nova nesses cálculos denominada de ‘custos de organização’ estimada em R$ 116 ao ano, por família. É um custo para participar das reuniões de planejamento, de manejo e a anuidade que as famílias contribuem com as associações”. Segundo ele, a maior parte desse valor é destinada aos custos de deslocamento das pessoas.

Serviço ambiental prestado à sociedade

Um dos apontamentos da reunião foi a continuidade do estudo de valoração da cadeia de produção estimando também o valor em torno dos serviços ambientais. “Qual o valor que essa produção tem pelo serviço ambiental que ela desempenha, que são: proteção, manutenção e manejo das florestas?”, questiona o pesquisador.

Sobre os resultados apresentados, Henrique assegura: os estudos são conclusivos. Há variações anuais apenas entre famílias de acordo com o número de pessoas envolvidas na produção.

Impasse

Conforme esclarece Luíz André, representante da empresa Coca-Cola presente no Fórum, a cadeia de produção sustentável do açaí provê o sumo principal do produto “Del Valle Reserva açaí e banana”.

A empresa “Açaí Tupã” realiza a compra do fruto diretamente dos extrativistas e revende o produto para outras empresas como a Coca-Cola. De acordo com Samir Chagas, diretor da Tupã, os valores apresentados na pesquisa são equivocados. “No estudo, o Professor Henrique afirma que a coleta das famílias é de 500kg em cada viagem, mas essa quantia na verdade chega em 1 tonelada, isso está errado, esses números precisam ser revistos. Outro fator é que eu pago até R$ 0,50 por quilo para o transporte do fruto até a agroindústria. O valor do açaí por R$ 1,89 é impraticável pois já pago pela logística”.

Essas informações são rebatidas pelo professor Henrique e por Adevaldo Dias. Segundo o professor os dados sobre a coleta são primários, ou seja, não se trata de uma especulação sobre o volume da coleta feita pelas famílias, já que a pesquisa de campo foi realizada.

Em relação ao pagamento pelo transporte informado por Samir, Adevaldo Dias relata que o cálculo do estudo foi feito baseado no produto entregue na comunidade, e que caso fosse incluído transporte o valor poderia inclusive ser maior para o comprador.

Luiz Andre fala sobre o estudo dos custos de produção apresentados pelo Professor Henrique, mas também discorda dos valores. “Vai ser necessário uma discussão ampliada para fazer uma calibragem do preço ao longo da cadeia, e isso necessariamente deve envolver todos os elos que fazem parte da cadeia do açaí. São coletores das associações, agroindústria e dos principais compradores. Só com uma visão ampliada é que podemos discutir o melhor ajuste do valor agregado na cadeia”, disse.

Questionado sobre o valor do açaí comprado pela Coca-cola, o representante da companhia sugere que os estudos não estejam concluídos. “Os próprios pesquisadores concluíram que aqueles valores não são conclusivos. Independente da discussão se o preço pode ser maior ou menor, o importante é que possamos melhorar as práticas de manejo”. Porém, a informação é contrária ao que afirma o professor Henrique.

O Presidente do Memorial Chico Mendes faz um alerta. “Se as empresas persistirem em não remunerar de forma justa os trabalhadores, a saída será as organizações de base dos extrativistas se organizarem para ter sua própria indústria de venda da polpa do produto, como já acontece com o pirarucu e as oleaginosas”.

Por: Maysa Leão