Para combater a fome no Amazonas, movimentos sociais reivindicam criação de secretaria de segurança alimentar

Diante do cenário atual que aponta aproximadamente 2,7 milhões de pessoas no Amazonas vivendo em situação de insegurança alimentar moderada ou grave, segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), movimentos sociais vão propor, nesta terça-feira, dia 6 de dezembro, a partir das 14h, a criação de uma Secretaria de Estado de Segurança Alimentar e Nutricional (SESAN). A ação acontecerá na sede do Conselho Estadual de Segurança Alimentar e Nutricional do Estado do Amazonas (CONSEA), localizada na Avenida Darcy Vargas, 77, bairro Chapada.

A proposta de criação da secretaria será feita, em conjunto, pelo (CONSEA-AM), Federação dos Trabalhadores e Trabalhadoras na Agricultura (FETAGRI-AM), Organização das Cooperativas do Brasil (OCB-AM) e Federação da Agricultura e Pecuária do Estado do Amazonas (FAEA).

A pesquisa do IBGE indicou o Amazonas na segunda pior posição do país, atrás apenas do Amapá. Os dados foram apresentados em setembro e são referentes ao biênio (2017-2018), como resultado da Pesquisa de Orçamentos Familiares (POF) 2017-2018, sobre Segurança Alimentar.

“O que estamos vivendo em nosso Estado exige medidas públicas mais profundas de enfrentamento a fome, por isso aprovamos em reunião extraordinária do Consea-AM, realizada no último dia 28 de novembro, participar da construção e fortalecimento da proposta de criação da nova secretaria. Vamos apresentar coletivamente e com a participação da sociedade civil a proposta ao governo do Amazonas”, comentou o presidente do CONSEA, Clodoaldo Pontes.

Segundo ele, a proposta vem sendo discutida e já foi divulgada nas redes sociais. Consideramos a proposta bastante oportuna e em sintonia com as discussões e ações dos Grupos de Transição do governo federal, que assumirá a partir de janeiro de 2023 e que propõe a criação de um novo ministério para o enfrentamento da fome no Brasil.

“A expectativa é nessa reunião de terça-feira fazer os alinhamentos políticos para traçar estratégias, propostas e diretrizes de atuação da Secretaria Estadual de SAN para a garantia ao Direito Humano à Alimentação Adequada (DHAA). As propostas e diretrizes foram extraídas da última conferência estadual de SAN do Amazonas e dos debates realizados no Fórum Pan-Amazônico (FOSPA), promovido em outubro, em Belém (PA), numa roda de conversa com representantes de movimentos sociais e populares do campo, das florestas e das águas”, disse.

Mais de 80 jovens de diversos estados debatem ativismo ambiental e social

Com o objetivo de inserir e protagonizar a nova geração no ativismo ambiental e social, o Conselho Nacional das Populações Extrativistas (CNS) promoverá o II Encontro da Juventude Extrativista na Amazônia, em Mazagão, no Amapá, de terça-feira a sábado, 22 a 26 de novembro, com a participação de mais de 80 estudantes. Entre os principais temas, o evento abordará sobre saúde, valorização da cultura tradicional, comunicação, conservação ambiental, além de trabalho e renda.

Segundo o secretário-geral do CNS, Dione Torquato, a juventude apresenta um alto índice de êxodo rural, o que compromete o processo de sucessão geracional nos territórios, resistência e conservação das conquistas históricas. Para encontrar soluções para essas situações, nasceu a proposta do Encontro da Juventude Extrativista na Amazônia.

Gratuito e aberto ao público, a segunda edição é organizada em parceria com o Memorial Chico Mendes (MCM) e tem apoio do Instituto Clima e Sociedade (iCS), WWF-Brasil, Rainforest Foundation Noruega (FRN) e Instituto de Estudos Brasileiros (IEB).

O público estimado envolve 15 lideranças dos estados do Amazonas (AM), Pará (PA), Acre (AC), Mato Grosso (MT), Rondônia (RO), Roraima (RR), Tocantins (TO) e Maranhão (MA), além de oito representantes do CNS e parceiros da Casa Ninja, Amazônia Real e da Articulação Nacional das Mulheres Indígenas Guerreiras da Ancestralidade (Anmiga).

A meta é reunir jovens extrativistas, de povos e comunidades tradicionais, e comunicadores e ativistas socioambientais de outras regiões do Brasil, garantindo também a paridade de gênero. O evento será realizado na Escola Família Agroextrativista do Carvão (Efac), localizada no município de Mazagão.

No decorrer da programação e a partir de diálogos, oficinas e palestras, os participantes terão acesso ao histórico de luta, legado de Chico Mendes, importância das políticas públicas do Governo Federal (GF), estratégias do Movimento Extrativista, ações de conservação ambiental e projetos de assentamento extrativista.

“Nossa estratégia é o processo de formação e articulação ligada à política, ideologia, educação e comunicação. Especialmente neste momento que exige da sociedade brasileira participação política, organização comunitária, mobilização social, debates, conhecimento, crítica social e resistência para enfrentarmos as ameaças aos nossos territórios e à forma que atinge grande parte do povo brasileiro”, destaca Letícia Santiago, secretária de juventude do CNS.

“Como está escrito na canção do grupo Titãs, a juventude não quer só comida, mas quer diversão e arte. Ou seja, chegou o momento da nova geração mostrar o seu valor e tomar a responsabilidade em prol do bem comum”, complementa.

I Encontro de Jovens Comunicadores da Amazônia

No decorrer do evento, o CNS também promoverá o I Encontro de Jovens Comunicadores da Amazônia, visando a criação de uma comunicação homogênea e resistência midiática, nas mídias digitais ou canais de comunicação popular. Tratado como passo imprescindível para a comunicação do movimento, o objetivo principal é denunciar as opressões e violações de direitos humanos vividos na Amazônia e em outras regiões do país.

Programação

Na terça-feira (22), acontecerá a mesa 1 com o tema “Memória histórica das lutas e da resistência de povos e populações de comunidades tradicionais extrativistas”, contando com líderes históricos do movimento extrativista e tratando dos desafios passados e os atuais.

No mesmo dia, a mesa 2 abordará “O legado de Chico Mendes e o futuro dos territórios tradicionais de uso coletivo na percepção da juventude”, com representantes do Engaja Mundo, Rede Pantaneira, Coordenação Nacional de Articulação de Quilombos (Conaq) e outras entidades.

Já pela noite, o CNS promoverá um Sarau Cultural com apresentação de filmes, músicas e poesias sobre processo de colonização, frentes de expansão na Amazônia e lutas históricas.

Na quarta-feira, a mesa 3 falará sobre “A importância das economias da sociobiodiversidade no enfrentamento às crises climáticas”. Já a mesa 4 trará “O papel das mulheres na defesa, gestão e governança nos territórios”. Enquanto à noite haverá outro Sarau Cultural com o documentário “Borracha para a Vitória”, dirigido pelo cineasta Wolney Oliveira e que resgata a história do segundo ciclo da borracha e da dívida social do estado brasileiro com os nordestinos.

Na quinta-feira, a 5ª mesa será sobre “O papel e a importância da comunicação popular ativista para o fortalecimento da luta e resistência, em defesa da democracia e dos direitos de povos indígenas e de comunidades tradicionais, na Amazônia e em outras regiões brasileiras”, com participação dos veículos de comunicação Mídia Ninja, TV247, Uma Gota no Oceano e Anmiga. E, pela tarde, acontecerá a 1ª oficina: “O uso das redes sociais na defesa e proteção dos territórios”.

Na sexta-feira, o público fica com as oficinas “Fortalecer as redes de comunicação ativista em defesa das lutas socioambientais na Amazônia”, “Designer na comunicação popular” e o “Uso de ferramentas digitais para elaboração e edição de imagens e vídeos”. Antes do fim do dia, os jovens ainda participam de “Práticas e exercícios de comunicação e produção audiovisuais” e, à noite, apreciam o Sarau Cultural.

No último dia (26), a programação inclui um ato público da “Juventude da Floresta”, com a participação do governador eleito do Amapá, Clécio Luis, no campo de futebol da Efac. Após, os jovens apreciam o plenário e o Sarau Cultural de encerramento.

Secretário-geral do CNS participa de evento em Manaus com mais de 50 lideranças de povos tradicionais

Na última quinta-feira (10.11), o secretário-geral do Conselho Nacional das Populações Extrativistas (CNS), Dione Torquato, participou do painel “Desafios e perspectivas para gestão ambiental e proteção da biodiversidade”, no encerramento do evento “Amazônia de Todas as Luta”, em Manaus (AM).

Realização do CESE e da Coordenação das Organizações Indígenas da Amazônia Brasileira (Coiab), o evento contou com a participação de mais de 50 lideranças de povos tradicionais e indígenas. Outro tópico foi a discussão sobre o quadro político após o resultado das eleições, em outubro, e seus impactos para a vida das populações originárias da Amazônia brasileira.

Em sua fala, o secretário-geral ressaltou a importância da união de forças para garantia de direitos:

“Não queremos mais ser vistos como entrave para o desenvolvimento do Brasil, queremos ser vistos como parte de uma sociedade que merece ter os mesmos direitos que regiões mais desenvolvidas”, afirmou.

FTMJ envia ofício às autoridades do MPF-AM em busca de providências sobre draga garimpeira no rio Juruá

Créditos da matéria: Clara Machado/ Instituto Juruá.

Em busca de providências para inspeção e retirada de uma balsa e uma draga garimpeira no rio Juruá, município de Itamarati, o Fórum Território Médio Juruá (FTMJ) enviou uma Carta de Ofício aos procuradores do Ministério Público Federal do Amazonas (MPF-AM), nesta terça-feira, 25 de outubro. O documento, assinado por 14 organizações sociais, cobra ações conjuntas de prefeituras com órgãos estaduais e federais, e também revela preocupação sobre as movimentações que ameaçam povos originários e a biodiversidade da região.

Segundo o ofício, a draga foi avistada na manhã do dia 22 de outubro, sábado, enquanto transitava no rio Juruá, próximo à comunidade Campina, localizada na Reserva de Desenvolvimento (RDS) Uacari, no município de Carauari. No dia seguinte, ela foi vista em operação perto da comunidade São Brás, em Itamarati.

“Em 24 de outubro a balsa garimpeira foi avistada em frente a praia de reserva e procriação de quelônios Walter Buri, ainda neste mesmo município”, frisa um trecho.

Representantes do FTMJ afirmam que existem requerimentos de Permissão de Lavra Garimpeira (PLG) em trânsito na Agência Nacional de Mineração (ANM), mas até o presente momento não receberam outorga.

Outra preocupação é a poluição ambiental e os prejuízos sociais. Segundo o documento, mais de 40 comunidades ribeirinhas e indígenas ficariam comprometidas, pois as extrações trariam prejuízos ao manejo sustentável de pirarucu e à saúde dos habitantes e da biodiversidade local.

“Não podemos permitir que a calha do Rio Juruá seja tomada por interesses que não respeitem o desenvolvimento sustentável e as singularidades dos povos originários e das espécies nativas”, diz (…) do CNS.

“Já sofremos com a pesca e exploração de madeira ilegal, e agora surge mais uma preocupação, não apenas para as autoridades públicas, mas principalmente para os habitantes. Mais uma vez: resistimos”, complementa.

Em meados deste ano, a Reserva Extrativista (Resex) do Baixo Juruá, entre os municípios de Carauari e Juruá, também recebeu uma draga garimpeira. Na ocasião, ela foi parada por indígenas da etnia Katawxi, que orientaram sobre a área em questão ser protegida por lei. 

Clique aqui para conferir a nota do FTMJ na íntegra.

Consea-AM lança Nota Pública sobre desabamentos de pontes na BR-319

Em virtude dos desabamentos de duas pontes na BR-319, nas datas 28 de setembro e 9 de outubro, o Conselho Estadual de Segurança Alimentar e Nutricional do Amazonas (Consea-AM), por meio desta nota, se solidariza com as famílias enlutadas e prejudicadas socialmente, e frisa seu repúdio à negligência apresentada pelo Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit), visto que desde dezembro de 2021, através de notícias amplamente divulgados pelos veículos de comunicação da região, o órgão já sabia da necessidade de reparos nos bens públicos.

Por meio desta, o Consea-AM também solicita explicações e respostas das autoridades estadual e federal para a população. Visto que além de serem portas para deslocamento social, as pontes sobre o Rio Autaz-Mirim e o Rio Curuçá possibilitavam o abastecimento de alimentos, combustível, remédios e outros insumos necessários a mais de 100 mil habitantes.

O Consea-AM frisa que a situação pode agravar a Insegurança Alimentar na região, “pelo fato das referidas comunidades estarem isoladas e impedidas de fazer o escoamento da produção dos alimentos aos centros urbanos”. Outra preocupação são as famílias rurais dos municípios de de Autazes, Careiro da Várzea, Careiro Castanho e Manaquiri, que agora se encontram sem renda.

“Exigimos respostas das autoridades públicas para sabermos quais os prazos para reestruturação e normalização do tráfego; quais medidas alternativas já foram tomadas para garantir o escoamento eficiente de insumos às cidades atingidas; e quais medidas foram tomadas para assistir as famílias produtoras de alimentos que, por conta da falta de ponte, não podem vender seus produtos aos comerciantes da região metropolitana. Essas respostas são fundamentais neste momento para toda a população que merece tê-las”, esclarece Clodoaldo Pontes, presidente do Consea-AM.

Confira também a nota do Consea-AM na íntegra.

Conselho Nacional das Populações Extrativistas completa 37 anos de luta em defesa dos povos da floresta amazônica

 

Mesmo guardando uma biodiversidade única e culturas milenares, e sendo peça-chave no combate às mudanças climáticas, a Floresta Amazônica e seus habitantes estão em perigo há várias décadas. Com o objetivo de defender seus direitos, no dia 17 de outubro de 1985, o ativista, político e seringueiro Chico Mendes articulou o 1º Encontro Nacional dos Seringueiros, em Brasília (DF). Ali também nasceu o Conselho Nacional dos Seringueiros, atualmente reconhecido como Conselho Nacional das Populações Extrativistas (CNS), que está completando 37 anos de atuação.

Surgido com a união de várias organizações populares da Amazônia, como o Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Xapuri (STTRX) e a Associação dos Seringueiros e Soldados da Borracha de Rondônia (Asboron), o CNS foi fundamental para a idealização de políticas públicas em prol dos povos das florestas. Na época, o país havia acabado de retornar ao sistema democrático, era presidido por José Sarney (PMDB), e o debate público abordava reforma agrária apropriada aos seringueiros, educação, saúde e política de valorização da borracha nativa.

Além de reivindicar direitos aos trabalhadores extrativista da floresta Amazônica, o CNS também formulou o conceito de Reserva Extrativista (Resex), uma modalidade que entrou em vigor, em 1990, e visa a proteção e o uso sustentável dos recursos naturais, assegurando o direito de comunidades tradicionais aos territórios onde sempre viveram, com demarcação feita pelo Estado.

Após receber ameaças constantes de fazendeiros locais e pessoas contrárias às ideias de justiça social, Chico Mendes foi assassinado em sua residência, na cidade de Xapuri (AC), em 1988. O fato virou notícia Brasil afora e provocou indignação, e a pressão sobre o governo brasileiro levou à criação de políticas ambientais de controle do desmatamento, como as Resexs.

Mesmo assim, Chico Mendes instituiu o legado do valor que a Floresta Amazônica possui com sua biodiversidade , abrangendo a conservação da sociobioiversidade  junto com seus potenciais econômicos e sociais. Isso inclui também a atuação de povos tradicionais em sua proteção.

 

Aliança dos Povos da Floresta

Surgida em janeiro de 1987, formada pelo CNS e pela União das Nações Indígenas (UNI), a Aliança dos Povos da Floresta visa fortalecer os vínculos entre indígenas e seringueiros, e integrar desejos pela defesa da mata e de um modo de vida comum entre as partes. Entre seus principais nomes, encontravam-se no início Jaime Araújo, presidente do CNS, Osmarino Amâncio, líder seringueiro, Soeiro Sales Cerqueira Kaxinauá, líder indígena, Chico Mendes, presidente do STTRX, e José Correia da Silva Jaminawá, jovem líder indígena.

Em agosto de 1988, durante um seminário sobre a Amazônia Constituinte organizado pelo Instituto de Estudos Amazônicos (IEA), em Curitiba (PR), Chico Mendes, Jaime Araújo e Ailton Krenak reafirmaram seus compromissos, e convidaram as organizações indígenas do sul do país para participar do movimento.

A consolidação se deu em março de 1990, pouco tempo depois do asssassinato de Chico Mendes. A cerimônia foi o II Encontro Nacional dos Seringueiros e o I Encontro dos Povos da Floresta, em Rio Branco (AC).

Outro momento memorável aconteceu em janeiro de 2020, quando a união foi reafirmada durante o encontro Mebengokrê, entre o líder indigena Kayapó Raoni Metuktire, Ângela Mendes, filha do patrono do CNS, e Júlio Barbosa de Aquino, atual presidente do CNS. A cerimônia foi marcada pela presença de mais de 500 lideranças indígenas e realizada na aldeia de Piaraçu, às margens do rio Xingu, no Mato Grosso (MT).

 

Aniversário de 37 anos

Atualmente, o CNS representa os interesses de trabalhadores que têm suas atividades baseadas na economia extrativista, como seringueiros, soldados da borracha, coletores de sementes, integrantes de projetos agroflorestais, extratores de óleo e plantas medicinais, pescadores artesanais e todos os que exploram recursos naturais de forma sustentável.

Desde a aprovação do Estado para criação de Resexs, o CNS, com apoio de associações locais e entidades representativas, já conquistou a proteção de aproximadamente 38 milhões de hectares em diferentes biomas e em mais de 500 unidades territoriais como Resexs Florestais e Marinhas, Reservas de Desenvolvimento Sustentável (RDS), Florestas Nacionais (Flona) e Projetos de Assentamento Agroextrativista (PAE).

Com o objetivo de garantir dignidade e qualidade de vida aos habitantes da região amazônica, o CNS também tem estabelecido parcerias para implantação de projetos de saneamento e acesso à água, inserção de produtos no mercado institucional, acesso à habitação e energia, apoio a famílias vulneráveis para evitar o desmatamento, acesso à educação básica e ao ensino superior, entre outros benefícios.

Desde novembro de 2019, quando realizou seu IV Congresso, o CNS é presidido pelo seringueiro Julio Barbosa de Aquino, um dos principais nomes do movimento. Com intuito de inovar e democratizar as relações de poder na instituição, a eleição seguiu critérios com composição paritária de homens e mulheres, representação relevante de jovens e de extrativistas de outras regiões do Brasil, além da Amazônia.

Por fim, o CNS se destaca, também, nas discussões nacionais e internacionais que tratam dos interesses dos extrativistas, no que se refere ao papel das populações extrativistas no cenário das mudanças climáticas globais.

Conselho Nacional das Populações Extrativistas completa 37 anos de luta em defesa dos povos da floresta amazônica

A luta em defesa dos territórios tradicionais de uso coletivo, do meio ambiente, da visibilidade das economias da sociobiodiversidade e do fortalecimento das organizações sociais comunitárias são as principais bandeiras encampadas pelo Conselho Nacional das Populações Extrativistas (CNS), que completa 37 anos de existência, nesta segunda-feira, dia 17 de outubro.

Fundado como Conselho Nacional dos Seringueiros, em outubro de 1985, durante o 1º Encontro Nacional dos Seringueiros, em Brasília, o conselho surgiu a partir da luta travada por Chico Mendes contra a expulsão dos povos tradicionais de suas terras e a devastação da floresta.

A partir de 2009, quando da realização do 2º Congresso das Populações Extrativistas da Amazônia e do 8º Encontro Nacional, em Belém, mais de 400 lideranças extrativistas dos nove estados da Amazônia aprovaram a mudança do nome da entidade para Conselho Nacional das Populações Extrativistas, mantendo a mesma sigla CNS. Atualmente a organização é presidida pelo seringueiro Julio Barbosa de Aquino, um dos principais nomes do movimento.

“Todo esse legado, consolidado hoje em mais de 613 territórios já conquistados é uma história de luta muito rica e importante e que precisa ser valorizada, sobretudo com o engajamento e participação de homens, jovens e mulheres na luta incessante pela defesa da vida, da dignidade, da igualdade e da justiça”, destaca o secretário-geral do CNS, Dione Torquato.

Organização de âmbito nacional, o CNS representa trabalhadores agroextrativistas organizados em associações, cooperativas e sindicatos. Seu Conselho Deliberativo é formado por 27 lideranças de diferentes segmentos agroextrativistas de todos os Estados da Amazônia. São seringueiros, castanheiros, coletores de açaí, quebradeiras de coco babaçu, balateiros, piaçabeiros, integrantes de projetos agroflorestais, extratores de óleo e plantas medicinais, entre outras modalidades.

Com reuniões de governança ambiental suspensas, população está sem espaços de diálogo na BR-319

Queimada em área recém desmatada de mais de 1900 hectares, dentro da área protegida pela Concessão de Direito Real de Uso (CDRU) do Rio Manicoré, no Amazonas. O início desse desmatamento foi detectado em março de 2022 pelo Papa-Alfa, sistema de monitoramento do Greenpeace Brasil.

No último dia 30 de agosto, a Secretaria Especial do Programa de Parcerias de Investimentos (SPPI), ligada ao Ministério da Economia, suspendeu as Reuniões de Governança Ambiental no Entorno da Rodovia BR-319, que eram realizadas mensalmente na modalidade on-line. A decisão surpreendeu o Observatório BR-319, pois deixa a sociedade civil organizada e todos os interessados em assuntos relacionados às obras na rodovia sem um espaço de diálogo plural e interinstitucional. Segundo o titular da secretaria, Alex Garcia de Almeida, a medida se deve ao período eleitoral, após o qual as reuniões devem ser retomadas. No entanto, a explicação está longe de dar a segurança necessária para a manutenção do diálogo e garantir a transparência necessária ao processo.

“Lamentamos muito que, em um momento tão importante para o fortalecimento da governança na região, o governo tenha optado por fechar as portas e restringir a participação da sociedade civil organizada e de outros atores tão importantes. Voltamos para um cenário sem espaços de participação e transparência”, disse a secretária-executiva do Observatório BR-319 (OBR-319) em resposta à suspensão das reuniões.

Registro da reunião da SPPI realizada pela SPPI em 1º de julho. Imagem: Reprodução

“Acredito que nossas reuniões de governança são de trabalho, e de fundamental importância para manter a transparência nesse processo. Esta decisão aflige toda a sociedade civil e demais participantes, que precisam e desejam acompanhar cada passo das ações na BR-319. Lamento que as questões políticas partidárias estejam acima do empenho de todos nós que atuamos na região”, disse a diretora executiva da Casa do Rio, Mônica Pilz Borba. “Já participei de inúmeros fóruns e nunca vi paralisação por conta de eleições”, completou.

As Reuniões de Governança Ambiental no Entorno da Rodovia BR-319 começaram em dezembro de 2021, quando a SPPI era comandada por Rose Hofmann, que em fevereiro foi substituída por Alex Garcia de Almeida. A inciativa preencheu, parcialmente, o espaço deixado pelo Fórum de Discussão Permanente sobre o Processo de Reabertura da Rodovia BR-319, criado em julho de 2017 e coordenado pelo Ministério Público Federal (MPF), mas que teve as atividades suspensas em março de 2020, por causa da pandemia de covid-19, e até agora não foram retomadas.

Na avaliação da secretária-executiva do OBR-319, é perigoso que em um momento tão delicado do processo de licenciamento do Trecho do Meio, a população fique sem um espaço acessível para se atualizar e requerer informações sobre o assunto. “O licenciamento do Trecho do Meio avançou a passos largos desde o ano passado, ignorando etapas importantes do processo, como diálogo propriamente dito e as consultas aos povos da floresta. Tivemos audiências públicas realizadas a toque de caixa na pandemia e sem a participação efetiva das populações impactadas pelas obras. Este ano, ainda tivemos a apresentação do Componente Indígena e a liberação da Licença Prévia”, destaca Fernanda Meirelles. “Medidas importantes estão em andamento e precisam ser acompanhadas de perto, como o levantamento da situação fundiária na área de influência da rodovia, concessões florestais, definição da instalação de postos de fiscalização, atualizações sobre as obras no Trecho C e muito mais”, acrescenta.

Além disso, uma das preocupações das organizações membro do OBR-319 é o andamento de fiscalizações de denúncias realizadas nas reuniões, principalmente, em períodos críticos de desmatamento e na temporada de queimadas. Entre as situações acompanhadas pelo OBR-319 estão o aumento da rede de ramais ao sul da rodovia; o avanço do ramal Belo Monte, em Canutama; invasões e desmatamento da Floresta Estadual (FES) Tapauá; e, mais recentemente, desmatamento na região do Tupana, em Careiro.

A coordenadora do Programa de Integridade Socioambiental da Transparência Internacional Brasil, Kátia Demeda, destaca que transparência e diálogo são fundamentais para garantir a efetiva governança ambiental da área de influência da rodovia. “Reuniões como as da SPPI e do Fórum da BR-319 são fundamentais para promover maior transparência das informações sobre o uso de recursos públicos na reconstrução da BR-319. Além disso, é importante estarmos atentos de que a evolução das obras, o processo do licenciamento ambiental e a implementação das pré-condicionantes devem caminhar juntos com as ações de fiscalização na rodovia. Todas estas medidas são intrínsecas”, alerta Kátia.

Falta de diálogo é proposital

Desde 2007, quando o governo federal anunciou a reconstrução da BR-319 e a necessidade do processo de licenciamento ambiental foi estabelecida, pouca coisa foi feita para ampliar o acesso a informações sobre a situação. Eventos esporádicos como audiências públicas e a outras reuniões foram realizados, mas nada que tivesse frequência programada e muito menos que alcançasse as comunidades na área de influência da rodovia.

Para a pesquisadora do Centro de Estudos em Sustentabilidade da Fundação Getúlio Vargas (FGVces) e articuladora da Rede Transdisciplinas da Amazônia (Reta), Dionéia Ferreira, a falta de diálogo com os povos da floresta é projeto. “Existe um distanciamento muito grande entre os interesses dos órgãos públicos com as demandas e pautas das comunidades, e no ano eleitoral isso se aprofunda, uma vez que tudo passa a girar em torno da corrida pelos votos. Os espaços de diálogo são criados e mantidos pela sociedade civil, aonde os órgãos públicos só participam por pressão dos órgãos de controle ou justiça, de modo que o diálogo com a sociedade não é algo que está consolidado na cultura política do Estado”, avaliou.

A também pesquisadora do FGVces e articuladora da Reta, Jolemia Chagas, acrescenta: “O público envolvido nestas iniciativas devia ser a população diretamente impactada pela BR 319, mas não é isso que acontece. A tomada de decisões é realizada à revelia destas pessoas e eu acho que isso é um problema estrutural da política, porque, geralmente, espaços de diálogo, quando criados, estão centralizados na capital ou na sede dos municípios, por isso os moradores de comunidades mais afastadas pouco participam”, avalia Jolemia. “As próprias reuniões de governança ficaram muito restritas às instituições e esqueceram os povos indígenas, ribeirinhos, extrativistas, público que não tem participado dessas rodadas de conversa, embora elas estejam acontecendo de forma virtual”, acrescentou a pesquisadora. “Geralmente, grandes empreendimentos como a BR-319 não são pensados para os povos da floresta, mas para atender interesses empresariais e do Estado, por isso as negociações sobre eles são sempre realizadas entre os governantes e não têm capilaridade de diálogo entre as comunidades que estão nos territórios na área de influência da rodovia”, disse Chagas.

Iniciativas locais

Atualmente, o FGVces coloca em prática na área de influência da rodovia a Agenda de Desenvolvimento Territorial da Região da BR-319, iniciativa de fôlego que promove a escuta e o diálogo em territórios. A ADT tem como territórios-alvo o Distrito de Realidade, no município de Humaitá; comunidades dentro e no entorno de Áreas Protegidas em Manicoré; e comunidades dentro e no entorno da Reserva de Desenvolvimento Sustentável (RDS) Igapó-Açu, no Careiro. “Mesmo quando há iniciativas de diálogo por parte de agentes de governo implicados no empreendimento – muitas vezes o próprio Estado é o proponente da obra – o que se observa é uma motivação mais orientada pela gestão política de conflitos e menos pela oportunidade de qualificação técnica do processo, a partir das contribuições da população. Mas é justamente o conhecimento de quem vive no território que poderia fazer a maior diferença para a efetividade das medidas planejadas”, defendeu a gestora de projetos do FGVces, Carolina Derivi. “No entanto, tão importante quanto haver espaços institucionais de participação é assegurar que todos os segmentos sociais possam compreender plenamente o debate, portanto defender os seus interesses de maneira qualificada e autônoma. Essa é uma responsabilidade do agente de governo que toma a iniciativa do diálogo, mas é também uma responsabilidade e um chamamento à ação para a sociedade civil organizada”, completou.

Reunião da ADT promovida pelo FGVces na RDS Igapó-Açu. Foto: Marina Kuzuyabu/FGVces

Fórum será repaginado

O Fórum de Discussão Permanente sobre o Processo de Reabertura da Rodovia BR-319 deve ser reativado em 2023. Dentro das atividades da ADT está a reestruturação do espaço, que conta com o apoio da Reta e do FGVces. Segundo o procurador da República e coordenador, Rafael Rocha, a principal novidade desta nova fase do Fórum é a discussão de pontos específicos relacionados à governança dos territórios na área de influência da rodovia, no lugar de reuniões com pautas abertas e temas livres. “As discussões do Fórum foram muito interessantes, mas ainda prevalece uma ideia de que a rodovia deve ser recuperada a qualquer custo, à margem da lei. Não há mais nenhuma assimetria de informação sobre o licenciamento ambiental, mas ninguém é obrigado a concordar com as teses do MPF. Os relatórios parciais conclusivos foram aprovados pela unanimidade dos presentes, e ali houve um consenso sobre o que realmente aconteceu durante esses anos de tentativas de recuperação da BR-319. O importante agora é avançar para garantir a governança do território, independentemente da pavimentação”, declarou Rafael. “Agora, a prioridade serão as pessoas que serão diretamente impactadas pelo empreendimento. Vamos realizar reuniões itinerantes, porque nem sempre os moradores das comunidades ao longo da rodovia conseguem se deslocar até Manaus”, completou.

O procurador da República, Rafael Rocha (de cinza), em reunião do Fórum da BR-319 em abril de 2019 no MPF, em Manaus (AM). Ao lado dele (de vermelho) a liderança da RDS Igapó-Açu, Angel Souza.

Enquanto isso…

O Amazonas passa pela pior temporada de queimadas dos últimos 24 anos, quando teve início o monitoramento do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpe). Já são mais 18 mil focos de calor registrados até o mês de setembro, que também registra recorde com mais 8 mil incêndios em todo o estado.

 

 

 

 

 

 

 

 

Imagens aéreas de queimadas na Amazônia entre agosto e setembro. A primeira foi feita pelo fotógrafo Christian Braga, na área da CDRU do rio Manicoré. A segunda foi registrada pelo fotógrafo Nilmar Lage, em uma área com cerca de 8 mil hectares de desmatamento – a maior em 2022, em Porto Velho (RO). Fotos: Greenpeace Brasil

Desde julho, o Greenpeace Brasil, uma das organizações membro do OBR-319, realiza mais uma etapa de seu programa anual de monitoramento de fogo e desmatamento da Amazônia. Na área de influência da BR-319, as investigações estão concentradas na região chamada de Amacro, batizada assim porque compreende municípios entre os estados do Amazonas, Acre e Rondônia, e que registrou desmatamentos de grandes proporções, muitos em florestas públicas. A Amacro, também é chamada de Zona de Desenvolvimento Sustentável (ZDS) Abunã-Madeira.

Em 2022, a região foi palco do maior desmatamento registrado na Amazônia no ano: 7.962 mil hectares, entre os municípios de Porto Velho e Cujubim, em Rondônia, nas Glebas Federais Rio Preto e Jacundá. A destruição equivalente a 10.921 campos de futebol padrão Fifa. Em investigação, o Greenpeace identificou 24 parcelas cadastradas no Sistema de Gestão Fundiária (SIGEF) que se sobrepõem ao desmatamento detectado pelo sistema DETER, metade delas, 12, no nome de um único proprietário.

Outro município crítico da área de influência da BR-319 é Lábrea (AM). Em investigação, o Greenpeace identificou que a expansão do desmatamento no local se dá principalmente por duas estradas irregulares: Ramal do Boi e o Ramal do Jequitibá. Neste segundo, foi flagrado um desmatamento de 2.374 hectares em área de floresta pública sem destinação da Gleba Curuquetê, desmatada entre os meses de fevereiro e junho de 2022. Já no Ramal do Boi, destaca-se o caso da Fazenda Boa Fé. Entre outubro de 2021 e julho de 2022 foram detectados 462 hectares de desmatamento dentro dos limites da propriedade. Em maio, a fazenda Boa Fé foi embargada e multada pelo Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) em R$ 745 mil.

O objetivo do trabalho de monitoramento realizado pelo Greenpeace Brasil é validar em campo os dados oficiais, baseados em imagens de satélites, além de produzir provas em imagens e investigações sobre as situações encontradas. Para isso, a organização combina sobrevoos regulares sobre as áreas com alertas de desmatamento e fogo, com expedições em solo e investigações em bases de dados públicas.

“Esse trabalho é muito importante, pois além de comprovar a precisão dos sistemas de monitoramento por satélite brasileiros, auxilia na produção de provas que possam levar a denúncias, além de levar ao público as imagens do que está de fato acontecendo com a floresta”, diz Rômulo Batista, porta-voz da campanha de Amazônia do Greenpeace.

Com colaboração da jornalista Rosana Villar, da comunicação do Greenpeace Brasil, que gentilmente cedeu textos, informações e imagens para esta seção.