Ativista científico Sebastião Pinheiro faz conferência no Inpa sobre agricultura na Amazônia

Sebastião Pinheiro, que chegou a Manaus na última segunda-feira (9), esteve durante uma semana na aldeia indígena Apurinã Novo Paraíso, em Lábrea, município no interior do Amazonas, ensinando indígenas a fazerem análise em saúde do solo

Manaus – Somente a agricultura de subsistência, que sobrevive do que colhe, pode ser considerada fora das metas da moderna indústria de alimentos. A afirmação é do ativista e cientista em agricultura e saúde, Sebastião Pinheiro, em palestra no Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa/MCTIC). O evento contou com a presença maciça de cientistas e mobilizadores de diversas organizações ligadas à questão da agricultura e sustentabilidade na Amazônia.

Realizada na tarde de terça-feira (17), no Auditório da Ciência, a conferência “O alento ultrassocial do biopoder camponês” teve múltiplos focos. Tratou desde a questão dos alimentos, traçou um caminho entre a alimentação natural e verdadeira para a artificialização da mesma, passando pela indústria de alimentos, chegando até a tecnologia da agricultura sem veneno e sem artificialismo.

Segundo Pinheiro, a indústria de alimentos é o complexo global coletivo de diversas redes de negócio que conjuntamente suprem muito da energia alimentar consumida pela população do mundo. “A indústria de alimentos aciona a regulação local, regional, nacional e internacional, além de regras e normas para produção e venda, incluindo qualidade, seguridade e atividades de lobby”, explica Pinheiro, um dos mais influentes ativistas científicos em agricultura do país.

Para o professor, alguns questionamentos podem ser determinantes para que se tenha no país uma agricultura de qualidade. Segundo ele, na Amazônia existe a Terra Preta de Índio – um tipo de solo escuro caracterizado pela ampla disponibilidade de nutrientes como cálcio, magnésio, zinco, manganês, fósforo e carbono -, que está no Brasil e é um solo feito pela mão humana, que é de uma população tradicional com grande sabedoria.

 

“Como essa população pode nos ajudar a encontrar um discernimento com sabedoria para fazermos uma agricultura de qualidade e como podemos reconhecer neles essa sabedoria, essa cidadania internacional, para salvar este planeta que está em uma situação periclitante?”, questiona o cientista.

A vinda de Sebastião Pinheiro a Manaus foi organizada pela Rede Maniva de Agroecologia, Memorial Chico Mendes, Associação dos Produtores Rurais de Carauari (Asproc) e Operação Amazônia Nativa (Opan) com apoio do Inpa.

Capacitação indígena

O cientista, que chegou a Manaus na última segunda-feira (9), esteve durante uma semana na aldeia indígena Apurinã Novo Paraíso, em Lábrea, município no interior do Amazonas, ensinando os indígenas a fazerem análise em saúde do solo. O objetivo foi capacitá-los para que possam determinar quanto de carbono, enxofre e nitrogênio são fixados no solo sem sair da aldeia.

Sebastião Pinheiro explica que esta análise feita pelos próprios indígenas é importante, porque ao demonstrarem que estão fixando carbono, enxofre e nitrogênio no solo, os gases de efeito estufa diminuem e ao diminuí-los eles o fazem com o direito de desfrutarem da riqueza, que é a captura de carbono.

“O pessoal está muito preocupado em fixar carbono em árvores. O índio com a Terra Preta fixa carbono no solo”, assegura Pinheiro. “Se temos na Amazônia o paul, que é a decomposição do húmus superficial da floresta, transformada em serapilheira, há nesse ambiente micróbios que não podem ser isolados em laboratórios”, explica. “Por isso, temos que fazer com que as populações tradicionais indígenas proponham fixar carbono no solo”.

Para Sebastião Pinheiro, a técnica é simples de fazer e é possível realizá-la com um sistema agroflorestal com pequenos cultivos e com a remineralização do solo que não leva aditivos químicos.

O ativista conta que é estranho na Amazônia se utilizar tanto fertilizantes químicos. “Como aqui chove em quantidade muito alta esse fertilizante certamente será desviado contaminado o solo e os rios e não funcionará”, diz. “Então, essa realidade tem que ser estudada em cada caso e os índios são peritos nisso”.

Depois de Manaus, o ativista sugue para Carauari (AM), onde ficará cerca de dez dias capacitando os extrativistas e ribeirinhos em saúde do solo.

Sobre o palestrante

Sebastião Pinheiro possui uma carreira acadêmica extensa e com atividades junto às populações e movimentos sociais. Estudou em Jaboticabal (SP), graduou-se na Argentina e fez pesquisas na Alemanha, em Toxicologia e Poluição Alimentar e Meio Ambiente. Foi professor na Universidade Federal do Rio Grande do SUL (UFRGS), junto ao Núcleo de Economia Alternativa da Faculdade de Ciências Econômicas. É autor e coautor de diversos livros como “Ladrões da Natureza” e “Saúde do solo versus agronegócios”. Tem participação no desenvolvimento de políticas públicas e discussões sobre agricultura em nível nacional e internacional.

Com informações da assessoria.

Congresso com Sebastião Pinheiro no INPA

Evento aborda vantagens da agricultura camponesa frente ao modelo do agronegócio.

Sistema Agroflorestal Apurinã. Foto: Adriano Gambarini/OPAN.

Manaus (AM) – Na próxima terça-feira (17), às 16h, o Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (INPA) recebe o professor Sebastião Pinheiro para a conferência “O alento ultrassocial do biopoder camponês”. Agrônomo, cientista e ativista em agricultura e saúde, o professor Sebastião irá abordar os ganhos e as características dos modos de plantio de camponeses e de populações tradicionais – apresentando as técnicas envolvidas – em contraposição ao agronegócio e aos danos associados a esse modelo.

Sebastião Pinheiro possui uma carreira acadêmica extensa e com atividades junto às populações e movimentos sociais. Estudou em Jaboticabal (SP), se graduou na Argentina e fez pesquisas na Alemanha, em Toxicologia e Poluição Alimentar e Meio Ambiente. Foi professor na Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), junto ao Núcleo de Economia Alternativa da Faculdade de Ciências Econômicas. É autor e co-autor de diversos livros como “Ladrões de Natureza” e “Saúde no solo versus agronegócios”. Tem participação no desenvolvimento de políticas públicas e discussões sobre agricultura a nível nacional e internacional.

Márcio Menezes, da Rede Maniva de Agroecologia, que é uma das organizadoras do evento, destacou que além da complexidade dos agroecossistemas e dos aspectos produtivos, o professor traz uma visão ampliada do universo da agricultura familar, tratando conceitos do campesinato – com a luta pela terra, os aspectos políticos envolvidos – além da própria agricultura familiar, guardiã de alimentos, da genética agrícola, que se perde com o avanço do agronegócio. “O evento será importante para provocar reflexões e se contrapor ao agrobusiness que avança sobre a Amazônia”, disse.

Para o diretor do Memorial Chico Mendes, que também está organizando o evento, Adevaldo Dias, a conferência irá contribuir na conscientização para uma agricultura que concilia a saúde do solo com a melhor qualidade de vida dos próprios agricultores, sem uso de agrotóxico, sem exploração de um trabalhador sobre o outro. “A palestra dele ganha uma importância por abordar esses temas, por despertar a gente para esse novo modelo de agricultura mais saudável, mais sustentável e que produza alimentos de verdade”, destaca.

Além do INPA, da Rede Maniva de Agroecologia e do Memorial Chico Mendes, fazem parte da organização do congresso a Associação dos Produtores Rurais de Carauari (Asproc) e a Operação Amazônia Nativa (OPAN). O evento, aberto ao público, será no auditório Bosque da Ciência do INPA, localizado na avenida André Araújo, 2936, bairro Petrópolis, em Manaus.

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Com informações da assessoria

Lideranças extrativistas se reúnem em Belém para o IV Encontro do Sanear Amazônia

Durante o encontro foi realizado um balanço, seguido de avaliações das entidades em relação à implementação do programa Sanear Amazônia

Manaus – Dos dias 6 a 8 de abril aconteceu em Belém o IV Encontro do Sanear Amazônia. O evento reuniu lideranças de entidades extrativistas de várias partes do país, como Tocantins, Amapá, Amazonas, Acre, Maranhão e Pará com o objetivo de compartilhar experiências e perspectivas de avanço do programa Sanear Amazônia entre as famílias extrativistas promovendo acesso à água potável e ao saneamento básico.

Durante o encontro foi realizado um balanço, seguido de avaliações das entidades em relação à implementação do programa Sanear Amazônia, relatando suas experiências e impressões. De acordo com Joaquim Belo, presidente do Conselho Nacional das Populações Extrativistas (CNS), o encontro foi primordialmente um espaço de conversa política.

De acordo com Joaquim, até dezembro de 2017, mais de 2 mil famílias foram atendidas pelo programa. “Queremos ir além, chegar em todas as reservas e todo território amazônico. Precisamos definir novas estratégias para avançar através do estado, esse é o objetivo desse encontro, compartilhar experiências, fortalecer as lideranças e elaborar  maneiras de ampliar o acesso à água potável, ao banheiro com sanitário e com privacidade. Isso pode ser alcançado através do Sanear”, disse Joaquim.

Na região Amazônica, a maior parte da população em situação de vulnerabilidade socioeconômica não tem acesso à água potável. “Em geral a água usada para cozinhar é retirada do mesmo local que se utiliza para lavagens de louça e roupa. Além disso os banheiros a céu aberto tendem a contaminar o solo”, explica Paulo Bonassa, biólogo do Memorial Chico Mendes.

Para Joaquim o programa Sanear Amazônia é uma conquista. “É uma política pública onde, através de uma tecnologia social de captação e distribuição de água, se leva a cidadania que tem sido negada às populações extrativistas. Se nosso povo adoecer, estamos perdidos, porque médico não chega nas comunidades, nossa alternativa é prevenir e o Sanear é a ferramenta”, finalizou.

Sanear Amazônia

Iniciado como projeto, o Sanear Amazônia foi desenvolvido em comunidades do Médio Juruá, no Amazonas em 2009. A tecnologia social é composta de um kit para captação e distribuição de água potável, banheiro com sanitário e esgoto. “É um programa bastante completo. “Diversas vezes, projetos implementados pelos nossos governantes não são pensados a longo prazo, são ações que ficam reféns de uma determinada gestão, que, após encerrada leva consigo seus benefícios”, disse Joaquim Belo.

São dois sistemas de captação de água, o “Sistema de Acesso à Água Pluvial Multiuso Comunitário” e o “Sistema de Acesso à Água Pluvial Multiuso Autônomo”. No comunitário é captada água da chuva, de poços e dos rios que são tratadas no interior da tecnologia e se tornam potáveis. No sistema autônomo a captação é feita apenas da água das chuvas. Em comunidades com cinco a seis famílias é implementado o sistema comunitário, em um número maior é utilizado o sistema autônomo.

“Em comunidades muito distantes ou nós nos dispomos a fazer, ou nunca será feito. E não é um sistema caro, especialmente se analisarmos os benefícios que proporcionam nas comunidades, pois os impactos gerados refletem na saúde e na produção dessas populações”, acrescentou o presidente.

Ricardo Bernardes, professor da UNB presente no evento, foi um dos principais responsáveis pela elaboração do projeto. “O Sanear começou com uma demanda dos comunitários, fizeram uma plano na reserva do médio Juruá e esse pedido surgiu por parte dos moradores. Fizemos os primeiros diagnósticos e conseguimos recursos da Petrobras para começar a pensar a tecnologia”, contou o pesquisador.

Ricardo relata que o médico sanitarista Oswaldo Cruz passou por algumas comunidades na amazônia e apontou a questão sanitária como um grave problema. “Essa questão apontada pelo médico em 1913 não tinha uma expectativa de solução até 2007. Então nos questionamos se seria necessário mais cem anos pra que algo fossem feito por essas pessoas”, questionou.

Os banheiros são muito solicitados pelas mulheres, conforme Ricardo. “Muitas nunca tinham experimentado usar um banheiro com privacidade. As pias para cozinha também são muito comemoradas. As mulheres precisavam fazer várias viagens, carregando grandes vasilhames de água para as atividades domésticas”, explicou.

De acordo com ele, as longas distâncias que as mulheres percorrem para coletar a água e o esforço para carregar os reservatórios, também causavam problemas de saúde. “Eram recorrentes as dores na coluna, então até essa questão que nem esperávamos, teve desdobramentos positivos”

Na comunidade Boa Esperança no município de Curralinho (PA), nasceu Letícia de Moraes, extrativista e supervisora do Memorial Chico Mendes no Pará.

“Na comunidade de onde venho, as tarefas de manuseio da água são, em sua maioria, feitas pelas mulheres.  A melhoria da qualidade de vida foi muito grande, de tempos em tempos nós perdíamos entes queridos para doenças advindas das parasitoses. Então o Sanear veio dar ‘aquele gás’ que a comunidade precisava pra fortalecer a organização, porque muitas famílias estavam desacreditadas em melhorias das condições de vida através de políticas públicas. Com o programa nós nos fortalecemos por meio da participação social. Se ampliou o entendimento de que através da organização comunitária mais projetos poderiam chegar até a comunidade e melhorar a vida de todos”, comentou Letícia.

Em Boa Esperança, se produz açaí, farinha, há projetos de piscicultura, cacau, cupuaçu, abacaxi, banana, mandioca, macaxeira e outros produtos e, de acordo com Letícia, o acesso à agua facilitou as atividades de produção.

Ela relata que os sanitários eram a céu aberto  e a chegada do Sanear foi uma inovação positiva para a comunidade Boa Esperança. “Nós, que recebemos o Sanear, queremos que todas as populações extrativistas também recebam, porque sabemos a importância do programa e das melhorias que proporciona. O saneamento ainda é um direito que é negado aos extrativistase e nós também somos cidadãos de direitos. Não recebemos o programa Sanear, recebemos saúde. As pessoas quando recebiam os banheiros, as caixas, fossas e captação de água, começaram construir melhorias em suas casa e até mesmo o movimento das mulheres se fortaleceu” comemorou, a extrativista.

No fim do evento, lideranças comemoram os avanços conquistados através do Sanear Amazônia / Foto: Maysa Leão

Sanear Amazônia premiado

O programa ficou em primeiro lugar no Prêmio Fundação Banco do Brasil de Tecnologia Social, na categoria Comunidades Tradicionais, Agricultores Familiares e Assentados da Reforma Agrária em 2015, onde concorreu com outras 154 práticas em seis categorias. O programa é parte de uma parceria entre o Ministério do Desenvolvimento Social (MDS) e o Memorial Chico Mendes.

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Foto: Maysa Leão

 

Robson Costa – Associação dos Moradores da Reserva Extrativista MApuá – AMOREMA / Foto: Maysa Leão

 

Ivanildo Brilhante, membro do CNS / Foto: Maysa Leão

 

Fábia, Beto e Elisângela representantes da Associação de Mulheres do Baixo Cajarí – AMBAC / Foto: Maysa Leão

 

Clodoaldo Pontes, Joaquim Belo, Nazaré Pereira, Letícia de Morais e Dione Torquato / Foto: Maysa Leão

 

Ângela Mendes, a cantora Nazaré Pereira e Maria José Weiss / Foto: Maysa Leão

 

Luis Tenório, Dione Torquato e Paulo Rocha / Foto: Maysa Leão

Por: Maysa Leão

CNS é convidado para participação em curso de formação para juízes no Amazonas

No total, 47 juízes estiveram presentes no evento / Foto: Maysa Leão

Manaus – No último dia 22 de março,  o Conselho Nacional das Populações Extrativistas (CNS) foi representado através do Secretário de articulação da juventude extrativista Dione Torquato, durante um curso de formação para juízes do estado do Amazonas. A palestra foi organizada pelo procurador da república Fernando Merloto e promoveu a aproximação entre o Ministério Público Federal (MPF), o Tribunal de Justiça e algumas das demandas apresentadas pelo representante do CNS e por Renato Tukano, liderança indígena da Federação dos Organizações indígenas do Rio Negro (Foirn).

O objetivo do encontro foi promover a visibilidade política de grupos sociais de identidade étnica e coletiva. Os saberes tradicionais, expressos, entre outras formas, pelo manejo de recursos naturais dos povos da floresta, são práticas históricas de adaptação que proporcionam níveis de sustentabilidade ecológica, sendo aspectos indispensáveis à conservação da floresta e ao desenvolvimento das populações ribeirinhas. No total, participaram do curso de formação 47 juízes, sendo 30% do total no Estado. “Provavelmente a partir de maio eles estarão efetivamente locados nos municípios do interior do Estado e já respondem por estes remotamente”, diz Merloto.

Renato Tikuna fez um relato sobre as vivências experimentadas pelo seu povo no município de São Gabriel da Cachoeira / Foto: Maysa Leão

Na oportunidade, Dione destacou a importância das florestas para a estabilidade do clima, o papel das populações tradicionais e suas reivindicações pelo território e pelo fim da violência contra seus líderes, tendo em vista que a ação dos governos nem sempre corresponde ao seu discurso no âmbito internacional sobre o papel dos povos na conservação da floresta. “Para mim foi uma honra participar desse evento, eu nunca havia visto um juiz antes e eu fui muito bem recebido. O Dr. Fernando é um grande apoiador das causas pelas quais lutamos através do MPF e eu não poderia deixar receber o convite com alegria”, comentou Torquato.

Dione Torquato destacou as ações do CNS e os enfrentamentos dos povos pelo direito à terra / Foto: Maysa Leão

O ativista destacou também o papel da justiça durante o processo de enfrentamento das demandas locais, no reconhecimento, fortalecimento e garantia dos seus direitos territoriais, sociais, ambientais, econômicos e culturais, com respeito e valorização à sua identidade, suas formas de organização e suas instituições.

Para Fernando Merloto, a participação do membro do CNS levou um pouco da realidade para o tribunal de justiça. “Dione apresentou um pouco do que esses juízes irão enfrentar no interior do Amazonas. Muitos deles chegaram no Amazonas sem conhecimento sobre o contexto social porque a maioria vem de outros estados e isso é um choque que vai gerar respostas diversas. Então esse momento foi muito importante e pode gerar resultados positivos na atuação desses juízes, e essa é a nossa intenção”, Disse Fernando.

De acordo com o procurador, algumas demandas  como reintegrações de posse exigem um conhecimento técnico para análise. “Passamos  por reintegrações de posse em áreas indígenas sem os mecanismos adequados, sem ouvir o manual da ouvidoria agrária nacional que as vezes acontece por desconhecimento e essa proximidade vai permitir que eles nos procurem também”, contou Merloto.

Magistrados cumprimentam o ativista após o evento / Foto: Maysa Leão

O Juiz Marco Aurélio, que responde pela 2ª Vara de Manicoré, relata que as demandas apresentadas por Dione transcendem a questão agrária, fundiária e humana. “Ele trouxe pra nós a realidade local, fazendo com que nós saiamos dos nossos gabinetes e julguemos com mais sensibilidade com mais amor à causa. A presença dele veio nos alertar dessa necessidade de conhecermos o local e as demandas. A fala que me ficou gravada foi ‘antes de dar uma liminar, vá conhecer o local a disputa que pode ser deturpada pelos grandes interesses'”, afirmou o juiz.

“Fiquei fã do Dione, é uma missão muito nobre de levar essa causa com tanta apropriação e tanto comprometimento”, finalizou. O evento marcado para durar até as 18h se estendeu até as 19h e foi comemorado pelos participantes e organizadores.

Por: Maysa Leão

Entidade norueguesa se reúne com CNS e Memorial Chico Mendes para proposta de parceria

O evento teve duração de dois dias buscando uma parceria estratégica para assegurar os direitos territoriais dos povos e populações extrativistas

Manaus – Nesta segunda (26) representantes do Memorial Chico Mendes se reuniram com membros do Conselho Nacional das Populações Extrativistas (CNS) e da entidade norueguesa Rain Forest para um seminário que dará início à articulação de uma parceria entre as três entidades. O projeto que esta em fase de elaboração terá duração de 1 ano, podendo se estender para outros 5 e chegar até 20 anos de parceria.

Inês Luna, assessora da Rain Forest Foundation durante sua exposição no evento / Foto: Maysa Leão

Inês Luna, assessora da Rain Forest Foundation, falou sobre o evento que iniciou com um seminário de apresentação das propostas de gestão e principais problemáticas a serem enfrentadas. Para Inês, o seminário é o começo da colaboração entre a Rain Forest, o Memorial Chico Mendes e o CNS para uma parceria de cinco anos.  “Estamos fazendo uma parceria estratégica, já que as três organizações tem objetivos similares, queremos assegurar os direitos dos povos, especialmente os direitos territoriais pois trabalhamos com a preservação da floresta. Acreditamos em uma gestão sustentável das florestas. A parceria tem esse escopo e financiar políticas nacionais, promovendo uma política pública integrada em relação à população tradicional extrativista que incorpore essa visão da ‘floresta em pé’ mas também de uma floresta produtiva que da conta de melhorar as condições de vida das populações que moram nela. Estamos começando um novo programa no Brasil e achamos importante incluir o CNS”, contou Inês.

A Rain Forest Foundation tem parceiros em várias regiões do mundo como na indonésia, Congo e outros países amazônicos como a Colômbia e o Peru e a parceria com o Memorial Chico Mendes é inédita no Brasil.

Joaquim Belo, presidente do CNS falou do evento como uma construção coletiva. “Vamos estabelecer metas e indicadores, sairemos daqui com com essas projeções. O objetivo central é apoiar o CNS e discutir as políticas públicas junto aos governos, seja federal, estadual ou municipal. Esse apoio nos dá condições de nos articularmos para isso. Temos necessidades de uma assessoria jurídica por exemplo, para que tenhamos condições de de enfrentar juridicamente algumas amarras em certas leis que prejudicam a nossa comunidade”, explicou Joaquim.

Ângela Mendes apontando as particularidades da luta das mulheres extrativistas durante a reunião / Foto: Maysa Leão

Ângela Mendes, atuante na luta da mulher amazônica e membro do CNS, também esteve presente no evento reafirmando a defesa dos direitos das mulheres. “Como o evento é uma construção, é indispensável que as problemáticas entorno das questões de gênero sejam pontuadas, essa é a minha principal contribuição para o evento de hoje”, revelou.

De acordo com Adevaldo Dias, presidente do Memorial Chico Mendes, a reunião traz uma reflexão sobre a situação dos extrativistas, avaliando se o as problemáticas apresentadas em 2017 seguem atuais.

“Um ano e meio atrás foram propostas ações e uma parceria que pudesse melhorar a vida dos extrativistas. Tanto no processo de criação de unidades sustentáveis e territórios de uso coletivo como com a gestão promovida pela comunidade não só participando, mas tomando a frente dessa gestão. O CNS buscou a Rain Forest Foundation e fez a proposta. A parceria com a fundação é a nossa primeira experiência, ficaremos em teste no primeiros ano podendo ser estendido por 5 anos e no total podendo chegar a 20 anos”, disse Adevaldo.

No total, foram dois dias de evento que foi apenas o ponto inicial de uma parceria que trará mais participação dos extrativistas nas ações e melhorias nas condições de vida dessas populações.

Fundação Banco do Brasil e Memorial Chico Mendes articulam novas propostas de ação

Manaus – Nesta terça (20) o Memorial Chico Mendes recebeu a visita dos assessores da Fundação Banco do Brasil (FBB) Fabrício Araújo e Marco Aurélio Lemos. O encontro teve o intuito de discutir novas perspectivas de apoio e investimento em tecnologias sociais fortalecendo a parceria entre as instituições e pensando no futuro.

Clodoaldo Pontes, assessor do Memorial Chico Mendes, ressalta que a parceria tem gerado bons resultados e garante que a área de produção está no foco das atenções. “A Fundação Banco do Brasil já investe e apoia tecnologias sociais de acesso à água, mas haverão novos editais de tecnologias para a área de produção”, revelou.

A parceria de longa data entre a FBB e o Memoria Chico Mendes irá continuar trazendo benefícios para as populações da floresta.

Comunidades de Fonte Boa serão beneficiadas com 99 tecnologias sociais do Sanear Amazônia

Tecnologia social instalada pelo Sanear Amazônia , que capta água de chuva e trata água do rio para distribuir em comunidades de reservas extrativistas irá beneficiar 99 famílias

O Programa Sanear Amazônia irá beneficiar 99 famílias comunitárias de Fonte Boa, a 887 quilômetros de Manaus, através de uma tecnologia social de acesso à água das chuvas. Dia 10 de fevereiro iniciaram as reuniões de mobilização das comunidades através da reunião dos diretores da Associação Agroextrativista de Auati Paraná (AAPA) com os representantes do Memorial Chico Mendes, do Conselho Nacional das Populações Extrativistas (CNS) e da Associação de Produtores Rurais de Carauari (Asproc). A previsão para as obras iniciarem é para o fim do mês de abril.

Durante o encontro, diretores da reserva extrativista Auati Paraná (AAPA) receberam os representantes para discutir as principais questões do processo de implementação das tecnologias sociais de acesso à água potável às famílias extrativistas que serão beneficiadas nas comunidades da reserva extrativista Auati Paraná.

As dúvidas sobre a tecnologia social foram debatidas durante os diálogos durante reunião. As mulheres foram as que mais participaram e confirmaram a importância da tecnologia social para a família viver melhor, com mais asseio e saúde para as crianças.

“A gente não tinha privacidade para tomar banho, então o nosso banho era de roupa mesmo. Pra gente que é mulher é até mais complicada essa situação. Como estou grávida, o trabalho de ir até a beira do rio tomar banho ou buscar a água depois do trabalho é difícil”, contou Fabíola Silva, extrativista e comunitária.

Durante o evento, foi destacada a importância das parcerias locais com o Instituto Chico Mendes de Biodiversidade (ICMBio) para apoiar o uso da madeira da reserva para a construção da tecnologia social e com a prefeitura do município no tratamento e controle de parasitoses de crianças de 0 a 12 anos, filhos dos participantes do Sanear e assim como a atuação da Secretaria da Assistência Social em agilizar o cadastramento e atualização do NIS das famílias que serão contempladas.

O coordenador técnico Clodoaldo Pontes reforçou junto aos comunitários a necessidade do compromisso em fazer a gestão e a manutenção da tecnologia social, como forma de garantir que o equipamento prolongue sua utilização. Por isso, todas as comunidades irão assinar um termo de compromisso se responsabilizando com o uso e a manutenção da tecnologia social construída e entregue as famílias extrativistas.

Dione Torquato, representante do CNS, resgatou a história do movimento extrativista brasileiro nos últimos 30 anos que resultou em um conjunto de conquistas. “Água e saneamento é resposta da luta dos extrativistas, hoje transformada em politicas públicas”, disse Dione.

Durante as visitas e reuniões nas comunidades foi constatado que há uma necessidade de água de qualidade e saneamento básico nessas comunidades. A tecnologia social Sanear Amazônia foi bem aceita pelas famílias extrativistas, sobretudo, por vir atender de forma imediata uma questão básica das comunidades: água e saneamento.

Para o coordenador do projeto, Clodoaldo Pontes o resultado das visitas e reuniões demonsrtra que as famílias precisam acessar a tecnologia social, como necessidade imediata. “Nenhuma comunidade tem água de qualidade e saneamento. A tecnologia social em menor ou maior escala é o irá possibilitar essas comunidades a vivenciarem a cidadania”, disse.

Programa Sanear Amazônia

O programa ficou em primeiro lugar no Prêmio Fundação Banco do Brasil de Tecnologia Social, na categoria Comunidades Tradicionais, Agricultores Familiares e Assentados da Reforma Agrária, em 2015, onde concorreu com outras 154 práticas em seis categorias. O programa é parte de uma parceria entre o Ministério do Desenvolvimento Social (MDS) e o Memorial Chico Mendes.