Presença feminina no Chamado da Floresta reflete ativismo político das mulheres extrativistas por suas demandas

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Foto: Phernando Rodrigues/Bolg do Ícaro

Reunidas para participar do Chamado da Floresta, mulheres marcaram presença no encontro realizado na Comunidade São Pedro, em Santarém, com objetivo de apresentar e buscar soluções para suas demandas, consolidando na agenda política do Estado a garantia de direitos para populações extrativistas de todo País. Educação, saúde, planos de manejo e representação social foram alguns dos temas debatidos durante dois dias de diálogo em plena floresta amazônica.

Em sua terceira edição, a presença de mulheres no Chamado da Floresta tem aumentado significativamente. Esse crescimento reflete a percepção de “comunidade” das populações extrativistas do País. Desde atividades produtivas a liderança política, as mulheres sempre desempenharam funções fundamentais na construção e organização social, econômica e política das unidades de uso coletivo.

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“Disseram que quando eu crescer minha vida vai ser melhor”, revela Islaine, de 6 anos, moradora da Comunidade São Pedro

Dentre as reivindicações, algumas questões permearam as conversas de forma transversal, tais como o fim da violência contra os povos da floresta, formulação de uma educação que considere o contexto ambiental, geográfico e político e garantia de participação nos conselhos deliberativos para gestão das reservas extrativistas. A partir do tema “Juventude, floresta preservada é vida continuada”, as mulheres jovens puderam expor suas necessidades para continuidade dessa vida. Em se tratando de saúde e educação, são elas que mais tem problemas a serem sanados. Nas propostas apresentadas constam, por exemplo, construção de creches e pré-escolas nas comunidades e aumento da quantidade de “ambulanchas” (unidades de pronto-atendimento adaptadas em lanchas) e postos de saúde que ofereçam atendimento ginecológico e exames preventivos, como a mamografia.

O movimento social esteve presente fortalecendo as pautas das mulheres do campo, da floresta e das águas por meio de representantes da Confederação Nacional de Trabalhadores Rurais (Contag), em parceria com diversas entidades como a Marcha Mundial das Mulheres, Articulação de Mulheres Brasileiras (AMB),  Movimento Articulado de Mulheres da Amazônia (Mama), Movimento Interestadual de Mulheres Quebradeiras de Coco Babaçu, União Brasileira de Mulheres, além da vice-presidente do Conselho Nacional das Populações Extrativistas – CNS, Edel Moraes, que coordenou e apresentou o encontro. Essas mulheres apresentaram também reivindicações que são resultados da Marcha das Margaridas, que acontece anualmente em Brasília: garantia permanente a alimentos de qualidade e em quantidade suficiente, sem comprometer outras necessidades essenciais; acesso à terra e valorização da agroecologia, uma educação que não discrimine as mulheres, o fim da violência sexista, , a ser ou não ser mãe com segurança e respeito; autonomia econômica, trabalho, renda, democracia e participação política.

Tereza Campello, ministra do Desenvolvimento Social e Combate à Fome. Foto: Paulo Carvalho/MDA

Tereza Campello, ministra do Desenvolvimento Social e Combate à Fome. Foto: Paulo Carvalho/MDA

Contudo, não foram apenas as mulheres extrativistas que protagonizaram as discussões no Chamado da Floresta.  Por se tratar de um espaço dedicado ao diálogo entre movimento social extrativista e governo, a participação de secretárias-executivas dos Ministérios da Saúde, da Educação, do Desenvolvimento Agrário e do Meio Ambiente, prefeitas de municípios da região amazônica e da ministra do Desenvolvimento Social e Combate à Fome Tereza Campello consolidou a presença feminina frente a debates que avaliam e propõem medidas e políticas para uma população historicamente desatendida pelo poder público.

Alguns ganhos das mulheres extrativistas foram mencionados, como o Mês da Saúde da Trabalhadora do Campo, que passa a integrar o calendário oficial do Sistema único de Saúde (SUS). São 30 dias dedicados a monitorar e intensificar as ações de atenção integral à saúde feminina por meio de mobilização nacional. Neste ano, acontece em novembro, quando os postos de saúde se organizam para acolhê-las, de forma prioritária, ofertando consultas clinico-ginecológicas e exames preventivos, como papanicolau e mamografia, reforçando, assim, o cuidado ao câncer, especialmente de mama e colo.

Phernando Rodrigues/Blog do Ícaro

Phernando Rodrigues/Blog do Ícaro

Embarcando no “Amazônia de Deus”, que ainda enfrentaria três dias de viagem pelos rios amazônicos até Manaus, a extrativista Maria Raimunda Leão relatou sua experiência em mais um Chamado da Floresta: “Achei bonito ver tantas mulheres participando, mas ainda é pouco. Nos chamados anteriores o número de mulheres era visivelmente menor e eu me perguntei ‘cadê as companheiras?’ A partir daí comecei a mobilizar na minha comunidade, porque a gente sabe falar, a gente sabe o que quer. Nossos maridos conhecem os problemas que enfrentamos nas reservas, mas eles nunca vão entender que existem situações que só nós podemos falar por nós mesmas. Mulher não é só pra cuidar da família. A gente está aqui pra construir também”.

Sanear Amazônia reduz dificuldades no cotidiano das mulheres extrativistas

Caminhar quilômetros com baldes na cabeça do rio até sua casa, várias vezes por dia; tomar banho de roupa; testemunhar o baixo rendimento escolar das crianças por conta de verminoses contraídas pela água sem tratamento e tentar manter minimamente a segurança alimentar da família: essa é a realidade diária de milhares de mulheres na Amazônia.

Elaborado a partir dessa reflexão sobre o cotidiano das mulheres ribeirinhas, o Sanear Amazônia, se consolidou como política pública em saneamento básico para as famílias extrativistas e é resultado da soma de esforços entre o Conselho Nacional das Populações Extativistas -CNS, Memorial Chico Mendes e Universidade de Brasília – UNB para melhorar a qualidade de vida nas unidades de uso coletivo da região através da construção da tecnologia social (que capta, trata e distribui ou reserva água da chuva), de banheiros e fossas sanitárias.

Maria Francisca do Carmo, vice-presidente da Comunidade Bauana

Maria Francisca do Carmo, vice-presidente da Comunidade Bauana

“A gente tinha que pegar uma água do rio, sem tratamento, sem nada. Sem contar que a gente tinha que fazer tudo no porto. Chegava tarde da roça, se tivesse peixe pra limpar, ainda tinha que ir tratar peixe”, comenta Maria Francisca do Carmo, vice-presidente da Comunidade Bauana, no município amazonense Carauari.

Além de trabalhar nas atividades produtivas para sustentar a família, as mulheres extrativistas dispensam parte do seu dia tentando amenizar os problemas causados pela falta de um sistema de distribuição de água e saneamento básico. As ações do Sanear Amazônia garantem a essas mulheres, principalmente, comodidade e privacidade nos momentos de higiene pessoal. A melhoria na saúde, no rendimento escolar e na segurança alimentar das famílias beneficiadas também apontam resultados positivos na implementação da tecnologia social.

Um dos idealizadores, o professor de Engenharia Civil e Ambiental da Universidade de Brasília (UnB) Ricardo Silveira Bernardes conta que a ideia da construção do banheiro como parte da tecnologia social partiu das próprias mulheres das comunidades. “Elas contavam que o banheiro era a possibilidade de terem privacidade porque tomavam banho de roupa nos igarapés. Essa sensação, de tomar banho por completo, era rara.”

20150720_101616Iniciado como projeto, o Sanear Amazônia foi desenvolvido em comunidades do Médio Juruá, no Amazonas. Depois, já como política pública, se expandiu com o financiamento do Ministério do Desenvolvimento e Combate à Fome para mais três estados da região Norte: Pará, Amapá e Acre. Ao todo serão 2.800 famílias beneficiadas com a implantação do sistema, além de capacitações e oficinas em gestão da água e saúde. As mulheres participam ativamente desde articulação social, na seleção das famílias, à implementação da tecnologia, durante as capacitações. No Amapá, por exemplo, a entidade executora é a Associação de Mulheres do Baixo Cajari – Ambac, onde serão contempladas 228 famílias extrativistas.

O Sanear Amazônia foi vencedor do Prêmio Fundação Banco do Brasil de Tecnologia Social 2015. A ministra do Desenvolvimento Social e Combate à Fome, Tereza Campello, destaca que o prêmio reconhece o sucesso de um programa ainda novo que garante água para populações isoladas da Amazônia. “O programa vai levar cidadania para essas comunidades isoladas extrativistas e ribeirinhas. Ainda temos uma longa jornada, porque são muitos sem acesso à água de qualidade. Mas já começamos e queremos fazer muito mais.”

 

 

Chamado da Floresta reúne mais de 3 mil pessoas em Santarém

chamado3Mais de 3 mil de pessoas participaram do III Chamado da Floresta, realizado pelo Conselho Nacional das Populações Extrativistas- CNS na Reserva Extrativista Tapajós-Arapiuns, localizada em Santarém, município paraense. O tema da terceira edição do encontro foi “Juventude, floresta preservada é vida continuada” e trouxe para o debate jovens extrativistas de todo o Pais.

Durante dois dias, os participantes se dividiram em grupos temáticos discutindo pautas específicas para áreas como saúde, geração de renda e regularização fundiária. Muitos extrativistas aproveitaram o espaço para denunciar situações que sofrem cotidianamente nas suas unidades de conservação, desde ameaças de madeireiros à falta de diálogo com gestores das autarquias federais.

Nas discussões, a reivindicação mais recorrente é de que a política de reforma agrária atenda às necessidades das famílias que já vivem em unidades de conservação reconhecidas por decretos federais e às comunidades que ainda buscam esse aparato legal. Os planos de manejo ainda não aprovados pelas autarquias responsáveis também são outro impedimento no desenvolvimento das atividades produtivas. O manejo comunitário é fundamental para preservação e conservação dos recursos naturais, uma vez que a mobilização das comunidades não se limita apenas aos ganhos econômicos, mas preocupa-se com a biodiversidade.

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Diante desse panorama, denúncias de exploração ilegal de terra e de ameaças aos trabalhadores extrativistas foram o foco das discussões em diferentes momentos. Ângela Mendes, filha de Chico Mendes, cobrou com veemência fiscalização dos gestores do ICMBio: “Estamos aqui falando tudo que temos passado e que a Instituto já deveria ter se atentado a resolver. Esses problemas não são atuais, está aí a história que não nos deixa mentir”, pontuou.

Chamados especialmente para o encontro, o grupo que discutiu políticas de educação teve presença significativa da juventude. Diversas dificuldades enfrentadas pelos jovens extrativistas foram colocadas em pauta, refletindo sobre suas causas, propuseram soluções que abarquem as especificidades do segmento extrativista, tais como a elaboração de matriz curricular contextualizada com a realidade das comunidades extrativistas das unidades de uso coletivo e Implantação de um modelo diferenciado de ensino superior itinerante para permitir o acesso dos jovens que vivem nas reservas. Para Klisman Ribeiro, jovem de 16 anos que reside em Tefé, no Amazonas, “é bom que os jovens possam estudar, mas também retornar com esse conhecimento para sua comunidade”.

Atracados na Ponta do Pedrão, praia onde inicia a Comunidade São Pedro, cinco barcos de médio e grande porte hospedavam os participantes. A troca de experiências e vivências, as situações parecidas, desafios compartilhados encontraram no balanço do carimbó do Grupo Flor do Mangue, da Reserva Extrativista Mestre Lucindo em Marapanim, município paraense, um momento para descontração ao final do primeiro dia de discussões.

Para o segundo dia do encontro, o objetivo era apresentar as demandas discutidas aos representantes do Governo Federal. Esse momento foi especialmente aguardado pelos participantes e contou com a presença de Tereza Campelo, ministra do Desenvolvimento Social e Combate à Fome e representantes do Ministérios do Meio Ambiente, do Desenvolvimento Agrário e da Educação, além de prefeitos e deputados da região amazônica e parceiros de entidades que trabalham temas relacionados aos dos povos extrativistas.. Durante sua fala, a ministra ressaltou o compromisso do governo em dialogar com o movimento social. “Desde o governo Lula que esse diálogo foi iniciado, principalmente nos órgãos executivos, porque nós, gestores, não podemos desenvolver políticas públicas sem conversar com aqueles que são o público, que precisam dessa política. E é por isso que estamos todos reunidos aqui hoje”.

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Seu Romilson, morador da Comunidade São Pedro, (ao centro) foi sorteado e ganhou a tecnologia social de acesso à água para que a ministra Tereza Campello conhecesse o sistema pessoalmente

Ao final da assembleia, Tereza Campello reafirmou a parceria entre MDS, CNS e o Memorial Chico Mendes para expandir o Sanear Amazônia para mais reservas extrativistas. Atualmente, está sendo implementado em quatro estados da região Norte e foi uma das demandas de saúde e saneamento básico mais requerida pelos extrativistas ao longo das plenárias por ser uma política pública recente, mas que já apresenta resultados positivos nas comunidades.

Voltando para o barco que o trouxe do Amazonas, “Toquinho”, que viajou três dias para chegar à comunidade, resumiu sua expectativas sobre os frutos do Chamado: “Se esse povo veio da floresta para uma comunidade dentro da floresta e conseguiu dialogar é sinal de que juntos podemos (e vamos conseguir) muito mais”.

30 anos de luta

O Chamado da Floresta faz parte das comemorações dos 30 anos de luta do Conselho Nacional das Populações Extrativistas – CNS, que foi inicialmente articulado por Chico Mendes quando lutou pela defesa da floresta para os seringueiros no Acre e se espalhou para toda a Amazônia. Durante o Chamado, Raimundo de Barros, conhecido como “Raimundão”, e  Pedro Ramos, fundadores do Conselho, foram homenageados e suas trajetórias reconhecidas pelo público presente.

 

Encontro com MDS reconhece ganhos do Sanear Amazônia

presidente da Asproc, Flávio do Carmo, o presidente do Memorial Chico Mendes, Adevaldo Dias, e o professor da Universidade de Brasília (UnB), Ricardo Bernardes e a ministra Tereza Campello

A equipe de coordenadores do projeto Sanear Amazônia participou de encontro com a ministra do Desenvolvimento Social e Combate à Fome (MDS), Tereza Campello, em Brasília.

O projeto Sanear Amazônia, parceria entre o Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome (MDS) e o Memorial Chico Mendes, ficou em primeiro lugar no Prêmio Fundação Banco do Brasil de Tecnologia Social, na categoria Comunidades Tradicionais, Agricultores Familiares e Assentados da Reforma Agrária. O projeto concorreu com outras 154 práticas certificadas pela premiação em seis categorias.

A ministra do Desenvolvimento Social e Combate à Fome, Tereza Campello, destaca que o prêmio reconhece o sucesso de um programa ainda novo que garante água para populações isoladas da Amazônia. “O programa vai levar cidadania para essas comunidades isoladas extrativistas e ribeirinhas. Ainda temos uma longa jornada, porque são muitos sem acesso à água de qualidade. Mas já começamos e queremos fazer muito mais.”

Segundo o presidente do Memorial Chico Mendes, Antonio Adevaldo Dias da Costa, o prêmio vai trazer mais visibilidade para o Sanear. “Esperamos que outras entidades tenham o interesse e possam replicar essa tecnologia para atender ainda mais extrativistas da Amazônia.”

A tecnologia de captação de água da chuva do Sanear Amazônia está levando água de qualidade e saneamento básico para 2,8 mil famílias de oito reservas extrativistas da região. Ao todo, o MDS está investindo R$ 35 milhões em tecnologias sociais para captação, tratamento e uso da água da chuva no Norte do país.

Apesar da abundância de água na região Amazônica, a população de baixa renda não tem acesso à água potável. Como a regularidade da chuva lá é grande, os sistemas implantados pelo projeto permitem melhor aproveitamento da água pluvial, que reservada e tratada de forma adequada é própria para o consumo e outros usos domésticos.

10419591_897491727013121_5676523871307904266_nUm dos idealizadores do projeto, o professor de engenharia civil e ambiental da Universidade de Brasília (UnB) Ricardo Silveira Bernardes conta que a ideia da construção do banheiro como parte da tecnologia social partiu das próprias mulheres das comunidades. “Elas contavam que o banheiro era a possibilidade de terem privacidade porque tomavam banho de roupa nos igarapés. Essa sensação, de tomar banho por completo, era rara.”

Sistema de Acesso à Água potável na Amazônia recebe prêmio da Fundação Banco do Brasil

Asproc recebe o Prêmio Fundação Banco do Brasil de Tecnologia Social 2015

Asproc recebe o Prêmio Fundação Banco do Brasil de Tecnologia Social 2015

O Sistema de Acesso à Água Pluvial para Consumo das Comunidades Extrativistas foi o vencedor do Prêmio Fundação Banco do Brasil de Tecnologia Social 2015, realizado na última terça (10) em Brasília.  Foram 866 inscrições, desse total, 154 práticas foram certificadas e 18 disputaram o título em seis categorias. A tecnologia social desenvolvida pela Associação do Produtores Rurais de Carauari – Asproc em parceria com o Conselho Nacional das Populações Extrativistas – CNS e apoio técnico da Universidade de Brasília – UNB foi a iniciativa vencedora entre três finalistas na categoria Comunidades Tradicionais, Agricultores Familiares e Assentados da Reforma Agrária.

O objetivo da premiação, realizada a cada dois anos pela Fundação Banco do Brasil, é identificar, certificar, premiar e difundir tecnologias sociais já aplicadas, implementadas em âmbito local, regional ou nacional, que sejam efetivas na solução de questões relativas a alimentação, educação, energia, habitação, meio ambiente, recursos hídricos, renda e saúde. O prêmio é um reconhecimento pelo trabalho desenvolvido na Amazônia para comunidades extrativistas que sofrem com a falta de políticas públicas que atendam suas demandas.

Tecnologia Social construída em reserva extrativista no Acre

Tecnologia Social construída em reserva extrativista no Acre

A tecnologia social de acesso à água é, atualmente, implementada pelo Memorial Chico Mendes em quatro estados da Região Norte através do projeto Sanear Amazônia, com financiamento do Ministério de Desenvolvimento Social e Combate à Fome – MDS. Serão 2.800 famílias extrativistas beneficiadas diretamente com a construção do sistema e mais de 8.000 famílias impactadas indiretamente por meio da replicação das melhores práticas de higiene e cuidado com a água adotadas ao longo do desenvolvimento do projeto. Para o presidente da Asproc, Flávio do Carmo, “estar entre as finalistas é uma vitória. Saber que um projeto que foi implementado em uma região tão isolada como a nossa, com a participação dos ribeirinhos, deu certo e foi reconhecido em nível nacional nos motiva ainda mais”.

Os benefícios extrapolam o acesso à água. Em muitas comunidades, por exemplo, a evasão escolar apresenta altos índices devido às doenças contraídas por verminoses que atingem principalmente as crianças. Para Maria Cléia, moradora da Reserva Extrativista Terra Grande, localizada no município paraense de Curralinho, os ganhos com o tecnologia social representam também um alívio: “quando estiver tudo pronto, eu vou ter a comodidade de ter água, banheiro, encanamento e uma fossa na minha casa. Não vou precisar levar as crianças para banhar no rio, ou carregar baldes de lá até minha casa, porque já vai ter tudo aqui”.

O Sanear Amazônia é articulado e executado em parceria com entidades locais, observando as peculiaridades de cada comunidade, estimulando a participação social ativa dos comunitários na apresentação e resolução dos problemas causados pela falta de água e saneamento básico. Além da construção do sistema que garante acesso, reserva e distribuição de água potável às famílias, o projeto prevê também oficinas sobre Gestão da Tecnologia Social e Gestão Responsável da Água.

Prêmio e Banco de TS

Realizado a cada dois anos, o Prêmio tem como objetivo certificar e difundir tecnologias sociais já aplicadas e ainda em atividade, em âmbito regional ou nacional, que se constituam em efetivas soluções para questões relativas à água, alimentação, educação, energia, geração de renda, habitação, meio ambiente e saúde.

As certificadas passam a integrar o Banco de Tecnologias Sociais (BTS) da Fundação BB, que soma agora um total de 850 iniciativas. O BTS é uma base de dados online que reúne metodologias reconhecidas por promoverem a resolução de problemas comuns às diversas comunidades brasileiras. No BTS, as Tecnologias Sociais desenvolvidas por instituições de todo o País podem ser consultadas por tema, entidade executora, público-alvo, região, UF, dentre outros parâmetros de pesquisa

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Representantes da Asproc e professor Ricardo Silveira, da UNB na premiação

Os critérios observados  para a classificação são nível de envolvimento da comunidade; transformação social proporcionada; potencial de reaplicação e inovação social, de acordo com o regulamento. A pontuação atribuída pelos membros da Comissão Julgadora é conferida por auditores independentes. Os recursos deverão ser destinados a atividades de expansão, aperfeiçoamento ou reaplicação da tecnologia social premiada.

 

Tecnologia Social de Acesso à Água concorre a prêmio da FBB

Entre 18 finalistas, divididos em seis categorias, o  Sistema de Acesso à Água Pluvial para Consumo das Comunidades Extrativistas disputa com um projeto do Instituto de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá (IDSM), também do Amazonas, e outro de São Paulo o prêmio na categoria Comunidades Tradicionais, Agricultores Familiares e Assentados da Reforma Agrária no Prêmio Fundação Banco do Brasil de Tecnologia Social 2015.

O Sistema de Acesso à Água está sendo implementado pelo Memorial Chico Mendes, através do projeto Sanear Amazônia, em quatro estados da região Norte. Além de Carauari, no Amazonas, onde começou a ser desenvolvido, a tecnologia social está em construção em comunidades do Pará (na região do Marajó), Amapá e Acre, beneficiando milhares de famílias extrativistas. A tecnologia social foi elaborada pela Associação dos Produtores Rurais de Carauari – Asproc com apoio técnico da Universidade de Brasília – UNB.

Seu Ronilson, morador da Comunidade São Pedro na Resex Tapajós-Arapiuns, foi sorteado e ganhou um Sistema de Acesso à Água em sua casa

Seu Ronilson, morador da Comunidade São Pedro na Resex Tapajós-Arapiuns, foi sorteado durante o II CHamado da Floresta e ganhou um Sistema de Acesso à Água em sua casa

Os ganhos em saúde, qualidade de vida, segurança alimentar e educação são os principais indicativos de que o projeto está mudando vidas na Amazônia. A intenção é de expandir o projeto para mais reservas na região nos próximos anos em parceria com o Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome – MDS firmada durante o III Chamado da Floresta, promovido pelo Conselho Nacional das Populações Extrativistas – CNS e realizado no final de outubro em Santarém.

Para Adevaldo Dias, presidente do Memorial Chico Mendes, “a oportunidade é um reconhecimento do esforço realizado com a participação social direta das comunidades, mas também um incentivo para continuar o trabalho”. A cerimônia de premiação da Fundação Banco do Brasil ocorre hoje (10) em Brasília.

Assista ao vídeo produzido pela Fundação Banco do Brasil sobre, CLIQUE AQUI.

“Vamos tomar água boa e poder tomar banho dentro de casa”

ACESSO À ÁGUA

Graças ao projeto Sanear Amazônia, o sonho da família Silva de ter água de qualidade e saneamento básico se realizou

Publicado 09/11/2015 17h33

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Maria das Dores e João Jorge agora têm água limpa em casa. Foto: Ubirajara Machado/MDS

Brasília – O dia de Maria das Dores Salustiano da Silva, 36 anos, é cheio. Limpa a casa, lava a roupa, planta milho, arroz, faz almoço e cuida dos filhos. Da terra conquistada na Reserva Extrativista Chico Mendes, no seringal Filipino, em Brasiléia (AC), o marido João Jorge Melo Souza, 53, tira a castanha do Pará, planta grãos e hortaliças e cria galinhas e algumas cabeças de gado para leite e corte. Como dona Maria gosta de dizer: a vida é boa.

E agora, ficou ainda melhor, com um sonho realizado. Há 20 anos morando na região, os Silva finalmente tem a oportunidade de ter um banheiro completo e água limpa para beber. A dona de casa conta que não via a hora de usar o banheiro de alvenaria e o chuveiro. “Agora vai melhorar. Vamos tomar água boa e poder tomar banho dentro de casa”, conta com brilho nos olhos e sorriso largo. Até então, a família Silva usava o banheiro de fossa e tomava banho de balde.

A família foi beneficiada com a tecnologia de captação de água da chuva do Sanear Amazônia, um projeto que está levando água de qualidade e saneamento básico para 2,8 mil famílias de oito reservas extrativistas da região. Ao todo, o Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome (MDS) está investindo R$ 35 milhões em tecnologias sociais para captação, tratamento e uso da água da chuva no Norte do país.

Apesar da abundância de água na região Amazônica, a população de baixa renda não tem acesso à água potável. Como a regularidade da chuva lá é grande, os sistemas implantados pelo projeto permitem melhor aproveitamento da água pluvial, que reservada e tratada de forma adequada é própria para o consumo e outros usos domésticos.

Maria das Dores é beneficiária do Bolsa Família e recebe R$ 240 por mês. O dinheiro é usado para comprar roupas e sapatos para os dois filhos –de 11 e 14 anos – e completar a alimentação com verduras. “Tudo que a gente planta aqui é para nosso consumo. Às vezes a gente vende uma criação para conseguir um dinheiro a mais. Se não fosse esse dinheiro a gente passaria dificuldade.”

Com tantos sonhos se realizando, ela vê sua vida na reserva melhorando a cada dia. “Temos tudo. Eu gosto daqui e não tenho vontade de mudar para lugar nenhum”. E, como toda mãe, ela não se esquece dos filhos. “Quero que eles estudem e tenham uma vida feliz.”

Informações sobre os programas do MDS:
0800-707-2003
mdspravoce.mds.gov.br

Informações para a imprensa:
Ascom/MDS
(61) 2030-1021
www.mds.gov.br/area-de-imprensa

 

Organização social mantém conservação do pirarucu no Amazonas

De carne saborosa e muito apreciada, o pirarucu é um peixe nativo da Amazônia e um dos símbolos de alimentação na região O Arapaima gigas (nome científico da espécie) é também um dos maiores peixes de água doce do planeta. O nome popular, oriundo de termos indígenas, foi dado devido à cor de sua cauda: pira, “peixe”, e urucum, “vermelho”. Mas a história do pirarucu esteve perto do seu fim. Por causa da pesca desordenada (sobrepesca), a espécie entrou em risco de extinção. Hoje, diversos órgãos ambientais, pesquisadores e pescadores socialmente organizados trabalham o manejo sustentável da espécie, garantindo não apenas a conservação do pirarucu, mas também o ganho econômico de milhares de famílias que comercializam o pescado no Amazonas.

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Foto: Suzy Barros

A espécie vive em lagos e rios afluentes de toda bacia Amazônica, podendo ser encontrado, preferencialmente, em ambientes de florestas alagadas, tanto várzeas quanto igapós. Por isso, para o manejo, é necessário classificar os lagos. Através de um zoneamento participativo, os pescadores falam sobre suas áreas de uso e, com o auxílio dos técnicos, dividem em três categorias: lagos de preservação (específicos para reprodução, manutenção e crescimento das espécies de peixes, onde a pesca é proibida por tempo indeterminado, exceto para pesquisas); lagos de manutenção (uso das comunidades para subsistência); lagos de comercialização (destinados a pesca comercial do pirarucu e demais espécies, respeitado o tamanho mínimo).

Após a delimitação da área de manejo e classificação dos lagos de acordo com o uso, os pescadores experientes e qualificados realizam a contagem do pirarucu. O método de contagem foi desenvolvido por Leandro Castello, em 2002, devido a adaptação do pirarucu para habitar áreas de floresta alagada e por conta de sua estrutura física “A espécie possui uma bexiga natatória modificada que permite a respiração aérea, para isso o pirarucu vai até a superfície da água para armazenar ar, possibilitando ao pescador a realização da contagem de indivíduos existentes no lago em questão”, explica Monique Brasil, bióloga da Secretaria Executiva de Pesca e Aquicultura do Amazonas (Sepa).

 

Foto: Suzy Barros

Foto: Suzy Barros

A partir dessa contagem, é liberada, pelo Ibama, a cota de captura que não pode exceder 30% dos indivíduos adultos contados: “Em um cenário de sobrepesca da espécie, e com grande volume de pescas clandestinas que não respeitam o período de reprodução da espécie e o tamanho mínimo, o manejo é de fundamental importância para a conservação do pirarucu. Essa estratégia, tem seu início com a vigilância de lagos contra invasores e suspensão da pesca do pirarucu durante alguns anos para a recuperação do estoque”, comenta a bióloga.

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Reunião com os chefes de família da comunidade para definir os últimos encaminhamentos acertos antes da pesca. Foto: Suzy Barros

Reunião com os chefes de família da comunidade para definir os últimos encaminhamentos acertos antes da pesca. Foto: Suzy Barros

O manejo sustentável do pirarucu é possível, hoje, graças ao trabalho em conjunto dos órgãos ambientais que regulamentam a atividade, pesquisadores e associações, cooperativas e diversas organizações de pescadores. Cursos e oficinas de capacitação integram o processo de manejo sustentável para que a comunidade esteja consciente da importância da conservação da espécie e das domine as técnicas adequadas para o manejo. Segundo Brasil, “na RDS Mamirauá, por exemplo, são oferecidas capacitações de agentes ambientais voluntários, cursos de contadores, oficinas de monitoramento, oficinas de comercialização, oficinas de qualidade do pescado, entre outras”.

Em Carauari, cidade localizada no Médio Juruá, a Associação dos Produtores Rurais de Carauari – Asproc é que organiza o manejo sustentável de pescados. As comunidades ribeirinhas envolvidas com a preservação dos ambientes aquáticos e combate à pesca predatória, na região, já comercializaram parte do resultado no manejo no município em outubro: foram 7 toneladas de peixe, sendo 3,5 toneladas de tambaqui, 2,5 de pirapitinga e 1,1 de pirarucu. Em 2015, a pesca manejada será realizada em apenas 7 comunidades, beneficiando moradores da RDS Uacari e RESEX do Médio Juruá que participaram da preservação. A cota, estabelecida pelo Ibama, é de aproximadamente 72 toneladas de pirarucu, cerca de 20% a mais que 2014.

A produção é principalmente voltada para abastecer a região metropolitana de Manaus e cidades mais próximas às áreas manejadas, mas uma parte dela também é consumida em outras regiões do Brasil e até no exterior. ”Além disso, todas as partes do pirarucu são aproveitadas, hoje em dia já existe mercado para o comércio da língua e da pele”, comenta Monique.

Uma das etapas do processo de manejo do pescado, coordenado pela associação, é a comercialização do peixe após a captura. Para Adevaldo Dias, coordenador de projetos da Asproc, como ainda não existe a estrutura necessária para garantir o processamento e armazenamento adequado do pescado, apenas cerca de 8% são comercializados com os consumidores locais de Carauari: “O volume restante é vendido em Manaus, ou para comerciantes do município que mandam o peixe para a capital”.

Histórico

Na década de 1990, os órgãos ambientais se depararam com um cenário de sobrepesca (pesca desordenada) da espécie, Foi, então, criada a legislação que determinava o tamanho mínimo do pescado para captura. Segundo a bióloga, a fiscalização insuficiente permitiu que o cenário permanecesse o mesmo. Posteriormente, o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente (Ibama) estabeleceu o defeso da espécie, suspendendo a pesca durante quatro meses do ano, pelo mesmo motivo não foi uma medida satisfatória. Diante disso, em 2005 a pesca do pirarucu foi proibida no estado do Amazonas.

Paralelamente à criação de legislações que protegessem a espécie, um grupo de pesquisa que estudava uma reserva biológica muito rica em biodiversidade no Médio Solimões, passou a desenvolver estudos visando compreender melhor a biologia e ecologia do pirarucu. Em 1999, a reserva biológica Mamirauá, se tornou a primeira Reserva de Desenvolvimento Sustentável (RDS) estadual e pediu ao Ibama que liberassem a pesca do pirarucu na área para uma experiência de manejo na região.