Mais de 3 mil de pessoas participaram do III Chamado da Floresta, realizado pelo Conselho Nacional das Populações Extrativistas- CNS na Reserva Extrativista Tapajós-Arapiuns, localizada em Santarém, município paraense. O tema da terceira edição do encontro foi “Juventude, floresta preservada é vida continuada” e trouxe para o debate jovens extrativistas de todo o Pais.
Durante dois dias, os participantes se dividiram em grupos temáticos discutindo pautas específicas para áreas como saúde, geração de renda e regularização fundiária. Muitos extrativistas aproveitaram o espaço para denunciar situações que sofrem cotidianamente nas suas unidades de conservação, desde ameaças de madeireiros à falta de diálogo com gestores das autarquias federais.
Nas discussões, a reivindicação mais recorrente é de que a política de reforma agrária atenda às necessidades das famílias que já vivem em unidades de conservação reconhecidas por decretos federais e às comunidades que ainda buscam esse aparato legal. Os planos de manejo ainda não aprovados pelas autarquias responsáveis também são outro impedimento no desenvolvimento das atividades produtivas. O manejo comunitário é fundamental para preservação e conservação dos recursos naturais, uma vez que a mobilização das comunidades não se limita apenas aos ganhos econômicos, mas preocupa-se com a biodiversidade.
Diante desse panorama, denúncias de exploração ilegal de terra e de ameaças aos trabalhadores extrativistas foram o foco das discussões em diferentes momentos. Ângela Mendes, filha de Chico Mendes, cobrou com veemência fiscalização dos gestores do ICMBio: “Estamos aqui falando tudo que temos passado e que a Instituto já deveria ter se atentado a resolver. Esses problemas não são atuais, está aí a história que não nos deixa mentir”, pontuou.
Chamados especialmente para o encontro, o grupo que discutiu políticas de educação teve presença significativa da juventude. Diversas dificuldades enfrentadas pelos jovens extrativistas foram colocadas em pauta, refletindo sobre suas causas, propuseram soluções que abarquem as especificidades do segmento extrativista, tais como a elaboração de matriz curricular contextualizada com a realidade das comunidades extrativistas das unidades de uso coletivo e Implantação de um modelo diferenciado de ensino superior itinerante para permitir o acesso dos jovens que vivem nas reservas. Para Klisman Ribeiro, jovem de 16 anos que reside em Tefé, no Amazonas, “é bom que os jovens possam estudar, mas também retornar com esse conhecimento para sua comunidade”.
Atracados na Ponta do Pedrão, praia onde inicia a Comunidade São Pedro, cinco barcos de médio e grande porte hospedavam os participantes. A troca de experiências e vivências, as situações parecidas, desafios compartilhados encontraram no balanço do carimbó do Grupo Flor do Mangue, da Reserva Extrativista Mestre Lucindo em Marapanim, município paraense, um momento para descontração ao final do primeiro dia de discussões.
Para o segundo dia do encontro, o objetivo era apresentar as demandas discutidas aos representantes do Governo Federal. Esse momento foi especialmente aguardado pelos participantes e contou com a presença de Tereza Campelo, ministra do Desenvolvimento Social e Combate à Fome e representantes do Ministérios do Meio Ambiente, do Desenvolvimento Agrário e da Educação, além de prefeitos e deputados da região amazônica e parceiros de entidades que trabalham temas relacionados aos dos povos extrativistas.. Durante sua fala, a ministra ressaltou o compromisso do governo em dialogar com o movimento social. “Desde o governo Lula que esse diálogo foi iniciado, principalmente nos órgãos executivos, porque nós, gestores, não podemos desenvolver políticas públicas sem conversar com aqueles que são o público, que precisam dessa política. E é por isso que estamos todos reunidos aqui hoje”.
Seu Romilson, morador da Comunidade São Pedro, (ao centro) foi sorteado e ganhou a tecnologia social de acesso à água para que a ministra Tereza Campello conhecesse o sistema pessoalmente
Ao final da assembleia, Tereza Campello reafirmou a parceria entre MDS, CNS e o Memorial Chico Mendes para expandir o Sanear Amazônia para mais reservas extrativistas. Atualmente, está sendo implementado em quatro estados da região Norte e foi uma das demandas de saúde e saneamento básico mais requerida pelos extrativistas ao longo das plenárias por ser uma política pública recente, mas que já apresenta resultados positivos nas comunidades.
Voltando para o barco que o trouxe do Amazonas, “Toquinho”, que viajou três dias para chegar à comunidade, resumiu sua expectativas sobre os frutos do Chamado: “Se esse povo veio da floresta para uma comunidade dentro da floresta e conseguiu dialogar é sinal de que juntos podemos (e vamos conseguir) muito mais”.
30 anos de luta
O Chamado da Floresta faz parte das comemorações dos 30 anos de luta do Conselho Nacional das Populações Extrativistas – CNS, que foi inicialmente articulado por Chico Mendes quando lutou pela defesa da floresta para os seringueiros no Acre e se espalhou para toda a Amazônia. Durante o Chamado, Raimundo de Barros, conhecido como “Raimundão”, e Pedro Ramos, fundadores do Conselho, foram homenageados e suas trajetórias reconhecidas pelo público presente.