O encontro aconteceu em Manaus, na última quarta (30), na sede do Memorial Chico Mendes com o objetivo de avaliar o primeiro ano de parceria com a Rainforest Foundation, organização não-governamental norueguesa criada em 1989 que apoia os povos indígenas no Brasil e, agora inicia uma parceria de 5 anos com as populações extrativistas. A reunião teve como propósito aproximar as instituições e entender as estratégias de atuação e reafirmar o intento da cooperação por mais quatro anos, garantindo apoio às lideranças extrativistas.
De acordo com Adevaldo Dias, presidente do Memorial Chico Mendes (MCM) o trabalho desenvolvido tem como objetivo mobilizar os povos da floresta pela conquista de direitos. “A importância principal é garantir mobilidade às lideranças extrativistas de forma que elas possam se articular nessa luta por políticas públicas aos extrativistas da Amazônia”, disse.
Cristian Schoien, representante da ONG norueguesa, conta – em impressionante português fluente – sobre o trabalho desenvolvido pela Rainforest Foundation no Brasil. Ele relata que é nova a parceria da instituição com populações extrativistas. “Eu descobri a história do ambientalista Chico Mendes na Noruega, onde encontrei um livro que foi traduzido para nossa língua contando sua trajetória. Trabalhamos há muito tempo com organizações indigenistas, e resolvemos abraçar também a causa das populações extrativistas, o papel desses atores na conservação e monitoramento em áreas de reserva ambiental é muito valoroso”
Cenário Político
O presidente do Conselho Nacional das Populações Extrativistas (CNS) Joaquim Belo, destaca o trabalho fundamental de organizações como a Rainforest Foundation, especialmente no atual cenário político brasileiro, que é bastante preocupante para a gestão ambiental e políticas públicas que cuidam de nossa natureza. O cumprimento da legislação ambiental em relação à conservação do Patrimônio Natural brasileiro, representa uma demanda imprescindível para a garantia da qualidade de vida da população brasileira, urbana e rural.
Adevaldo Dias enfatiza essa necessidade “Se percebe hoje a criminalização dos movimentos sociais e muita desinformação a respeito dos trabalhos importantíssimos que essas organizações da sociedade civil desenvolvem. Então é cada vez mais importante que instituições comprometidas com a defesa do meio ambiente deem suporte a esses movimentos, dando condições para luta pela defesa e permanência das populações extrativistas em territórios conservados”
O presidente do CNS reafirma, “Nós, que vivemos dos recursos da Amazônia nos sentimos ameaçados nesse novo governo, as nossas Resex estão em risco e a violência do agronegócio permanece nos perseguindo. Esperamos que não se cumpram as promessas de campanha do Presidente e reiteramos nosso compromisso de zelar pela parceria do CNS com a Rainforest”.
O CNS além de trabalhar pela defesa dos territórios dos extrativistas reitera que essa defesa é indissociável à conservação dos recursos naturais necessários para sobrevivência das famílias. “O apoio das organizações internacionais como a Rainforest garante que o CNS e o Memorial Chico Mendes tenham condições de se organizar para propor soluções aos problemas que nos atingem de forma ampliada. A nossa reunião com a Rainforest foi para tratar de uma parceria que está se iniciando”, conta Joaquim.
Apoio internacional
Diversas organizações da Noruega são engajadas no combate à emissão de gases e se tornaram o maior doador do Brasil para sistemas de proteção de florestas.
“Para nós, que travamos uma luta na Amazônia, essa parceria reforça e dá suporte para a luta dos extrativistas. Para ir até as comunidades, discutir políticas públicas. O Christian é o representante da Rainforest no nosso projeto e tivemos uma conversa política, para que ele entendesse bem o que é o CNS, nossa história, nossa missão, estratégias e o grau de dificuldades que enfrentamos. Essa interação é necessária para nós, pois o Christian leva para a Rain Forest um conjunto de informações que transita dentro e fora da instituição”, completou o presidente do CNS.
A luta e as histórias das populações extrativistas e ribeirinhas da Amazônia viajam para um longínquo país divulgando o trabalho invisível e serviço ambiental inestimável prestado pelos extrativistas na manutenção da floresta através da produção comunitária e uso sustentável dos recursos naturais em áreas protegidas.
Por: Maysa Leão