Iniciando agenda que passará por todos os Estados onde o Sanear Amazônia está sendo implementado, a equipe coordenada pelo professor Ricardo Bernardes, da UnB, e composta pelos diretores técnicos do Memorial Chico Mendes, supervisores das entidades executoras e representantes das comunidades extrativistas fez análise da qualidade da água consumida nos domicílios de famílias que ainda não receberam a tecnologia social de acesso à água potável em Mapuá, no Pará. Confira alguns registros da atividade.
Programa Cisternas: acesso à água avança no Semiárido e na Amazônia
Brasília – O governo federal reforçou as ações para que o agricultor familiar do Semiárido possa produzir e criar animais mesmo nos longos períodos de seca. Entre 2011 e 2015, foram entregues 158 mil tecnologias de captação e armazenagem de água para produção – a chamada segunda água.
No ano passado, o governo federal, em parceria com organizações da sociedade, entregou 53,5 mil tecnologias sociais de armazenamento de água da chuva para produção. Com baixo custo e simples implantação e manutenção, as cisternas podem ser do tipo calçadão e de enxurrada, além de barragens subterrâneas e barreiros trincheira, entre outros modelos, com capacidade de no mínimo 52 mil litros de água.
Essas tecnologias integram uma série de políticas públicas do governo federal para a promoção da convivência com o Semiárido. Assim, milhares de famílias sertanejas estão melhorando sua capacidade produtiva e ampliando o acesso a alimentos saudáveis, com o apoio do Programa de Fomento às Atividades Produtivas Rurais, do Programa de Aquisição de Alimentos (PAA), do seguro Garantia-Safra, do Programa de Sementes, Crédito Pronaf B, Luz para Todos, aposentadoria rural, Bolsa Família, entre outros.
“O sertanejo está mais preparado para conviver com a seca. As cisternas são soluções inovadoras que valorizam o conhecimento do povo do Semiárido e são construídas com a participação das comunidades locais. Com essa política, estamos garantindo o atendimento às famílias mais vulneráveis. E o compromisso do governo federal para este ano é continuar avançando no Programa Cisternas”, destaca o secretário nacional de Segurança Alimentar e Nutricional do MDS, Arnoldo de Campos.
Além do acesso a água para produzir, o governo federal entregou, desde 2003, mais de 1,2 milhão de cisternas com capacidade para armazenar 16 mil litros de água para o consumo humano – o que representa uma capacidade de armazenamento de quase 20 bilhões de litros de água. “Essa capacidade equivale a 40 milhões de caixas d’água de 500 litros, as mais utilizadas no Brasil. Isso permitiria abastecer quase um milhão de pessoas na cidade de São Paulo durante oito meses”, explica o secretário.
Em 2015, foram construídas 125,7 mil novas cisternas. Cada tecnologia foi projetada para suprir necessidades básicas (beber, cozinhar e higiene pessoal) de uma família de até cinco pessoas por oito meses, o período normal de estiagem no Semiárido.
As cisternas ajudaram a melhorar indicadores de acesso à água no Brasil, principalmente entre os mais pobres. Em 2002, 59,7% das famílias mais pobres tinham acesso à água, segundo o IBGE. Em 2013, esse número chegou a 79,9%. No total, 94,6% da população, em 2013, teve acesso à água contra 88,6% em 2002.
Essas tecnologias transformaram a vida de milhares de mulheres sertanejas. Antes, elas tinham que percorrer, diariamente, quilômetros em busca de água de má qualidade, carregando uma lata de água na cabeça. A alimentação da família ficava comprometida e a desnutrição de crianças e adultos era comum na região.
A convivência com a estiagem também tem lugar nos bancos escolares, onde milhares de crianças e jovens estão diariamente e a água é um bem essencial. Parceria do MDS com a Articulação no Semiárido Brasileiro (ASA) vai construir 5 mil cisternas para captação de água da chuva em escolas públicas até 2016. No ano passado, foram construídas 1,7 mil cisternas nas escolas rurais do Semiárido.
Além de combater a insegurança alimentar e nutricional, o acesso à água é fundamental para garantir que os estudantes não tenham aulas canceladas durante o período de estiagem por falta de água. O investimento total na ação é de R$ 69 milhões.
Água e saneamento – O Programa Cisternas também está investindo em ações de acesso à água de qualidade e saneamento para beneficiar 2,8 mil famílias de oito reservas extrativistas da Amazônia. A iniciativa é coordenada pelo Memorial Chico Mendes com recursos do MDS no valor de R$ 35 milhões.
Apesar da abundância de água na região Amazônica, a população de baixa renda não tem acesso à água potável. Como a regularidade da chuva lá é grande, os sistemas implantados pelo projeto permitem melhor aproveitamento da água pluvial, que reservada e tratada de forma adequada é própria para o consumo e outros usos domésticos.
Com o projeto Sanear Amazônia, serão implantadas duas tecnologias: sistemas pluviais de Multiuso Autônomo e Multiuso Comunitário. No sistema multiuso autônomo, cada família poderá captar, armazenar e filtrar até seis mil litros de água a cada período chuvoso. Já no multiuso comunitário, também será instalado um módulo complementar de abastecimento com uma rede de distribuição, acionado quando esgotar as reservas domiciliares.
Confira mais registros do Sanear Amazônia na galeria do MDS, clique na foto abaixo.
Memorial Chico Mendes participa de encontro do Programa Cisternas, em Brasília
Durante encontro, nesta quarta (20), com gestores e representantes dos governos estaduais, de consórcios e da sociedade civil, a ministra Tereza Campello apresentou um balanço do Programa Cisternas. Em 2015, foram construídas 125,7 mil novas cisternas para o consumo humano, o que totaliza mais de 1,2 milhão de unidades desde 2003. Outras 158 mil tecnologias sociais de apoio à produção foram construídas entre 2011 e 2015. Além disso, 1,7 mil escolas rurais já estão utilizando cisternas de 52 mil litros para garantir a água para o consumo e para preparar a alimentação dos alunos.
“Depois de um período de estiagem de cinco anos, caiu uma chuva inesperada e conseguimos encher as nossas cisternas, garantindo que a população tenha água potável para beber e cozinhar pelos próximos oito meses”, afirmou.
A ministra ressaltou também que ainda há muito a fazer. “Precisamos continuar construindo cisternas de primeira água [para o consumo humano] para quem ainda não tem. Temos que avançar na construção da cisterna de segunda água [para produção] e em territórios fora do Semiárido”, disse. “A falta de água é a expressão mais dramática da pobreza”.
Ela explicou ainda como o acesso à água e as ações de convivência do sertanejo com o Semiárido contribuíram para a redução da pobreza extrema no país. “A meta de extrema pobreza das Nações Unidas para 2030 é de chegar a 3%. Nós já estamos abaixo disso graças a políticas como o Programa Água Para Todos, o Pronaf [Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar], o PAA [Programa de Aquisição de Alimentos], o Seguro Safra. Mas não podemos achar que chegamos a 2,5% e acabou o nosso trabalho”, afirmou.
Amazônia – Tereza Campello também destacou o Projeto Sanear Amazônia, executado em parceria com o Memorial Chico Mendes, e que vai garantir água de qualidade para 2,8 mil famílias na região Amazônica. “Na região Norte, também estamos captando água da chuva e entregando uma estrutura básica de saneamento para garantir uma maior qualidade de vida para a população das reservas extrativistas”, explicou. O Sanear Amazônia está construindo tecnologias sociais em oito reservas extrativistas nos estados do Acre, Amapá, Amazonas e Pará.
Envolvimento comunitário garante a sustentabilidade das tecnologias sociais do Sanear Amazônia
A mobilização social das comunidades onde o Sanear Amazônia está atuando para construção e manutenção coletiva das tecnologias sociais
Longe de uma postura passiva, os moradores das comunidades em que o Sanear Amazônia está sendo implementado participam de todas as etapas da construção da tecnologia social de acesso à água. Das reuniões para decidir quais famílias receberão a tecnologia social à capacitação em “pedreiro”, os comunitários estão envolvidos em cada fase da política pública. Essa integração reflete uma postura de construção social coletiva, preocupada com o bem estar de todos.
A mobilização inicial demanda mais sentimento de “comunidade”, pois precisam decidir coletivamente, a partir de critérios do programa e outros comunitários, quais famílias receberão a tecnologia social. Já a capacitação técnica para a construção das estruturas físicas da tecnologia social (um curso básico de “pedreiro”) é realizada com 10 pessoas por turma, de preferência para membro da unidade familiar beneficiada. Ao longo da capacitação os participantes são orientados em relação às técnicas utilizadas no processo construtivo dos diversos componentes físicos da tecnologia social. Esse processo é importante para que os beneficiados realizem a autogestão das tecnologias implantadas de forma autossustentável, sem depender de serviços externos da comunidade.
José de Souza Araújo Filho, 39 anos, é um dos comunitários que participou da capacitação. Morador da reserva extrativista Chico Mendes, no Acre, ele conta que teve a oportunidade de aprender a construir e utilizar o sistema de acesso à água da chuva. “Antes eu não sabia trabalhar com esse sistema. A capacitação foi muito importante pra mim.”
As equipes do Sanear Amazônia elaboram em conjunto com cada comunidade o diagnóstico das unidades familiares, definição do local adequado para o sistema complementar de abastecimento de água, Implantação das melhorias sanitárias domiciliares, entre outras ações importantes na execução técnica.
Outro momento fundamental na implementação da política pública de acesso à água e saneamento básico é a fase da capacitação em gestão da água e saúde ambiental. Os principais temas abordados nessa capacitação são: cuidado e tratamento com a água reservada para consumo humano dentro do contexto das unidades familiares; monitoramento da qualidade da água disponibilizada para a população; Levantamento de doenças relacionadas ao saneamento; relação entre saneamento, ambiente e saúde (doenças e como evitá-las).
A participação diretas dos atores sociais (representante de cada unidade familiar, coordenadores da entidade executora e Agentes Comunitários de Saúde) no contexto das reservas extrativistas da Amazônia garante a autonomia das comunidades na manutenção dos componentes físicos da tecnologia social e na garantia dos cuidados relativos à saúde e segurança alimentar das famílias.
De acordo com o coordenador técnico do Sanear Amazônia no Centro dos Trabalhadores da Amazônia (CTA ), Stoney do Nascimento, esse trabalho em parceria com as comunidades é fundamental: “O projeto representa muito para a comunidade. Além de receber essa tecnologia, as famílias estão participando de todo o processo, do começo ao fim”, ressaltou.
Sanear Amazônia inicia análise de água consumida por famílias extrativistas
Iniciando agenda que passará por todos os Estados onde o Sanear Amazônia está sendo implementado, a equipe coordenada pelo professor Ricardo Bernardes, da UnB, e composta pelos diretores técnicos do Memorial Chico Mendes, supervisores das entidades executoras e representantes das comunidades extrativistas fará análise da qualidade da água consumida nos domicílios de famílias que ainda não receberam a tecnologia social de acesso à água potável.
O primeiro estado onde será feita a análise é o Pará, que receberá a equipe entre os dias 11 e 18 de janeiro. Será uma análise amostral da qualidade da água em 56 famílias, que representa 5% das 1.130 famílias beneficiadas com a construção da tecnologia social nas reservas extrativistas do Pará, onde atuam como executoras a Associação de Moradores da Reserva Extrativista Mapuá e o Instituto Vitória-Régia.
O objetivo dessa análise é fazer uma comparação “antes” (referente ao período anterior à implantação das intervenções em água nos domicílios) e “depois” (referente ao período, de pelo menos seis meses após a finalização da implantação e funcionamento das tecnologias sociais de acesso) da água consumida pelas famílias extrativistas.
A análise da qualidade da água é feita com base em três indicadores de exposição: população consumindo água não potável no domicílio (qualidade da água para consumo humano); população consumindo água em quantidade insuficiente (acessibilidade a água); população desprovida de instalação sanitária adequada (relação de acesso à água e bem estar, privacidade e conforto). A partir daí, a análise se concentra nos seguintes efeitos: levantamento de parasitoses intestinais; prevalência de diarreia como indicador de efeito; satisfação com a comunidade onde vive e qualidade de vida.
Segundo relatório anual da Agência Nacional das Águas (ANA), esse acompanhamento é uma maneira eficiente de monitorar a situação dos recursos hídricos, do ponto de vista da quantidade e da qualidade, e de avaliar a evolução da gestão dos recursos hídricos. Tal conhecimento pode adquirir caráter estratégico, pois subsidia a identificação de necessidades e a definição das ações futuras.
De 19 a 26 de janeiro, a equipe fará a análise no Amazonas, em parceria com a Asproc. O material coletado será armazenado em frascos e analisado quanto à presença de parasitas intestinais. Até o final do primeiro semestre todas as reservas extrativistas onde está o Sanear Amazônia passarão pela análise qualitativa da água para construção de mais tecnologias sociais de acesso à água potável. No total, serão 140 domicílios visitados para o teste da água e entrevista com a família.
Após a construção do sistema de acesso à água potável por sistema pluvial, uma nova análise será feita para atestar a qualidade da água proveniente da chuva que será distribuída e consumida nesses domicílios. Esse acompanhamento integra a implementação do Sanear Amazônia, cuja missão é melhorar a qualidade de vida dos extrativistas.
Diagnóstico socioambiental – Caso sejam detectadas parasitoses, como ação de intervenção, as crianças infectadas deverão ser tratadas com medicamentos apropriados prescritos por equipe médica, imediatamente após o resultado dos exames. A equipe do Sanear Amazônia também realizará entrevistas com as famílias com objetivo de traçar um diagnóstico socioambiental para mensurar e avaliar a satisfação com a qualidade de vida e sobre necessidades ainda não sanadas em relação ao acesso à água.
Sanear Amazônia completa 8 meses de implementação e já beneficiou 50% das famílias
Iniciado como projeto, o Sanear Amazônia foi desenvolvido em comunidades do Médio Juruá, no Amazonas em 2009. Contando com apoio financeiro da Petrobrás, a Associação de Produtores Rurais de Carauari (Asproc) e a Universidade de Brasília (UnB) elaboraram a engenharia do sistema de acesso à água potável por captação de água de chuva. Nessa fase experimental, 145 tecnologias sociais foram construídas e se encontram ainda em pleno funcionamento.
O acerto no projeto ficou evidente quando, em 2015, se expandiu, a partir da articulação política do Conselho Nacional das Populações Extrativistas – CNS, com o financiamento do Ministério do Desenvolvimento e Combate à Fome – MDS para mais famílias de extrativistas no Amazonas e mais três Estados da região Norte: Pará, Amapá e Acre, tornando-se, assim, política pública de saneamento consolidada na Amazônia.
Chico Mendes vive
Em 22 de dezembro de 1988 morria Chico Mendes, líder histórico dos seringueiros do Acre, fundador do Partido dos Trabalhadores e da Central Única dos Trabalhadores, assassinado por fazendeiros locais na porta de sua casa.
Chico Mendes foi um incansável lutador da esquerda: presidente do Sindicato dos Trabalhadores de Xapuri, fundador e dirigente do Conselho Nacional dos Seringueiros. Chico foi perseguido pela ditadura e, depois, pela UDR, mas nunca deixou-se intimidar e percorreu o país denunciando as atrocidades cometidas contra os povos da floresta. Hoje, no 27º aniversário da sua morte, saudamos sua história e liderança, seu exemplo de dedicação e luta em defesa do povo pobre e dos trabalhadores.
Chico Mendes: PRESENTE! HOJE E SEMPRE!
Chico Mendes vive: 71 anos do seringueiro que se tornou símbolo da Amazônia
Não tivesse sido assassinado por defender a floresta e seu povo, Chico Mendes estaria completando 71 anos hoje. Ícone da luta pelo meio ambiente, foi um dos fundadores do Conselho Nacional das Populações Extrativistas – CNS que, em 1996, criou o Memorial Chico Mendes.
O Memorial Chico Mendes é uma entidade de assessoria técnica ao movimento social dos extrativistas e tem por finalidades a defesa do meio ambiente, a valorização do legado, das ideias e da luta de Chico Mendes e a promoção do desenvolvimento sustentável das comunidades extrativistas da Amazônia e de outras regiões do Brasil.