Famílias extrativistas de Manicoré recebem Sanear Amazônia

O programa está em fase de conclusão e irá beneficiar noventa famílias comunitárias da reserva extrativista Lago Capanã Grande

Em fase de finalização, o programa capacitou comunitários para execução de parte das obras / Foto: Clodoaldo Pontes

Quase cem famílias de comunidades de reserva extrativista do município de Manicoré, distante 332 Km de  Manaus, irão receber tecnologias sociais de acesso à água potável e saneamento através do programa Sanear Amazônia. As obras estão em fase de finalização com entrega prevista na segunda quinzena de julho deste ano. O programa recebeu prêmio de melhor tecnologia social pela Fundação Banco do Brasil e apresenta resultados positivos de diminuição de parasitoses e mortalidade infantil no norte do país.

Roziane Moura é assistente social da Associação dos Produtores Rurais de Carauari (Asproc), entidade executora do programa nas comunidades de Manicoré e responsável pela capacitação e análise socioeconômica das famílias atendidas. Ela explica que, para receber as tecnologias, existem condicionalidades socioeconômicas. “As famílias participantes do programa não podem ter renda superior a meio salário mínimo per capita e devem possuir o cadastramento do Número de Identificação Social  (NIS) do Governo Federal para inclusão em programas sociais. Também contamos com o apoio dos técnicos do ICMBio e é uma ajuda muito bem vinda, durante a construção todos trabalhamos juntos”.

Após a chegada do material para início das obras, a comunidade se mobiliza no descarregamento / Foto: Clodoaldo Pontes

A assistente social explica o processo de capacitação de mão de obra. “Foram 4 dias de curso oferecido pela Asproc para que os comunitários estivessem aptos a trabalhar na construção dos banheiros e demais obras necessárias para instalação das tecnologias. Fazemos também uma capacitação em gestão de água onde tratamos de temas como lixo, manejo, criação de animais, higiene dos banheiros, saneamento, práticas de limpeza comunitária que evitam a contaminação dos solos e das águas e tiramos as dúvidas sobre o funcionamento das tecnologias. É nesse momento também que apresentamos o Sanear Amazônia e as entidades parceiras que  o executam”, disse.

Para o gestor ambiental e técnico do Instituto Chico Mendes de Biodiversidade (ICMBio), Victo Paoleschi que atua em Manicoré o programa é positivo para as famílias. “Eu já conhecia o programa Sanear através da atuação do CNS, e o ICMBio busca sempre apoiar de alguma forma nas ações. O programa é essencial para as famílias já que o acesso à água potável é limitado e com a instalação dos poços o acesso ficou mais fácil e a água de melhor qualidade. A construção dos banheiros também é importantíssima, tanto para a privacidade e quanto para as condições de salubridade dessas pessoas”, contou.

Victor também faz o acompanhamento do processo de construção. “Madeira da reserva é usada, então é importante o acompanhamento para retirada adequada”, disse.

Etapa de construção dos banheiros / Foto: Clodoaldo Pontes

Participação social e cidadania

Um fator determinante para a seleção das comunidades beneficiadas pelo Sanear Amazônia é a organização comunitária. “Já existia um trabalho do CNS no local, apoiando a organização das associações e oferecendo cursos de capacitação de artesanatos e doces. Então a comunidade foi muito participativa, todos desejavam essa conquista”, contou.

Sobre a receptividade dos comunitários com o programa,  Sílvia Batista extrativista e diretora do CNS relata que é comum haver desconfiança em um primeiro contato com os moradores. “Durante a etapa de capacitação, percebemos que eles ainda não estão certos de que o projeto  realmente será feito. Eles só acreditam quando o material chega nas balsas pois já foram enganados com promessas políticas”, contou.

Sanear Amazônia

Iniciado como projeto, o Sanear Amazônia foi desenvolvido em comunidades do Médio Juruá, no Amazonas em 2009. A tecnologia social é composta de um kit para captação e distribuição de água potável, banheiro com sanitário e esgoto. “É um programa bastante completo. “Diversas vezes, projetos implementados pelos nossos governantes não são pensados a longo prazo, são ações que ficam reféns de uma determinada gestão, que, após encerrada leva consigo seus benefícios”, disse Joaquim Belo presidente do CNS.São dois sistemas de captação de água, o “Sistema de Acesso à Água Pluvial Multiuso Comunitário” e o “Sistema de Acesso à Água Pluvial Multiuso Autônomo”. No comunitário é captada água da chuva, de poços e dos rios que são tratadas no interior da tecnologia e se tornam potáveis. No sistema autônomo a captação é feita apenas da água das chuvas. Em comunidades com cinco a seis famílias é implementado o sistema comunitário, em um número maior é utilizado o sistema autônomo.

Programa premiado

O programa ficou em primeiro lugar no Prêmio Fundação Banco do Brasil de Tecnologia Social, na categoria Comunidades Tradicionais, Agricultores Familiares e Assentados da Reforma Agrária em 2015, onde concorreu com outras 154 práticas em seis categorias. O programa é parte de uma parceria entre o Ministério do Desenvolvimento Social (MDS) e o Memorial Chico Mendes.

O material é transportado em uma balsa até a comunidade / Foto: Clodoaldo Pontes

Encontro Nacional de Agroecologia reúne 10 mil pessoas em Belo Horizonte

O evento histórico discutiu pautas de movimentos sociais de todo Brasil acerca de direitos territoriais e produção agroecológica

Foto: Maysa Leão
Aconteceu entre os dias 31 de maio a 03 de junho em Belo Horizonte (MG) o IV Encontro Nacional de Agroecologia (ENA). O evento foi encerrado com um ato público em passeata. Foram mais de 10 mil pessoas que ocuparam as ruas da capital mineira em defesa da agroecologia e contra as perdas de direitos que acometem os trabalhadores do país. O Conselho Nacional das Populações Extrativistas (CNS), o Memorial Chico Mendes e participaram do evento organizado pela Articulação Nacional de Agroecologia (ANA).
A Associação dos Produtores Rurais de Carauarí (Asproc) contribuiu com a doação de 8kg de farinha ovinha e 13kg de pirarucu que foi ofertado no banquete público, com alimentos de produção orgânica dos trabalhadores e trabalhadoras que construíram o evento.
Estiveram no IV ENA pessoas de todos biomas brasileiros reunidas com a certeza de que a agroecologia e a população consciente é capaz de transformar uma sociedade mais igualitária. Durante as plenárias de mulheres, de juventude, de direitos humanos e questões territoriais resgatou-se a memória das resistências de todos esses segmentos no enfrentamento ao agronegócio e às mineradoras que atuam expropriando os recursos naturais e o direito à terra dos camponeses e trabalhadores.

Leitura da Carta Política durante o encerramento do IV ENA 

Carta Política
A ANA divulgou na noite de sábado (02), a Carta Política do IV ENA. Aprovada por 2 mil participantes do evento, o documento revela denúncias contra a violência e o autoritarismo do latifúndio e reafirma a agroecologia como uma alternativa para a superação do modelo de desenvolvimento agrícola prejudicial ao meio ambiente e que sustenta injustiças históricas entre a população campesina do país.

Não resta dúvida que a agricultura industrial é um dos principais responsáveis pela degradação da natureza. Esse sistema acentua dilemas sociais como a fome e a mortalidade infantil, a pobreza, o desemprego, a violência e o aumento de doenças associadas à má alimentação. As experiências de agroecologia debatidas no evento apresentaram soluções concretas para o enfrentamento dos desafios ambientais e sociais.

“Assistimos às manifestações explícitas de racismo, machismo e outras mazelas, o flagelo da fome volta às manchetes, número de desempregados não pára de subir, ondas de conservadorismo dissiminam na sociedade impulsionadas por uma mídia desinformada que despolitiza o povo” dizia um trecho da carta lida por Dione Torquato, membro do CNS.

Sobre a experiência vivida no encontro, o ativista relata. “Fica marcado pra mim como um evento histórico, pois fez essa interação entre os povos do campo, da floresta e das águas. Trouxe a cara e a voz do Brasil, de um povo que protagoniza em seus territórios a agroecologia, o cuidado com a conservação, com a cultura e a tradição. O ENA oportunizou o protagonismo e a voz de várias organizações e mostrou a força dos nossos movimentos sociais em defesa das políticas sociais de agricultura familiar, um ato de resistência e luta pelos direitos das comunidades tradicionais”, contou.

Plenária de mulheres

Na plenária de mulheres, vibravam a alegria e a força das ativistas indígenas, agricultoras, trabalhadoras do campo e da cidade reafirmando suas lutas e a histórica contribuição das mulheres para a construção da agroecologia. Para elas um ponto de partida era uníssono: sem feminismo não há agroecologia.

Durante os relatos, as mulheres seguiram denunciando várias as formas de violência e opressão que se expressam até mesmo em movimentos sociais através da invisibilização das mulheres. Dona Rita Barbosa, agricultora urbana relata a violência vivida por parte do estado durante as desapropriações da copa de 2014.

“Eu tinha lá minha propriedade, era agricultora , plantava uma horta imensa, que todos conhecem, porque isso virou um DVD e saiu nas redes sociais pelo mundo inteiro. E, eu fui removida, enganada pela prefeitura  do Rio de Janeiro. Perdi tudo. Hoje eu luto na justiça para ter uma moradia digna. Não gosto muito de lembrar, porque foi muito massacre. Fui eu, foi a minha propriedade, foi a Vila Autódromo, aonde os agricultores, os pobres, os negros, apanharam muito. Foi muita violência. E isso nos marca, porque o Rio de Janeiro não é uma cidade que é feita pra nós, não é feita para pobre, não é feita pra negros”

Dona Ivete Bastos, é extrativista e ativista e compartilha um angustiante relato de viver sob ameaça de morte. “Nós lutamos para que a justiça nos ampare, mas mesmo quando aconteceu uma decisão favorável à nossa permanência em um território que é nosso por direito, presenciamos decisões judiciais sendo absolutamente ignoradas por madeireiros e minedadoras e nesse momento nos questionamos a quem podemos recorrer”, desabafa.

Relatos como o da ativista ajudaram a construir a Carta Política do ENA, dando visibilidade às suas pautas e foram encaminhados ao Ministério Público Federal para atendimento nas procuradorias competentes.

Por: Maysa Leão

Galeria de imagens

Foto: Maysa Leão

Foto: Maysa Leão

Evento discute estratégias de manejo em águas protegidas no Amazonas

No Seminário estavam presentes representantes de entidades governamentais e organizações da sociedade civil ligados à questão socio ambiental

Nos dias 21, 22 e 23 de maio acontece o Seminário “Diagnóstico do Manejo em Águas Protegidas do Amazonas” no prédio Inspetoria Laura Vicuña localizado na Av. André Araújo, Aleixo. O evento discute os avanços e desafios do processo de Manejo do pirarucu em áreas de reserva extrativista do Amazonas.

Organizado pela Operação Amazônia Nativa (OPAN), o encontro recebeu representantes da Associação dos Produtores Rurais de Carauari (ASPROC) e o Memorial Chico Mendes que participaram do debate, buscando fortalecer as ações de Manejo e defender os interesses dos manejadores também presentes no evento.

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Para Leonardo Kurihara da OPAN, o debate é um momento importante para compreender a visão crítica dos extrativistas assim como compreender as experiências compartilhadas e os caminhos percorridos.

“No evento são pessoas de quase todo o Estado do Amazonas em diferentes instâncias relacionadas ao manejo . E discutir as pautas comuns definindo algumas linhas de ação que sejam pautas coletivas nos encaminha pra a construção de um projeto”, disse.

De acordo com João da Mata coordenador de uso sustentável do Instituto Chico Mendes de Conservação e Biodiversidade (ICMBio), o evento tem sua importância voltada para a participação dos atores sociais envolvidos nas decisões e caminhos trilhados.

“O ICMBio trabalha com o uso de recursos naturais como estratégia de conservação. As populações tradicionais que habitam os territórios protegidos são parceiras e as maioras protetoras desses ambientes, logo qualquer estratégia deve envolver as famílias locais. Temos como responsabilidade tocar a agenda do fortalecimento de cadeia de valor dos produtos dos manejadores. Nossa estratégia de trabalhar de forma ampliada, trazemos reuniões com os atores envolvidos na cada cadeia de produção”.

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Ativista científico Sebastião Pinheiro faz conferência no Inpa sobre agricultura na Amazônia

Sebastião Pinheiro, que chegou a Manaus na última segunda-feira (9), esteve durante uma semana na aldeia indígena Apurinã Novo Paraíso, em Lábrea, município no interior do Amazonas, ensinando indígenas a fazerem análise em saúde do solo

Manaus – Somente a agricultura de subsistência, que sobrevive do que colhe, pode ser considerada fora das metas da moderna indústria de alimentos. A afirmação é do ativista e cientista em agricultura e saúde, Sebastião Pinheiro, em palestra no Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa/MCTIC). O evento contou com a presença maciça de cientistas e mobilizadores de diversas organizações ligadas à questão da agricultura e sustentabilidade na Amazônia.

Realizada na tarde de terça-feira (17), no Auditório da Ciência, a conferência “O alento ultrassocial do biopoder camponês” teve múltiplos focos. Tratou desde a questão dos alimentos, traçou um caminho entre a alimentação natural e verdadeira para a artificialização da mesma, passando pela indústria de alimentos, chegando até a tecnologia da agricultura sem veneno e sem artificialismo.

Segundo Pinheiro, a indústria de alimentos é o complexo global coletivo de diversas redes de negócio que conjuntamente suprem muito da energia alimentar consumida pela população do mundo. “A indústria de alimentos aciona a regulação local, regional, nacional e internacional, além de regras e normas para produção e venda, incluindo qualidade, seguridade e atividades de lobby”, explica Pinheiro, um dos mais influentes ativistas científicos em agricultura do país.

Para o professor, alguns questionamentos podem ser determinantes para que se tenha no país uma agricultura de qualidade. Segundo ele, na Amazônia existe a Terra Preta de Índio – um tipo de solo escuro caracterizado pela ampla disponibilidade de nutrientes como cálcio, magnésio, zinco, manganês, fósforo e carbono -, que está no Brasil e é um solo feito pela mão humana, que é de uma população tradicional com grande sabedoria.

 

“Como essa população pode nos ajudar a encontrar um discernimento com sabedoria para fazermos uma agricultura de qualidade e como podemos reconhecer neles essa sabedoria, essa cidadania internacional, para salvar este planeta que está em uma situação periclitante?”, questiona o cientista.

A vinda de Sebastião Pinheiro a Manaus foi organizada pela Rede Maniva de Agroecologia, Memorial Chico Mendes, Associação dos Produtores Rurais de Carauari (Asproc) e Operação Amazônia Nativa (Opan) com apoio do Inpa.

Capacitação indígena

O cientista, que chegou a Manaus na última segunda-feira (9), esteve durante uma semana na aldeia indígena Apurinã Novo Paraíso, em Lábrea, município no interior do Amazonas, ensinando os indígenas a fazerem análise em saúde do solo. O objetivo foi capacitá-los para que possam determinar quanto de carbono, enxofre e nitrogênio são fixados no solo sem sair da aldeia.

Sebastião Pinheiro explica que esta análise feita pelos próprios indígenas é importante, porque ao demonstrarem que estão fixando carbono, enxofre e nitrogênio no solo, os gases de efeito estufa diminuem e ao diminuí-los eles o fazem com o direito de desfrutarem da riqueza, que é a captura de carbono.

“O pessoal está muito preocupado em fixar carbono em árvores. O índio com a Terra Preta fixa carbono no solo”, assegura Pinheiro. “Se temos na Amazônia o paul, que é a decomposição do húmus superficial da floresta, transformada em serapilheira, há nesse ambiente micróbios que não podem ser isolados em laboratórios”, explica. “Por isso, temos que fazer com que as populações tradicionais indígenas proponham fixar carbono no solo”.

Para Sebastião Pinheiro, a técnica é simples de fazer e é possível realizá-la com um sistema agroflorestal com pequenos cultivos e com a remineralização do solo que não leva aditivos químicos.

O ativista conta que é estranho na Amazônia se utilizar tanto fertilizantes químicos. “Como aqui chove em quantidade muito alta esse fertilizante certamente será desviado contaminado o solo e os rios e não funcionará”, diz. “Então, essa realidade tem que ser estudada em cada caso e os índios são peritos nisso”.

Depois de Manaus, o ativista sugue para Carauari (AM), onde ficará cerca de dez dias capacitando os extrativistas e ribeirinhos em saúde do solo.

Sobre o palestrante

Sebastião Pinheiro possui uma carreira acadêmica extensa e com atividades junto às populações e movimentos sociais. Estudou em Jaboticabal (SP), graduou-se na Argentina e fez pesquisas na Alemanha, em Toxicologia e Poluição Alimentar e Meio Ambiente. Foi professor na Universidade Federal do Rio Grande do SUL (UFRGS), junto ao Núcleo de Economia Alternativa da Faculdade de Ciências Econômicas. É autor e coautor de diversos livros como “Ladrões da Natureza” e “Saúde do solo versus agronegócios”. Tem participação no desenvolvimento de políticas públicas e discussões sobre agricultura em nível nacional e internacional.

Com informações da assessoria.

Congresso com Sebastião Pinheiro no INPA

Evento aborda vantagens da agricultura camponesa frente ao modelo do agronegócio.

Sistema Agroflorestal Apurinã. Foto: Adriano Gambarini/OPAN.

Manaus (AM) – Na próxima terça-feira (17), às 16h, o Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (INPA) recebe o professor Sebastião Pinheiro para a conferência “O alento ultrassocial do biopoder camponês”. Agrônomo, cientista e ativista em agricultura e saúde, o professor Sebastião irá abordar os ganhos e as características dos modos de plantio de camponeses e de populações tradicionais – apresentando as técnicas envolvidas – em contraposição ao agronegócio e aos danos associados a esse modelo.

Sebastião Pinheiro possui uma carreira acadêmica extensa e com atividades junto às populações e movimentos sociais. Estudou em Jaboticabal (SP), se graduou na Argentina e fez pesquisas na Alemanha, em Toxicologia e Poluição Alimentar e Meio Ambiente. Foi professor na Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), junto ao Núcleo de Economia Alternativa da Faculdade de Ciências Econômicas. É autor e co-autor de diversos livros como “Ladrões de Natureza” e “Saúde no solo versus agronegócios”. Tem participação no desenvolvimento de políticas públicas e discussões sobre agricultura a nível nacional e internacional.

Márcio Menezes, da Rede Maniva de Agroecologia, que é uma das organizadoras do evento, destacou que além da complexidade dos agroecossistemas e dos aspectos produtivos, o professor traz uma visão ampliada do universo da agricultura familar, tratando conceitos do campesinato – com a luta pela terra, os aspectos políticos envolvidos – além da própria agricultura familiar, guardiã de alimentos, da genética agrícola, que se perde com o avanço do agronegócio. “O evento será importante para provocar reflexões e se contrapor ao agrobusiness que avança sobre a Amazônia”, disse.

Para o diretor do Memorial Chico Mendes, que também está organizando o evento, Adevaldo Dias, a conferência irá contribuir na conscientização para uma agricultura que concilia a saúde do solo com a melhor qualidade de vida dos próprios agricultores, sem uso de agrotóxico, sem exploração de um trabalhador sobre o outro. “A palestra dele ganha uma importância por abordar esses temas, por despertar a gente para esse novo modelo de agricultura mais saudável, mais sustentável e que produza alimentos de verdade”, destaca.

Além do INPA, da Rede Maniva de Agroecologia e do Memorial Chico Mendes, fazem parte da organização do congresso a Associação dos Produtores Rurais de Carauari (Asproc) e a Operação Amazônia Nativa (OPAN). O evento, aberto ao público, será no auditório Bosque da Ciência do INPA, localizado na avenida André Araújo, 2936, bairro Petrópolis, em Manaus.

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Com informações da assessoria

Lideranças extrativistas se reúnem em Belém para o IV Encontro do Sanear Amazônia

Durante o encontro foi realizado um balanço, seguido de avaliações das entidades em relação à implementação do programa Sanear Amazônia

Manaus – Dos dias 6 a 8 de abril aconteceu em Belém o IV Encontro do Sanear Amazônia. O evento reuniu lideranças de entidades extrativistas de várias partes do país, como Tocantins, Amapá, Amazonas, Acre, Maranhão e Pará com o objetivo de compartilhar experiências e perspectivas de avanço do programa Sanear Amazônia entre as famílias extrativistas promovendo acesso à água potável e ao saneamento básico.

Durante o encontro foi realizado um balanço, seguido de avaliações das entidades em relação à implementação do programa Sanear Amazônia, relatando suas experiências e impressões. De acordo com Joaquim Belo, presidente do Conselho Nacional das Populações Extrativistas (CNS), o encontro foi primordialmente um espaço de conversa política.

De acordo com Joaquim, até dezembro de 2017, mais de 2 mil famílias foram atendidas pelo programa. “Queremos ir além, chegar em todas as reservas e todo território amazônico. Precisamos definir novas estratégias para avançar através do estado, esse é o objetivo desse encontro, compartilhar experiências, fortalecer as lideranças e elaborar  maneiras de ampliar o acesso à água potável, ao banheiro com sanitário e com privacidade. Isso pode ser alcançado através do Sanear”, disse Joaquim.

Na região Amazônica, a maior parte da população em situação de vulnerabilidade socioeconômica não tem acesso à água potável. “Em geral a água usada para cozinhar é retirada do mesmo local que se utiliza para lavagens de louça e roupa. Além disso os banheiros a céu aberto tendem a contaminar o solo”, explica Paulo Bonassa, biólogo do Memorial Chico Mendes.

Para Joaquim o programa Sanear Amazônia é uma conquista. “É uma política pública onde, através de uma tecnologia social de captação e distribuição de água, se leva a cidadania que tem sido negada às populações extrativistas. Se nosso povo adoecer, estamos perdidos, porque médico não chega nas comunidades, nossa alternativa é prevenir e o Sanear é a ferramenta”, finalizou.

Sanear Amazônia

Iniciado como projeto, o Sanear Amazônia foi desenvolvido em comunidades do Médio Juruá, no Amazonas em 2009. A tecnologia social é composta de um kit para captação e distribuição de água potável, banheiro com sanitário e esgoto. “É um programa bastante completo. “Diversas vezes, projetos implementados pelos nossos governantes não são pensados a longo prazo, são ações que ficam reféns de uma determinada gestão, que, após encerrada leva consigo seus benefícios”, disse Joaquim Belo.

São dois sistemas de captação de água, o “Sistema de Acesso à Água Pluvial Multiuso Comunitário” e o “Sistema de Acesso à Água Pluvial Multiuso Autônomo”. No comunitário é captada água da chuva, de poços e dos rios que são tratadas no interior da tecnologia e se tornam potáveis. No sistema autônomo a captação é feita apenas da água das chuvas. Em comunidades com cinco a seis famílias é implementado o sistema comunitário, em um número maior é utilizado o sistema autônomo.

“Em comunidades muito distantes ou nós nos dispomos a fazer, ou nunca será feito. E não é um sistema caro, especialmente se analisarmos os benefícios que proporcionam nas comunidades, pois os impactos gerados refletem na saúde e na produção dessas populações”, acrescentou o presidente.

Ricardo Bernardes, professor da UNB presente no evento, foi um dos principais responsáveis pela elaboração do projeto. “O Sanear começou com uma demanda dos comunitários, fizeram uma plano na reserva do médio Juruá e esse pedido surgiu por parte dos moradores. Fizemos os primeiros diagnósticos e conseguimos recursos da Petrobras para começar a pensar a tecnologia”, contou o pesquisador.

Ricardo relata que o médico sanitarista Oswaldo Cruz passou por algumas comunidades na amazônia e apontou a questão sanitária como um grave problema. “Essa questão apontada pelo médico em 1913 não tinha uma expectativa de solução até 2007. Então nos questionamos se seria necessário mais cem anos pra que algo fossem feito por essas pessoas”, questionou.

Os banheiros são muito solicitados pelas mulheres, conforme Ricardo. “Muitas nunca tinham experimentado usar um banheiro com privacidade. As pias para cozinha também são muito comemoradas. As mulheres precisavam fazer várias viagens, carregando grandes vasilhames de água para as atividades domésticas”, explicou.

De acordo com ele, as longas distâncias que as mulheres percorrem para coletar a água e o esforço para carregar os reservatórios, também causavam problemas de saúde. “Eram recorrentes as dores na coluna, então até essa questão que nem esperávamos, teve desdobramentos positivos”

Na comunidade Boa Esperança no município de Curralinho (PA), nasceu Letícia de Moraes, extrativista e supervisora do Memorial Chico Mendes no Pará.

“Na comunidade de onde venho, as tarefas de manuseio da água são, em sua maioria, feitas pelas mulheres.  A melhoria da qualidade de vida foi muito grande, de tempos em tempos nós perdíamos entes queridos para doenças advindas das parasitoses. Então o Sanear veio dar ‘aquele gás’ que a comunidade precisava pra fortalecer a organização, porque muitas famílias estavam desacreditadas em melhorias das condições de vida através de políticas públicas. Com o programa nós nos fortalecemos por meio da participação social. Se ampliou o entendimento de que através da organização comunitária mais projetos poderiam chegar até a comunidade e melhorar a vida de todos”, comentou Letícia.

Em Boa Esperança, se produz açaí, farinha, há projetos de piscicultura, cacau, cupuaçu, abacaxi, banana, mandioca, macaxeira e outros produtos e, de acordo com Letícia, o acesso à agua facilitou as atividades de produção.

Ela relata que os sanitários eram a céu aberto  e a chegada do Sanear foi uma inovação positiva para a comunidade Boa Esperança. “Nós, que recebemos o Sanear, queremos que todas as populações extrativistas também recebam, porque sabemos a importância do programa e das melhorias que proporciona. O saneamento ainda é um direito que é negado aos extrativistase e nós também somos cidadãos de direitos. Não recebemos o programa Sanear, recebemos saúde. As pessoas quando recebiam os banheiros, as caixas, fossas e captação de água, começaram construir melhorias em suas casa e até mesmo o movimento das mulheres se fortaleceu” comemorou, a extrativista.

No fim do evento, lideranças comemoram os avanços conquistados através do Sanear Amazônia / Foto: Maysa Leão

Sanear Amazônia premiado

O programa ficou em primeiro lugar no Prêmio Fundação Banco do Brasil de Tecnologia Social, na categoria Comunidades Tradicionais, Agricultores Familiares e Assentados da Reforma Agrária em 2015, onde concorreu com outras 154 práticas em seis categorias. O programa é parte de uma parceria entre o Ministério do Desenvolvimento Social (MDS) e o Memorial Chico Mendes.

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Foto: Maysa Leão

 

Robson Costa – Associação dos Moradores da Reserva Extrativista MApuá – AMOREMA / Foto: Maysa Leão

 

Ivanildo Brilhante, membro do CNS / Foto: Maysa Leão

 

Fábia, Beto e Elisângela representantes da Associação de Mulheres do Baixo Cajarí – AMBAC / Foto: Maysa Leão

 

Clodoaldo Pontes, Joaquim Belo, Nazaré Pereira, Letícia de Morais e Dione Torquato / Foto: Maysa Leão

 

Ângela Mendes, a cantora Nazaré Pereira e Maria José Weiss / Foto: Maysa Leão

 

Luis Tenório, Dione Torquato e Paulo Rocha / Foto: Maysa Leão

Por: Maysa Leão