Manaus – Dona Dijé foi uma das mulheres que fundou o Movimento Interestadual das Quebradeiras de Coco Babaçu, formado pelas extrativistas do Maranhão, Tocantins, Pará e Piauí. Ela lutou, ao lado de outras lideranças, pela regulamentação do Conselho Nacional de Povos e Comunidades Tradicionais, que representa mais de cinco milhões de brasileiros, entre indígenas, quilombolas, seringueiros, extrativistas e outros. Com discurso suave e firme, formado nas experiências duras que viveu desde a infância, ela construiu uma liderança acolhedora e forte.
“Queremos nosso território livre para nascer, viver, germinar, parir e morrer”, dizia a ativista que já na década de 70, iniciou a luta também pela sobrevivência de sua comunidade. Em 1979 sua casa foi incendiada pela polícia, a mando da Justiça e de fazendeiros, ela e sua família tiveram que ir morar no meio da floresta. “Não foi apenas a opressão, foi a humilhação. Nós até ouvimos um fazendeiro dizer que cem pessoas negras (não) valem uma única vaca. Nós estávamos lá resistindo porque a pior coisa que nos aconteceria seria sermos enviados para as margens da cidade. Nós não estaríamos em lugar algum. Então enfrentamos muita opressão, enfrentamos muita humilhação, mas ficamos lá porque sabíamos que, se não, seria ainda pior. E ouvir o fazendeiro dizer isso significa para nós que o negócio da pecuária é muito mais valorizado que a vida humana”, relatou, em entrevista ao “Huffington Post”, em 2016.
O Presidente do Conselho Nacional das Populações Extrativistas, Joaquim Belo comenta trajetória da companheira de luta e lamenta sua partida. “Mãe Dijé, sua passagem neste plano reforça que mesmo sendo dura a luta, não podemos perder a ternura. Sua leveza, ponderação, sabedoria e perseverança te fizeram estar acordada para ver mais uma das nossas grandes conquistas. Depois, foste descansar no leito da terra que tanto defendeste. Foi uma honra ter caminhado com você”. Disse.
Nosso mundo necessita de mais “Donas Dijés” e não há outro caminho para emancipar a humanidade de todas as mazelas sociais, de todas as crueldades que caem sobre as minorias, que não a luta diária de homens e mulheres pelos direitos dos povos tradicionais. Fica a história, o aprendizado e o exemplo de quem sempre lutou pelos direitos das mulheres, dos quilombolas, dos indígenas e cujos ensinamentos permanecem e norteiam os que seguem se empenhando pela liberdade dos povos e por um país mais igualitário.
Levantaremos você como nosso estandarte, bem alto, bem visível para dizer: Dona Dijé sempre presente na luta.
Conselho Nacional das Populações Extrativistas – CNS
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