Nos dias 12 e 13 de dezembro, o Coletivo do Pirarucu realizou sua 12ª reunião, um encontro que reafirmou seu papel central na articulação de práticas sustentáveis e inclusivas para o manejo do pirarucu no Amazonas. Reunindo manejadores, manejadoras, técnicos, pesquisadores, representantes de instituições governamentais e comunitárias, o evento se destacou como um espaço de aprendizado mútuo, troca de experiências e planejamento estratégico.
“Durante a reunião do Coletivo, debatemos diversos temas, mas um dos focos principais foi entender o cenário da pesca diante da seca extrema deste ano. Acho que esse foi um dos pontos mais fortes do encontro: compreender quem conseguiu pescar, como foi o processo, se as cotas foram alcançadas ou não, e os motivos que levaram algumas pessoas a não conseguirem pescar”, explicou Jéssica Souza, integrante do grupo de trabalho de governança do coletivo.
O Coletivo do Pirarucu é uma união estratégica que fortlece e valoriza o manejo sustentável desse recurso essencial para a biodiversidade e a economia das comunidades amazônicas. As organizações comunitárias contam com apoio social e técnico de diversos parceiros sociais, órgãos governamentais, trabalhando juntos pela futuro do manejo do pirarucu.
O presidente do Memorial Chico Mendes, Adevaldo Dias, destacou que a própria criação do Coletivo do Pirarucu representa um espaço democrático construído pelos manejadores e pelas instituições envolvidas.
“As reuniões periódicas são momentos essenciais para fortalecer essa luta em prol do fortalecimento contínuo da cadeia do Pirarucu Sustentável da Amazônia. Um dos temas que ganhou destaque nesta edição foi a importância da equidade de gênero e da juventude no manejo. O coletivo reforçou a relevância do papel das mulheres e dos jovens nesse processo, promovendo visibilidade e reconhecimento às suas contribuições”, explicou.
Neste ano, a reunião foi marcada pelo debate sobre a inclusão de mulheres nas atividades de manejo. Durante o encontro, foram compartilhadas experiências de mulheres no trabalho de manejo, além da promoção de debates sobre o empoderamento feminino e a importância do papel da mulher na cadeia produtiva.
Iza Mura, liderança do povo Mura da aldeia do Jamari e base no Coletivo, destacou a importância da união e da participação feminina.
“Enquanto mulheres indígenas, mulheres manejadoras e mulheres empoderadas, buscamos melhorias para as nossas comunidades e territórios, seja na proteção territorial, no monitoramento ou na economia local. O Coletivo de Pirarucu faz uma grande diferença nas nossas vidas porque nos possibilita conhecer as instituições que podem nos apoiar. É um momento de construção, de troca de experiências, de compartilhamento de conhecimentos, que nos renova a cada encontro”, compartilhou.
Reinvindicações e avanços
O evento contou com a participação de representantes do Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA), de Brasília, que tiraram dúvidas e atualizaram o grupo sobre ajustes nas políticas públicas.
Foram compartilhadas notícias boas e ruins, como o corte significativo no orçamento para o Pagamento da Política de Garantia do Preço Mínimo (PGPM-Bio), destinado a complementar o valor das vendas dos extrativistas quando o produto é comercializado abaixo do preço de mercado. “Recebemos com muito pesar a notícia de que, dos 9 milhões necessários, apenas 1 milhão estará disponível”, lamentou Adevaldo Dias.
Ele destacou ainda que o grupo irá elaborar uma carta com urgência para formalizar a incidência sobre essa questão, reforçando a necessidade de recursos adequados para garantir a sustentabilidade e o fortalecimento das comunidades manejadoras.
Apesar da limitação orçamentária, Adevaldo reconheceu a adequação da política às necessidades do manejo do pirarucu, especialmente com a previsão de um pagamento adicional direto a cada manejador, independentemente do valor da venda. “Essa é uma reivindicação antiga nossa, e esperamos que seja anunciada oficialmente nos próximos encontros”, acrescentou.
Memorial Chico Mendes
O Memorial Chico Mendes, fundado em 1996 pelo CNS (Conselho Nacional das Populações Extrativistas), é uma organização sem fins lucrativos dedicada à preservação do legado do ativista ambiental Chico Mendes e à promoção de projetos sociais e ambientais na Amazônia. Através de diversas iniciativas, buscamos contribuir para o desenvolvimento sustentável e a melhoria da qualidade de vida das comunidades extrativistas.
Comentários
Nenhum comentário | Deixe um comentário »