De 31 de janeiro a 2 de fevereiro, foi realizado o 2º Encontro da Cadeia Produtiva de Oleaginosas do Médio Juruá na base de apoio da RDS Uacari, na comunidade do Bauana, em Carauari-AM. O evento, que reuniu instituições parceiras e extrativistas de mais de 30 comunidades do Médio Juruá, teve como principal objetivo discutir e planejar as ações estratégicas para 2025, relacionadas à cadeia produtiva das manteigas e óleos vegetais, com o intuito de manter a conservação territorial e suas práticas sustentáveis, ao mesmo tempo em que proporciona uma renda justa e melhora a qualidade de vida das famílias extrativistas, fortalecendo os arranjos organizacionais comunitários.
O encontro foi realizado sobre a coordenação do Memorial Chico Mendes, por meio da iniciativa Floresta Conservada e Produtiva, e das instituições de base Associação dos Moradores Agroextrativistas da Reserva de Desenvolvimento Sustentável Uacari (Amaru) e Cooperativa Mista de Desenvolvimento Sustentável e Economia Solidária do Médio Juruá (CODAEMJ).
“O objetivo foi traçar estratégias para fortalecer essa cadeia tão importante e marcante em nosso território. Aqui, conversamos com extrativistas e parceiros para definir ações que possibilitem uma melhor safra em 2025, garantindo sementes de qualidade. Dessa forma, os coletores da região terão acesso a mais um produto da sociobiodiversidade, criando uma fonte de renda e promovendo melhorias para a comunidade”, declarou Stéfanie Sena, Analista de Projetos Ambientais, responsável pelo projeto no Memorial Chico Mendes.
Durante o primeiro dia de encontro, as associações envolvidas na cadeia, realizaram prestação de contas e apresentaram tudo o que foi desenvolvido ao longo de 2024. Também foi uma oportunidade para as Instituições compartilharem como investiram no fortalecimento dessas cadeias.
“É muito importante estarmos aqui, pois estamos aprendendo muitas coisas que nem imaginávamos. Este ano, trouxe meu filho pela primeira vez. Aos sábados, levo ele para a coleta, para que ele já vá se acostumando. Ele já vai aprendendo sobre a nossa forma de sustento. Vamos passando esse conhecimento de pais para filhos”, explicou Maria Gracinete, moradora da comunidade Imperatriz e coletora de andiroba e murumuru.
No segundo dia, foram abordadas as fortalezas e oportunidades desse movimento de fortalecimento da cadeia de oleaginosas no território, por meio de atividades em grupo com os participantes. Também foram organizadas, de forma coletiva entre extrativistas e Instituições parceiras, linhas de ação que visam superar os desafios ainda presentes nessa cadeia.
Ao final do encontro, os participantes receberam um treinamento sobre práticas de segurança no trabalho, abordando os riscos e as formas de proteção durante a coleta de sementes, e obtiveram certificados de participação.
“Está sendo muito produtivo, com uma troca de conhecimento excelente. É um aprendizado que levamos para dentro da comunidade, para que possamos exercer o trabalho de forma correta e bem elaborada. Essa é uma experiência boa, embora difícil, mas é boa porque, muitas vezes, não temos o que fazer, e, dentro da floresta, fazendo a coleta, a gente se diverte. É uma forma de diversão”, declarou Maria, de 16 anos, coletora e moradora da comunidade São Raimundo.
O Encontro também contou com o apoio de parceiros como a Associação do Povo Deni do Rio Xerua (ASPODEX), a Associação dos Produtores Rurais de Carauari (ASPROC), Programa Território Médio Juruá (PTMJ) , o Conselho Nacional das Populações Extrativistas (CNS), a Fundação Amazônia Sustentável (FAS), o Fundo Médio Juruá, o Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), o Instituto Juruá, a NATURA, a Operação Amazônia Nativa (OPAN), a Rainforest Foundation Noruega (RFN) e a Secretaria de Estado do Meio Ambiente (SEMA).
Entrega de Subvenção
Também no último dia do encontro, foi realizada a entrega da Subvenção Federal (PGPM) para os coletores de andiroba associados à Amaru e Codaemj. A entrega representa um grande marco, tendo em vista que é a primeira vez que os coletores de sementes acessam esse direito na região.
“Participei do evento, gostei muito e recebi a subvenção, que é algo muito importante para a nossa renda e para a nossa família”, declarou Antônio Freitas, extrativista da comunidade Santo Antônio.
A Política de Garantia de Preços Mínimos (PGPM) é uma política do Governo Federal que estabelece um preço mínimo para os produtos agrícolas. O objetivo é garantir uma renda mínima para os produtores rurais, evitando grandes oscilações de preços.
“A importância da subvenção é que ela agrega mais valor para o extrativista. O governo entende a subvenção como um pagamento ambiental, pois trata-se de uma geração de renda em que ele extrai da natureza, mas mantém a natureza preservada. Dessa forma, ele consegue garantir seu sustento, enquanto preserva o meio ambiente e agrega valor à geração de renda para a sua família”, explicou Francisco Sollivan, presidente da Amaru.
A Andiroba, foi paga no valor de R$ 2,37. Com a diferença em relação ao preço praticado pela cooperativa, o governo está pagando a diferença de um real e trinta e três centavos por cada quilo. Esse valor é multiplicado pela quantidade de quilos que cada um produziu.
A Cadeia e avanços
A região do Médio Juruá tem abundância de espécies como andiroba (Carapa guianensis), a ucuuba (Virola surinamensis) e o murumuru (Astrocaryum murumuru). Há mais de 20 anos, os extrativistas locais manejam sementes dessas espécies e transformam as, por meio do beneficiamento industrial, em óleos e manteigas para atender demandas do mercado nacional de cosméticos, como a Natura.
No último ano, muitas ações foram realizadas e tiveram impacto na melhoria da cadeia. Foi implementada a utilização de secadores nas comunidades para melhorar a qualidade das sementes e otimizar o processo de secagem, resultando no pagamento imediato pela compra de 71.661,6 Kg de sementes de murumuru e andiroba, gerando cerca de R$ 120 mil de receita na safra de 2024. Ao todo, 77 comunidades foram impactadas, beneficiando diretamente 1.377 pessoas, incluindo 428 coletores extrativistas com acesso a subvenções.
A agroindústria de óleos vegetais recebeu licenciamento ambiental e alvará de funcionamento, com a padronização de medidas de segurança e implantação de infraestrutura, como construção de muro, adequação da chaminé, layout da usina e instalação de painel solar, além da aquisição de equipamentos para eficiência produtiva, como medidor de umidade e temperatura.
Floresta Conservada e Produtiva
“Floresta Conservada e Produtiva” é uma iniciativa de cooperação entre a Rainforest Foundation Noruega (RFN), o Conselho Nacional das Populações Extrativistas (CNS) e o Memorial Chico Mendes (MCM). O principal objetivo é promover a qualidade de vida das comunidades locais na Amazônia Brasileira, por meio da gestão sustentável de recursos e da defesa dos direitos dessas populações, em áreas protegidas.
A proposta foca em beneficiar diversos grupos, como jovens estudantes, lideranças comunitárias, extrativistas, e gestores de instituições associativas e cooperativas de produtores nos estados do Amazonas e Amapá.
Dentre as principais atividades, destacam-se o manejo sustentável de recursos como andiroba, murumuru e açaí, além da produção de borracha e farinha. As ações são realizadas em localidades específicas, incluindo a RESEX Médio Juruá e a RDS Uacari, e abrangem iniciativas para a proteção de defensores ambientais em áreas como a Resex Chico Mendes (Acre) e outras unidades de conservação.
Memorial Chico Mendes
O Memorial Chico Mendes, fundado em 1996 pelo CNS (Conselho Nacional das Populações Extrativistas), é uma organização sem fins lucrativos dedicada à preservação do legado do ativista ambiental Chico Mendes e à promoção de projetos sociais e ambientais na Amazônia. Através de diversas iniciativas, buscamos contribuir para o desenvolvimento sustentável e a melhoria da qualidade de vida das comunidades extrativistas.
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