Reunidas para participar do Chamado da Floresta, mulheres marcaram presença no encontro realizado na Comunidade São Pedro, em Santarém, com objetivo de apresentar e buscar soluções para suas demandas, consolidando na agenda política do Estado a garantia de direitos para populações extrativistas de todo País. Educação, saúde, planos de manejo e representação social foram alguns dos temas debatidos durante dois dias de diálogo em plena floresta amazônica.
Em sua terceira edição, a presença de mulheres no Chamado da Floresta tem aumentado significativamente. Esse crescimento reflete a percepção de “comunidade” das populações extrativistas do País. Desde atividades produtivas a liderança política, as mulheres sempre desempenharam funções fundamentais na construção e organização social, econômica e política das unidades de uso coletivo.
Dentre as reivindicações, algumas questões permearam as conversas de forma transversal, tais como o fim da violência contra os povos da floresta, formulação de uma educação que considere o contexto ambiental, geográfico e político e garantia de participação nos conselhos deliberativos para gestão das reservas extrativistas. A partir do tema “Juventude, floresta preservada é vida continuada”, as mulheres jovens puderam expor suas necessidades para continuidade dessa vida. Em se tratando de saúde e educação, são elas que mais tem problemas a serem sanados. Nas propostas apresentadas constam, por exemplo, construção de creches e pré-escolas nas comunidades e aumento da quantidade de “ambulanchas” (unidades de pronto-atendimento adaptadas em lanchas) e postos de saúde que ofereçam atendimento ginecológico e exames preventivos, como a mamografia.
O movimento social esteve presente fortalecendo as pautas das mulheres do campo, da floresta e das águas por meio de representantes da Confederação Nacional de Trabalhadores Rurais (Contag), em parceria com diversas entidades como a Marcha Mundial das Mulheres, Articulação de Mulheres Brasileiras (AMB), Movimento Articulado de Mulheres da Amazônia (Mama), Movimento Interestadual de Mulheres Quebradeiras de Coco Babaçu, União Brasileira de Mulheres, além da vice-presidente do Conselho Nacional das Populações Extrativistas – CNS, Edel Moraes, que coordenou e apresentou o encontro. Essas mulheres apresentaram também reivindicações que são resultados da Marcha das Margaridas, que acontece anualmente em Brasília: garantia permanente a alimentos de qualidade e em quantidade suficiente, sem comprometer outras necessidades essenciais; acesso à terra e valorização da agroecologia, uma educação que não discrimine as mulheres, o fim da violência sexista, , a ser ou não ser mãe com segurança e respeito; autonomia econômica, trabalho, renda, democracia e participação política.
Contudo, não foram apenas as mulheres extrativistas que protagonizaram as discussões no Chamado da Floresta. Por se tratar de um espaço dedicado ao diálogo entre movimento social extrativista e governo, a participação de secretárias-executivas dos Ministérios da Saúde, da Educação, do Desenvolvimento Agrário e do Meio Ambiente, prefeitas de municípios da região amazônica e da ministra do Desenvolvimento Social e Combate à Fome Tereza Campello consolidou a presença feminina frente a debates que avaliam e propõem medidas e políticas para uma população historicamente desatendida pelo poder público.
Alguns ganhos das mulheres extrativistas foram mencionados, como o Mês da Saúde da Trabalhadora do Campo, que passa a integrar o calendário oficial do Sistema único de Saúde (SUS). São 30 dias dedicados a monitorar e intensificar as ações de atenção integral à saúde feminina por meio de mobilização nacional. Neste ano, acontece em novembro, quando os postos de saúde se organizam para acolhê-las, de forma prioritária, ofertando consultas clinico-ginecológicas e exames preventivos, como papanicolau e mamografia, reforçando, assim, o cuidado ao câncer, especialmente de mama e colo.
Embarcando no “Amazônia de Deus”, que ainda enfrentaria três dias de viagem pelos rios amazônicos até Manaus, a extrativista Maria Raimunda Leão relatou sua experiência em mais um Chamado da Floresta: “Achei bonito ver tantas mulheres participando, mas ainda é pouco. Nos chamados anteriores o número de mulheres era visivelmente menor e eu me perguntei ‘cadê as companheiras?’ A partir daí comecei a mobilizar na minha comunidade, porque a gente sabe falar, a gente sabe o que quer. Nossos maridos conhecem os problemas que enfrentamos nas reservas, mas eles nunca vão entender que existem situações que só nós podemos falar por nós mesmas. Mulher não é só pra cuidar da família. A gente está aqui pra construir também”.
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